Leticia Moura
SÃO PAULO – Na sociedade capitalista que nós vivemos, as mulheres mães, sobretudo as mulheres trabalhadoras, carregam a responsabilidade de cuidar dos afazeres da casa e da família, para as que tem oportunidade de estudar, somam-se, ainda, as horas de estudo.
Com o desencadear do coronavírus nesse ano de 2020, foi decretado o isolamento social no mundo inteiro, como também, aqui no Brasil. Assim, as mães estudantes que já realizavam diariamente uma tripla jornada de trabalho: cuidar da casa, dos filhos, com o trabalho remunerado e estudos, perceberam que a problemática se intensificou, uma vez que teriam que conciliar, ao mesmo tempo, esses três grandes afazeres.
No âmbito do ensino à distância (EaD), incorporado como forma de não cessar as atividades de instituições de ensino, há uma série de planejamentos mal elaborados pelas gestões das universidades e instituições de ensino, por não se preocuparem com estudantes sem acesso à internet, infraestrutura adequada em casa ou até mesmo sem ambiente adequado para os estudos.
No caso das mães, agora com os filhos em casa, o EaD se mostra completamente ineficiente, exigindo atividades síncronas (aulas com interação em tempo real), em um momento que as mães estudantes, agora com os filhos em casa, demandando atenção, não conseguem acompanhar as aulas, pois, ao mesmo tempo dessas atividades, necessitam supervisionar seus filhos e cuidar de sua moradia.
As mulheres que precisam trabalhar fora de casa, para pagar as contas, que inclusive aumentaram drasticamente de custo, possuem o dilema de não saber com quem deixar seus filhos e se preocupam com o cuidado deles, mas se não saírem para ganhar dinheiro, como pagar as contas? As universidades pouco se importaram em garantir políticas para a permanência das mães estudantes nas universidades.
É visto que a vida das mulheres é repleta de desafios, e por conta de estarmos em um sistema capitalista, que visa apenas o lucro, sem se preocupar com das trabalhadoras, as mães se sentem cada vez mais solitárias e não conseguem enxergar um futuro justo e humanitário. Também, se atentar ao fato que as mulheres realizam a todo o momento, em uma de suas jornadas, o trabalho não remunerado, que é aquele que elas não recebem nenhum lucro, mas mesmo assim é o que faz todo esse sistema funcionar. É com o cuidado e empenho das mulheres nos afazeres de casa, que é possível o patriarcado continuar firme e forte, uma vez que o ciclo de exploração das mulheres nunca tem fim.
Diante de tal conjuntura, percebe-se que com a pandemia, a sobrecarga da tripla jornada de trabalho, exercida pelas mulheres, aumentou. Com o descaso das instituições de ensino em garantir o estudo das mães estudantes, é necessário lutarmos, nos organizarmos para conquistarmos o direito básico a centros de recreação e creches nos espaços universitários, garantir políticas de auxílio financeiro para as mães, que possuem gastos redobrados e garantir assistência psicológica para as mães. Mas essencialmente nos organizarmos para derrubar esse sistema que lucra em cima do trabalho não remunerado que as mulheres exercem em seu trabalho doméstico e de criação dos filhos, e para a construção de uma sociedade onde a nossa vida, a vida das mulheres trabalhadoras seja mais importante que o lucro!
Precisamos falar sobre isso! É urgente e necessário!!