Entregadores de aplicativo e motoboys realizam manifestação percorrendo a cidade de Mogi das Cruzes (SP) após uma série de roubos de motos e insatisfação com a segurança no trabalho.
Thales Caramante
MOGI DAS CRUZES (SP) – Cerca de 180 entregadores de aplicativos e motoboys da cidade organizaram uma manifestação com buzinaço pela cidade exigindo mais segurança no trabalho.
Entre sábado (26) e domingo (27), entregadores registraram até cinco roubos de motocicletas pela cidade, o que impulsionou uma assembleia da categoria que acabou culminando em uma grande manifestação de ontem (28).
Se apoiando nos recentes movimentos grevistas de entregadores de aplicativos no meio do ano – que também não passou despercebido pela cidade –, a categoria vê em manifestações uma saída para seus principais problemas econômicos.
Semelhante ao movimento nacional dos caminhoneiros em 2018, os entregadores da cidade demonstram certa aversão ao processo eleitoral deste ano, reconhecendo a presença de candidatos na manifestação como uma espécie de oportunismo político.
Cléia Bento do Partido dos Trabalhadores (PT) participou da manifestação em apoio aos motoboys e declarou ao jornal A Verdade que “esse parece ser um movimento espontâneo dos entregadores. Eles não queriam um movimento político, apesar de cerca de trinta motoqueiros serem candidatos a vereador na cidade, alguns ligados ao atual prefeito Marcus Melo (PSDB).”
Os roubos atuais estimam um prejuízo de R$4 mil, preço que os trabalhadores estão pagando sem nenhum auxílio do Estado.
Segundo a Associação de Motoboys de Mogi das Cruzes (SP), a base de trabalhadores cresceu com a pandemia do Covid-19, o que permitiu, para eles, o crescimento gradual de roubo de motos, bicicletas e acessórios na cidade.
Os trabalhadores exigem uma posição mais firme da prefeitura, que até o momento não consegue garantir uma condição segura de trabalho para os entregadores.
A cidade vem de uma certa onda de manifestações, protagonizadas por entregadores de aplicativos, movimentos contra o aumento do pedágio nas avenidas privatizadas pelo Governador João Dória (PSDB) e endossadas pelo prefeito Marcus Melo (PSDB), assim como movimentos contra corrupção e cassação a cinco vereadores presos por lavagem de dinheiro.
Ao que parece, nenhuma dessas manifestações parece ter uma polícia clara, contando com a participação tanto de elementos de direita quanto de esquerda que disputam os espaços e a consciência do povo através da luta política pela principal pauta ou agenda do que se deve fazer.
Esse cenário revela uma tendência de organização espontânea dos trabalhadores a partir de exemplos que foram assimilados por eles recentemente.
O Movimento Político é Necessário
Segundo Vladimir Lênin, revolucionário russo, o movimento espontâneo é uma decorrência direta da perda de fé dos trabalhadores na “inamovibilidade do regime que os oprimia. Assim, começavam… não direi a compreender, mas a sentir a necessidade de uma resistência coletiva e rompiam resolutamente com a submissão servil às autoridades. Mas isto, contudo, era mais uma manifestação de desespero e de vingança do que uma luta.”
Sendo uma importante manifestação da capacidade de luta que até então era desconhecida entre os trabalhadores entregadores e motoboys, tanto em Mogi das Cruzes como no país, indícios levam a crer na maior sindicalização da categoria em nome de seus interesses mais imediatos e cotidianos.
Lênin ainda ressalta que esse é o movimento natural de um movimento jovem de trabalhadores, pois “a história de todos os países testemunha que a classe operária, exclusivamente com as suas próprias forças, só é capaz de desenvolver uma consciência sindicalista, quer dizer, a convicção de que é necessário agrupar-se em sindicatos, lutar contra os patrões, exigir do governo estas ou aquelas leis necessárias.”
Porém, para que um movimento possa crescer e ter mais mobilidade e organicidade, é necessário, segundo o revolucionário, superar as demandas puramente econômicas e passar às reivindicações políticas, que ampliam o debate para desde questões do poder, modos de produção, relações de produção etc.
Fazendo um balanço da manifestação, a Unidade Popular Pelo Socialismo (UP) em Mogi das Cruzes endossa as orientações políticas de Lênin e indica, ainda, “que é necessário trabalhar sempre ao lado dos trabalhadores, entregadores e motoboys e buscar, através dessa ligação, avançar a consciência política de todos os que hoje estão sofrendo com a falta de segurança no trabalho, com baixos salários, com condições precárias.”