Gabriel Mutz
MANAUS (AM) – Quando se fala de Manaus, a capital chama atenção por três questões: a questão indígena, da fauna e da flora amazônica e da Zona Franca. Mas, apesar desses importantíssimos tópicos, a esquerda nacional, tanto a liberal quanto a marxista, parecem ignorar a cidade, dando prioridade a outras regiões do Brasil.
Manaus foi uma das principais bases da colonização do Norte do Brasil, abrigando muitos soldados portugueses e indígenas expropriados de sua cultura. Após a independência, a cidade tem seu primeiro fôlego de um ciclo desenvolvimentista com o látex extraído das seringueiras, no que é conhecido como o Ciclo da Borracha, o que rendeu à cidade o apelido de Paris dos Trópicos. Esse desenvolvimentismo foi abruptamente interrompido devido ao furto biológico dos países imperialistas das seringueiras amazônicas para o Leste Asiático, que era vítima da neocolonização destes mesmos países.
Após o Ciclo da Borracha, Manaus foi uma cidade que dependeu quase que exclusivamente da Fibra de Juta, isso até o projeto da Zona Franca de Manaus (ZFM), projetado por Juscelino Kubitschek e aplicado pela Ditadura Militar, que desenvolveu uma industrialização forçada na cidade, assim começando um novo ciclo desenvolvimentista, desta vez, industrial.
A Zona Franca é responsável por grande parte do PIB da Região e emprega direta ou indiretamente um quarto da cidade. Isenções fiscais de todo tipo favorecem grandes empresas para se instalarem no local e transformaram a ZFM num polo de subsídios, envolvendo a economia do Estado do Amazonas em investimentos viciantes e de baixa qualidade.
Muitos estudos mostram que a ZFM é insustentável no longo prazo, devido à crescente dependência de isenções públicas tributárias para garantir poder de concorrência às empresas privadas instaladas. A política de subsídios fiscais se tornou mais onerosa nos últimos anos, gerando uma pressão sobre os pequenos produtores de todo o país e mostrando a incapacidade da Nação brasileira de investir em setores essenciais da economia, como a logística, pois, mesmo após séculos de fundação da cidade, a malha rodoviária está nas piores condições possíveis e a malha ferroviária é inexistente.
O que vemos então é uma crescente desindustrialização da região, destinando-a a ser abandonada novamente, assim como aconteceu com Detroit, nos EUA: de cidade exemplo de industrialização a símbolo da miséria e descaso capitalista.
Manaus é refém do modelo da Zona Franca, não podendo sair desse sistema sem sofrer grandes reveses. Nós, enquanto defensores do proletariado, devemos defender a indústria manauara não do jeito que ela é, mas uma indústria necessária para atender as necessidades e desejos da classe trabalhadora, que não prejudique o meio ambiente e que seja capaz de oferecer novas tecnologias necessárias para o avanço da sociedade.