Redação Rio Grande do Norte
Jornal A Verdade
NATAL (RN) – O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) organiza a luta por moradia no Rio Grande do Norte desde 2004, quando realizou sua primeira ocupação, chamada Leningrado. Desde então, foram mais de dez ocupações realizadas pelo movimento, com milhares de potiguares que foram mobilizados e mais de 2.000 habitações conquistadas.
É impossível falar da história do povo pobre potiguar sem falar do MLB. Em dezembro de 2018, enquanto muitos movimentos estavam recuados depois da eleição do fascista Bolsonaro, o MLB decide dar início à Ocupação Pedro Melo, localizada na Ribeira, bairro da região central de Natal, ocupando um albergue abandonado da Prefeitura e transformando-o em moradia para 20 famílias. A ocupação também transformou a vida daqueles que a constroem. Lucineide, mais conhecida como Neidinha, cuida sozinha dos seus dois filhos, Ana Rute e Lucas, é revendedora de cosméticos e é uma das coordenadoras da ocupação, e conta como começou a participar do movimento e se tornou coordenadora:
“Eu já tinha ouvido falar do MLB, conheci a Ocupação Padre Sabino, que ficava nas Rocas. Lá eu conheci a luta das mulheres e dos homens do MLB. Depois eu soube que ia ter essa nova ocupação. A gente ocupou aqui esse prédio em dezembro, passei a noite todinha com as companheiras limpando tudo, tiramos dez sacos cheios de sujeira. Esse prédio tava desocupado fazia oito anos e fazer dele um lugar habitável para as famílias. Depois dessa noite, eu fui eleita coordenadora da ocupação em sua primeira assembleia”. As ocupações do MLB são construídas de forma coletiva, cada tarefa é debatida entre os moradores e cada decisão é tomada em conjunto, um exemplo prático do poder popular. Neidinha conta também como funciona a ocupação: “O cotidiano da gente na ocupação é corrido, cada família tem os seus direitos e deveres. A gente participa das atividades e toda quarta-feira a gente faz nossa assembleia pra debater os assuntos e as tarefas, aqui ninguém fica parado”.
A Pandemia e a Luta por Sobrevivência
A pandemia do novo coronavírus dificultou ainda mais a vida daqueles que já batalhavam diariamente para conseguir sobreviver. Assim como milhões de brasileiros, a maior parte dos moradores da ocupação são desempregados e dependem dos chamados “bicos” para conseguir sobreviver. Com o lema “Só o povo salva o povo”, o movimento decidiu construir uma rede de solidariedade, fazendo a ligação entre quem pode doar e quem precisa de ajuda. Nos últimos meses, foram mais de 159 famílias que receberam a ajuda com as doações da rede.
Uma delas foi a família da companheira Cristiane, mãe de duas meninas e dona de casa, que contou como foi sua experiência com a rede de solidariedade: “Eu recebo Bolsa Família, o auxílio me ajudou, mas não resolve os problemas que eu tenho. Eu recebi a ajuda do MLB, a rede de solidariedade me ajudou muito e ajudou as outras famílias que eu conheço também”. O Centro é sempre negado ao povo pobre. É muito comum ver as habitações populares serem entregues em bairros distantes. Quando questionada sobre sua experiência na Ribeira, Cristiane comenta: “Eu gosto muito de morar na Ribeira. É perto do Centro e perto de muita coisa que eu preciso. Daqui eu não queria sair não”.
A crise tem deixado a realidade da desigualdade social ainda mais clara. Enquanto a principal recomendação é ficar em casa, só em Natal, 60 mil famílias não têm acesso à moradia digna. São milhares de pessoas que vivem aglomeradas em barracos, em casas de aluguéis lotadas e, na maioria das vezes, sem acesso a saneamento básico. Enquanto isso, o Governo Bolsonaro segue atacando os direitos do povo pobre, negando-se a investir em projetos como o “Minha Casa Minha Vida”. Por isso, a luta do MLB não parou durante a pandemia.
Terciana Bezerra é coordenadora estadual do MLB, trabalha como manicure. Ela e seus dois filhos moram na Ocupação Pedro Melo. Comentou sobre a luta contra o Governo Bolsonaro: “A luta do MLB contra esse governo tem sido muito grande. Esse Governo do Bolsonaro tem feito muitos ataques que atingem a gente que é pobre. A gente que mora em favelas é a mais atingida por esse vírus, e muitas famílias não têm conseguido o auxílio do Governo, dependem de projetos como a rede de solidariedade. Por isso o MLB em Natal tem sido linha de frente na luta. A gente participa de todas as manifestações, sempre batendo de frente contra esse desgoverno do Bolsonaro”.
Antes da pandemia, o movimento estava organizando núcleos pela cidade, debatendo a luta com quem mora de aluguel ou não tem casa. Terciana e vários moradores da Ocupação Pedro Melo participaram do processo. Terciana contou um pouco dos próximos passos do movimento: “A nossa ocupação ajuda a organizar alguns núcleos espalhados pela cidade. Estávamos reunindo pra construir uma nova ocupação. Com essa pandemia, a gente teve que adiar pra priorizar a vida mesmo. Mas a gente sabe que muitas famílias tão sofrendo ainda mais agora, sendo ameaçadas de despejo e muitas ainda sem casa. Por isso, decidimos que vamos dar continuidade com as reuniões, organizando novas famílias e fazendo os cadastros, pra que a nova ocupação venha a acontecer ainda neste ano”.
Enfrentando a pandemia, a falta de assistência e os ataques do Governo Bolsonaro, o povo segue se organizando para poder sobreviver. Nos bairros pobres cresce a solidariedade enquanto os ricos só pensam em lucrar. O Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas continua organizando famílias do Brasil inteiro, apontando que o caminho é a luta organizada e deixando claro que: enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito.