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sexta-feira, 29 de março de 2024

PCD NA POLÍTICA

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Por Edson Victor e Haydée Lara

Brasília – A política é pensada, na democracia burguesa, como um espaço de representação dos povos, ao mesmo tempo que, por muito tempo,  as organizações coletivas trataram, e ainda tratam, as pessoas com deficiência  (PCD) como incapazes de representarem a si mesmas nos espaços de decisão dentro do governo.

Por muito tempo, outras pessoas decidiram o rumo das lutas da comunidade PCD, e as lutas em nome dos PCDs eram limitadas  em propor políticas assistencialistas, isto é, políticas que não tinham como objetivo reivindicar  meios para que as pessoas com diferentes tipos de deficiências e condições mentais tivessem, de fato, uma real inserção na sociedade e muito menos ter em autonomia na suas lutas, acabando por estarem interessados em incluir,  de forma pontual, uma pequena parcela desse grupo  em espaços e na comunidade para que fosse transmitida a sensação de uma falsa inclusão social .

De fato, ocorreram alguns avanços durante governos progressistas, no que se refere a inclusão social. Criaram-se transportes públicos adaptados, cotas no ensino superior público e algumas outras políticas públicas de inclusão social, porém essas políticas não resolveram a grande maioria dos problemas enfrentados por PCDs e, atualmente, não há uma manutenção prioritária destas políticas. Efetivamente, a falta de pessoas PCDs nos espaços de discussão fez com que grupos de pessoas debatessem essas questões de forma simplista, entendendo o ser “PCD” como um ser universal, como se todos tivessem a mesma deficiência e, com isso, não conseguissem elaborar políticas que contemplassem as especificidades de cada deficiência. Por exemplo, a implementação de ônibus adaptados, infelizmente, é exclusiva para pessoas com dificuldade de locomoção, deixando de fora pessoas com outros tipos de deficiência.

Nesse sentido, é importante salientar que a inclusão de pessoas com deficiência  na política representa um espaço no qual se possa conscientizar as pessoas  sobre as verdadeiras capacidades dos deficientes, conscientizar também  sobre o respeito tão necessário para com essa comunidade e desmistificando a ideia de que nós precisamos a todo o momento de ajuda, de que nós não somos tão capazes quanto pessoas “normais” de viver em sociedade.

Houve um fortalecimento no último período no cooptação das pessoas com deficiência e suas lutas pela direita e pela ideologia liberal. Oportunistas de direita conseguiram ter inserção nos espaços comunitários e ONGs, nas quais existia um auxílio pontual a alguns PCDs, para que pudessem ser incluídos na sociedade, e assim de forma mais direta conseguiram organizá-los e usá-los  para propagarem o slogan meritocrático “basta se esforçar que todos conseguem”, culpabilizando as pessoas com deficiência  por não estarem presentes no senado  e demais espaços de deliberação governamental, assim como em grandes empresas, em cursos de renome no ensino superior, e outros locais  na sociedade, pois aparentemente nós não nos esforçamos o suficiente.

Atualmente, há uma ínfima quantia de PCDs ocupando espaços de liderança no Brasil, reflexo de uma exclusão decorrente da lógica capitalista de produção.

Mas entendemos que não mais será assim, que nossas lutas serão pensadas e travadas. O debate de inclusão social das pessoas com deficiências deve estar associado intrinsicamente ao debate anticapitalista. De fato, o capitalismo surge e se mantém através de opressão e exploração em cima dos corpos e trabalho de uma classe, a classe trabalhadora, e, como as mulheres, os negros e a comunidade LGBTQIA+ sofrem essa opressão e exploração em alguns aspectos específicos, as pessoas com deficiência também sofrem, o “capacitismo” é um exemplo, isto é, entender que são pessoas “normais” as pessoas que não tem nenhuma deficiência ao passo que a pessoa com deficiência  é entendida como uma falha que deve ser “consertada” ou superada, no capitalismo esse “conserto” e essa superação é dada como um eufemismo para o descarte ou exclusão das Pessoas com Deficiência. O sistema capitalista e seus defensores ainda não encontraram meios para explorar o trabalho de pessoas com determinadas deficiências, então nos colocam presos em uma cama ou maca, como nas palavras do grupo de rap Facção Central, na música Castelo Triste:

 “O mundo cultua a idolatria do corpo perfeito

Joga no hospital psiquiátrico humano com defeito

Sem triagem, seleção, diagnostico

Doente mental, físico, auditivo, num depósito.”

Por isso, é importante que nós, pessoas com deficiência, busquemos organização em coletivos que debatam sempre nossas pautas e lutas junto com o debate anticapitalista. Entender esse processo é necessário para podermos nos organizar enquanto classe e assim almejar uma sociedade onde essas opressões sejam superadas de fato, ou seja,  ao contrário do que se faz no sistema capitalista, que seja trabalhada em uma mudança cultural e econômica a possibilitar que os povos tenham sua autonomia garantida, em suma, a sociedade socialista. É preciso que nossa voz seja ouvida, nossos esforços considerados, ocupar espaços também é resistir, a luta pelos nossos direitos deve ser constante.

Edson Victor e Haydée Lara,

militantes do Correnteza DF

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