João Coelho, São Paulo
Nesse dia 19 de fevereiro de 2020, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, o Dr. Sócrates, grande ídolo do futebol brasileiro completaria 67 anos de vida. Falecido no dia 4 de dezembro de 2011, aos 57 anos, Sócrates foi um importante símbolo da luta contra a ditadura militar no Brasil e um defensor do socialismo como futuro para a humanidade.
Nascido em Belém do Pará, Sócrates teve uma infância humilde em uma família que, como outras milhares, migrou do Norte para São Paulo em busca de uma vida melhor. Aos 17 anos entrou para a faculdade de medicina da USP em Ribeirão Preto e conseguiu conciliar o estudo com o início da carreira de jogador de futebol no Botafogo de Ribeirão Preto. Formou-se médico, ganhou o apelido de Doutor nos gramados e seguiu jogando e encantando o Brasil e o mundo, tornando-se um dos maiores nomes brasileiros no esporte.
Sócrates começou a se destacar por suas posições políticas quando chegou ao Corinthians, em 1978, em plena ditadura militar; era uma época em que o povo não podia votar e escolher seus governantes, vivendo sob uma profunda exploração econômica por parte dos patrões e criminosas perseguições políticas por parte dos militares que governavam o país. Nesse contexto Sócrates e seus companheiros de equipe, como Wladimir e Casa Grande, iniciaram um movimento político que ficou conhecido como “Democracia Corinthiana”: em um regime onde o povo não tinha voz e não podia votar, uma das equipes de futebol mais populares do país estabeleceu uma democracia interna onde todos, desde os roupeiros até o presidente, votavam e tomavam decisões de forma coletiva, com todas as opiniões tendo o mesmo peso e sob o lema: “ganhar ou perder, mas sempre com democracia”.
Esse movimento causou grande impacto no país, se ligando imediatamente as lutas populares contra a ditadura e demonstrando com um exemplo extremamente popular a importância e o valor da democracia. A justificativa do movimento não podia ser mais consciente, simples e ao mesmo tempo profunda… nas palavras de Sócrates: “A ideia era a seguinte, vamos participar todos das decisões coletivas, vamos tentar fazer com que nada venha de cima para baixo, porque as melhores soluções sempre estão com quem está com a mão na massa, em qualquer ambiente corporativo que seja. Em qualquer sociedade é assim. Quem põe a mão na massa sabe onde tem problema e qual é a solução”.
Ligado a esse movimento nos campos Sócrates e seus companheiros participaram ativamente da campanha “Diretas já”, discursaram em comícios, estampavam palavras de ordem pela democracia em seus uniformes e comemoravam gols com o punho cerrado e erguido, um símbolo da luta da classe trabalhadora. Após esse período e o fim da “Democracia Corinthiana”, Sócrates foi jogar na Europa e depois voltou ao Brasil, atuando em uma série de clubes até encerrar sua carreira.
Durante toda sua vida, Sócrates foi um defensor da luta da classe trabalhadora, do poder popular e do socialismo. Em muitas entrevistas destacou sua admiração por Cuba e Fidel Castro, dizendo que a sociedade cubana era um sonho, aquela que mais se aproximava do ideal de sociedade que o jogador tinha, e denunciando os ataques do imperialismo contra a ilha revolucionária.
Até seus últimos dias utilizou o prestígio alcançado através do futebol para denunciar as injustiças cometidas contra o povo Brasileiro e os trabalhadores do mundo. Seus últimos artigos, escritos pouco antes de sua morte, denunciaram os absurdos cometidos durante a preparação do Brasil para sedear a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, como os despejos de famílias pobres de propriedades próximas à construção dos estádios; para o ex-jogador, dinheiro público estava sendo utilizado para gerar lucros privados em um evento privado, desviando-se a riqueza que deveria ser investida na educação para entregá-la ao grande capital e deixando de lado a melhoria de vida do povo brasileiro em benefício dos ricos. Dito e feito.
Hoje Sócrates e a luta de sua vida ainda inspiram a nova geração de lutadores do país. Célia Medina, uma das fundadoras do Coletivo Democracia Corinthiana diz que: “nossa luta procura trazer à luz o exemplo de engajamento do Sócrates pela democracia em nosso país, contra a Ditadura Militar Fascista de 1964. Até hoje a vida do Sócrates é referência não apenas para muitas gerações de corinthianos mas para todo o povo brasileiro que continua lutando pelos seus direitos, em especial no atual momento onde a crise se aprofunda e temos defensores da Ditadura governando nosso país”.