Empresa demite trabalhadores na UFABC

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SOLIDARIEDADE – Alunas e alunos da UFABC promovem a solidariedade entre trabalhadores e estudantes. (Foto: Jornal A Verdade)
Larissa Mayumi

SANTO ANDRÉ (SP) – A Salutar, empresa que atualmente possui a licitação do contrato do Restaurante Universitário (RU) da UFABC, demitiu mais de 50 trabalhadores terceirizados em meio à pandemia, deixando dezenas de famílias desamparadas. Com exceção de trabalhadoras grávidas ou com outro tipo de licença, que por isso não poderiam ser mandados embora, a empresa demitiu todos os funcionários ligados à operação do restaurante, mesmo sem a universidade ter rompido o contrato com a empresa.

Além de deixar esses trabalhadores sem fonte de renda durante a pandemia, a empresa não pagou os direitos dos trabalhadores demitidos. Se acumulam salários atrasados, multa de rescisão do contrato e pagamento proporcional de férias e décimo-terceiro.

A última promessa que a Salutar fez foi a de realizar o pagamento parcelado em três vezes, com a primeira parcela prometida para o dia 10 de junho. Passado um mês do prazo estipulado, os funcionários demitidos não receberam nem um centavo.

O DCE da UFABC, junto com o Movimento de Mulheres Olga Benario e o Movimento Luta de Classes (MLC), foi conversar com os trabalhadores demitidos pela empresa:

“Em relação à empresa Salutar Alimentação, dizem que ela caiu de paraquedas aqui no ABC e contratou um monte de gente (no meu caso, estava na experiência). Se não conseguia sustentar os que já estavam lá, imagina os que ela estava contratando, né? Isso [as demissões em massa e o atraso de pagamentos] não aconteceu só por causa da pandemia. Eles aproveitaram esse circo aí da pandemia e rescindiram o contrato com a faculdade, voltaram para o local de onde vieram, mandaram a gente embora e até agora a gente não recebeu” (relato de um dos funcionários demitidos pela empresa Salutar).

SOLIDARIEDADE – Trabalhadores e estudantes unidos contra as demissões. (Foto: Jornal A Verdade)

Mesmo antes da paralisação das atividades da universidade, a empresa Salutar já mostrava descaso com a vida de seus trabalhadores, atrasando frequentemente o pagamento dos salários. Agora, durante a crise que vivemos, quando está ainda mais difícil encontrar outro emprego, aqueles que dependem dos seus salários para sobreviver, não têm sequer os direitos garantidos.

“Deixaram todos nós na mão, com filhos pequenos, muitos pagam aluguel, outros com filhos recém-nascidos, muitos estavam ainda no período de experiência, com pouco dinheiro para receber da empresa e eles parcelaram em três vezes pra pagar todos os que já tinham tempo de casa e também os que não tinham. Muitos iriam receber uma mixaria nessas três parcelas, mas iriam receber. Só que a empresa, desde o dia 10 de junho vem enrolando, jogando para outro dia, depois outro dia, depois outro dia. E nós ficamos aqui de mãos atadas tentando correr atrás do nosso direito!” (relato de um funcionário).

Os trabalhadores, indignados, estão lutando pelo que é seu, fruto de seu trabalho e denunciam ao jornal A Verdade porque têm consciência de que não é apenas a empresa Salutar que não se importa com a vida dos trabalhadores, corta seus direitos e atrasa seus salários.

Os trabalhadores entendem também que, com o grande exército de reserva formado por milhões de desempregados, ocorre a desvalorização do trabalho, fazendo com que as pessoas aceitem trabalhos precarizados e com salários baixos.

“É o caso dos que estavam em experiência. No primeiro dia viram que muitos funcionários já estavam com os salários atrasados, mas ficaram na empresa mesmo assim porque estavam desempregados, estavam necessitados do dinheiro. É a condição de muitos brasileiros que, mesmo com a condição da empresa ser ruim, fica no trabalho na esperança de que a empresa venha a melhorar e também porque estava desempregado, necessitado daquele dinheiro”.

Os relatos reafirmam o que acontece dentro da sociedade capitalista: os patrões só se preocupam com seu próprio lucro e não com os trabalhadores. Em tempos de crise, como a que estamos vivendo, que são fruto da desorganização do sistema de produção capitalista, pouco importa a vida dos trabalhadores que constroem diariamente a empresa e que são explorados para que seus patrões enriqueçam.

“Mesmo precisando do dinheiro, não recebemos nem quando estávamos lá trabalhando e muito menos agora que não estamos mais indo pra empresa exercer aquela função de quando tínhamos sido contratados. Deixaram a gente na mão. Tentamos ligar pra quem estava ali no comando, quem dizia ser associado, e hoje todos esses que estavam ali pra nos dar um suporte, muitas vezes fizeram parte do contrato, não estão mais aí. A gente manda mensagem, respondem que estão esperando pela empresa, estão esperando depositar, ‘a gente avisa’… e estamos aqui até hoje, 8 de julho! Parcelado em três vezes? Dias 10/06, 10/07, 10/08? Até agora não vimos a cor do dinheiro. Muitos até receberam ameaça de que seriam despejados, o que a gente fala pro proprietário da casa onde a gente mora? O que a gente fala pro dono da casa? Nosso filho chorando dentro de casa, o que a gente vai fazer?” (relato de um funcionário).

As entidades estudantis da UFABC, junto com movimentos sociais, têm se organizado para prestar solidariedade a essas famílias numa campanha de arrecadação de alimentos e produtos de higiene.

“Graças a Deus tem um pessoal aí do DCE que tem ajudado a gente, tem doado as cestas, tentando dar um auxílio maior pra todos nós. A única coisa boa que aconteceu foi isso. Contamos aí com a força de todos pra compartilhar, pra nos ajudar. Porque estamos passando por um tempo difícil e creio que não somos só nós, trabalhadores da Salutar, que estamos passando por isso, não. Muitas vezes nós ficamos em silêncio, por isso que os empresários lucram nas nossas costas, porque muitas vezes ficamos em silêncio, mas essas coisas têm que ser escancaradas. Como por exemplo, essa empresa Salutar, agora, está em outro estado trabalhando normalmente e nós aqui sem receber nosso dinheiro”.

A grande maioria do povo é explorado, tem que vender sua força de trabalho diariamente e tem seus direitos negados. Só a união e a organização da classe, de trabalhadores e trabalhadoras, é que vai garantir a luta por uma nova sociedade onde não haja mais classes e exploração.