Coordenação Estadual do Movimento de Mulheres Olga Benario
Jornal A Verdade
SÃO PAULO (SP) – A classe trabalhadora não consegue se sentir bem vivendo sob o capitalismo. Ainda mais se a conjuntura contemplar uma pandemia que mata mais de mil pessoas por dia no Brasil.
Já dizia Marx: “Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência”. No entanto, as condições materiais que determinam a consciência têm sido muito pouco consideradas na análise do nosso sofrimento, seja físico ou mental.
Enquanto assistimos ao aumento da desigualdade social, a precarização das relações de trabalho, a desregulamentação dos mercados, a privatização dos bens públicos e a redução dos investimentos em áreas sociais, como educação, saúde, habitação, benefícios sociais, etc.; acompanhamos também o descaso com a saúde pública, os assassinatos dos negros nas periferias, a falta de empregos e o consequente aumento da miséria do povo. É de passar mal mesmo. O capitalismo não só adoece as pessoas como as mata.
Entretanto, a responsabilidade sempre é individualizada: cada um deve cuidar de sua saúde, portanto, cuidar de sua casa, alimentação, manter boa higiene, fazer exercícios físicos, não correr riscos. Pouco se discute o fato de o governo não ter gasto um real com habitação em todo o ano de 2019, 0,02% de seu orçamento com saneamento básico e 0,03% com direitos da cidadania. Pouco se discute o repasse de míseros 4,21% para a saúde, enquanto foi pago mais de R$ 1 trilhão para a dívida pública (38,27%, segundo a Auditoria Cidadã da Dívida Pública). Com milhões de pessoas sem casa, como ser grato?
A sociedade diz que devemos trabalhar mais, nos esforçar mais, fazer mais cursos, otimizar o nosso tempo, comprar o melhor celular que existe. No limite, as superestruturas do capitalismo nos convencem a sermos os empreendedores de nós mesmos, imprimindo os ideais competitivos e individualistas na busca insana da riqueza prometida pelo sistema. A vida, então, se transforma em uma grande competição, na qual os vencedores e os vencidos há muito já foram definidos. Mas enquanto os trabalhadores competem, não veem que o problema não está em sua “incapacidade” de vencer, mas no sistema capitalista que se reproduz justamente a partir da miséria – ou derrota – da maioria.
De fato, dados da ONU demonstram que o Brasil é o segundo país que mais concentra renda no mundo, ou seja, 1% da população detém quase 30% da renda total do país. Ao mesmo tempo, os 10% mais ricos do país tem renda superior à soma dos 80% mais pobres (Pnad Contínua 2018).
Como se sentir bem com tamanha desigualdade? Como sentir boas energias sabendo que você pode morrer ao sair de casa por conta da pandemia ou por um tiro da polícia se você for negro? Como ser grato se lhe faltam emprego, saúde e os diretos básicos garantidos pela Constituição?
Primeiro, compreenda que a culpa não é sua, é do capitalismo. Depois, junte-se a nós e lute por uma vida melhor, pois a solução para todos estes problemas não está em um indivíduo, mas na nossa capacidade coletiva de organização e luta!