Júlia Ew e Jahy Pronsato
FLORIANÓPOLIS – A manhã da última terça-feira, 22, foi marcada por mais um episódio de violência contra os imigrantes em Florianópolis. Às vésperas das festas de fim de ano, às 6 horas da manhã, cerca de 15 policiais fortemente armados, somando a polícia civil, a guarda municipal e a força tática, invadiram três apartamentos onde residem 8 imigrantes senegaleses, prendendo os trabalhadores e apreendendo também suas mercadorias.
A ação policial foi marcada do início ao fim por truculência e ofensas de cunho racista. Os 8 homens presos, todos trabalhadores do comércio ambulante, foram vítimas de uma ação racista e higienista por parte do estado de Santa Catarina. A justificativa foi o combate a venda de produtos falsificados.
Após serem jogados contra a parede, algemados e presos na delegacia durante mais de 4 horas, todos foram soltos, porém, não conseguiram recuperar suas mercadorias. A ação violenta do estado junto ao município é mais uma demonstração da violência do governo frente aos trabalhadores, principalmente aos ambulantes imigrantes.
Logo após ter sido reeleito prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro triplicou o número de fiscais do comércio que, junto com a polícia militar, circulam diariamente no centro da cidade impedindo que os trabalhadores ambulantes possam garantir seu sustento. Apenas mais uma de suas políticas contra o povo trabalhador.
Em Florianópolis, os imigrantes são os que mais sofrem com a política de Gean Loureiro. Sem um CRAI (Centro de Referência de Atendimento aos Imigrantes) para dar assistência àqueles que chegam de outros países, sem políticas estatais efetivas de integração que garantam, por exemplo, o ensino da língua portuguesa e trabalho digno, e agora, proibidos até mesmo de trabalhar, os imigrantes sofrem preconceito e violência policial diariamente.
Essa realidade não é diferente no dia-a-dia, a luta dos imigrantes para trabalhar é constante. Todos os dias eles são obrigados a retirarem suas mercadorias do centro diversas vezes para que não sejam apreendidas. Como se não fosse suficiente, ainda se deparam enfrentando situações como essa, de violação dos direitos humanos, tendo as portas de suas casas quase arrombadas por uma polícia racista e violenta, sendo algemados na frente de suas casas e presos por horas numa delegacia apenas por quererem trabalhar.
O Jornal A Verdade entrou em contato com um amigo pessoal dos imigrantes que foram presos e também é trabalhador senegalês, imigrante. Segue o relato:
A Verdade: Qual sua relação com os imigrantes que foram presos? Você os conhecia?
Alyu: São todos amigos meus, conheço eles há muitos anos!
A Verdade: O que você pensa sobre a postura da prefeitura e da polícia militar em relação aos ambulantes senegaleses? Você já sofreu preconceito?
Alyu: Bem folgados! A polícia fala muitas palavras racistas contra nós! A gente não dá problema para a polícia para eles virem nos prender. Eles nos chamam de “macacos”, dizem para voltarmos para nossa terra, dizem que não podemos sentar na praça… Isso que a gente não quer. Eles falam muitas besteiras, a polícia militar e a guarda municipal.
A Verdade: O que você acha que deve mudar em relação ao tratamento com os imigrantes?
Alyu: Eles não respeitam imigrantes de verdade, a prefeitura não respeita os imigrantes. Eles nos olham como criminosos, olham pra gente como bandidos. Eles não tratam imigrantes como pessoas legais, tratam a gente como gente que vende droga… a gente não vende droga, a gente tá trabalhando pra sobreviver, só isso. Somos muito mal recebidos aqui em Floripa.