Clodoaldo de Oliveira
Diretor do Sindicato Dos Trabalhadores em Ensino Superior do Estado da Paraíba
JOÃO PESSOA (PB) – A comunidade universitária da UFPB acordou no dia 5 de novembro com a notícia de que o presidente Jair Bolsonaro tinha nomeado um interventor para a Reitoria da Universidade. É justamente o candidato que ficou em último lugar na consulta eleitoral do dia 26 de agosto, com apenas 5% dos votos, o professor Valdiney Veloso.
Após semanas no aguardo da nomeação da chapa vencedora, formada pelas professoras Terezinha Domiciano (reitora) e Mônica Nóbrega (vice-reitora), eleitas com mais de 9 mil votos, o fascista que ocupa a Presidência da República nomeou um candidato sem votos na comunidade acadêmica e nos Conselhos Superiores da UFPB, responsáveis por formular a lista tríplice a ser encaminhada ao MEC.
A reação da UFPB à intervenção foi imediata! No mesmo dia, centenas de pessoas se encontraram na Reitoria da UFPB e saíram em marcha pelas ruas da universidade, paralisando o trânsito em frente ao campus universitário. Após o ato, um grupo de estudantes se acorrentou na rampa da Reitoria e construiu uma ocupação. De lá para cá, a repercussão do processo de resistência tem sido grande na Paraíba e mesmo em nível nacional, com ações praticamente diárias (passeatas, atos públicos, vigílias e aulas virtuais, assembleias etc.).
Mas o caso da UFPB não é um caso isolado. Até o momento, já são 18 universidades, institutos federais e 1 Cefet nesta situação (veja lista abaixo). Pensando nisso, o Comitê de Mobilização pela Autonomia e contra a Intervenção na UFPB, que tem coordenado o processo de resistência, criou uma comissão para articulação da resistência nacional contra as intervenções do Governo Bolsonaro.
No dia 25 de novembro, a comissão realizou uma vigília nacional virtual transmitida pela plataforma YouTube, que contou com a presença de várias entidades nacionais representativas dos segmentos que compõem a comunidade universitária das instituições federais de ensino superior, a exemplo do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra), do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), da União Nacional dos Estudantes (Une) e da Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (Fenet); dos reitores eleitos das instituições que sofreram intervenção; de ex-ministros da Educação; e de vários artistas locais, que prestaram solidariedade contra a intervenção na UFPB.
No mesmo dia 25 de novembro, a diretoria do Andes se reuniu com representantes das seções sindicais cujas instituições sofreram intervenção. Os diversos relatos apontaram que, embora em cada instituição o processo de intervenção por parte do Governo Federal tenha características próprias, essa prática vem se configurando como uma estratégia política sistemática. O ataque à autonomia e à democracia nas instituições tem impacto administrativo, na vida acadêmica e nas relações internas.
A expectativa é de que se possa construir um comitê nacional contra as intervenções, que articule as lutas que têm acontecido em cada instituição de modo que se acumule força suficiente para pressionar o STF a julgar as ações que se encontram em tramitação no órgão e possam ser empossados os reitores eleitos.