Por Lula Falcão
Diretor de redação de A Verdade e membro do Comitê Central do PCR
BRASIL – Há mais de dois anos, o povo brasileiro sabe que o governo militar de Bolsonaro é o pior governo do mundo. Com o relatório divulgado pelo Lowy Institute, conceituado centro de estudos com sede em Sydney, Austrália, no final de janeiro, essa verdade tornou-se conhecida mundialmente. Após longa pesquisa, que avaliou governos de 98 países, levando em consideração mortes, casos confirmados e mortes por milhão de habitantes, o instituto concluiu que o governo do Brasil teve responsabilidade direta nas mortes de 230 mil brasileiros pela Covid-19 e o classificou como a pior gestão pública na pandemia do mundo.
Os fatos comprovam o genocídio. Em março do ano passado, Jair Bolsonaro, junto com seus filhos e um bando de fascistas, foi um dos principais propagadores do vírus ao organizar manifestações exigindo uma intervenção militar e o fechamento do Congresso Nacional e do STF. Além disso, foi contra o distanciamento social, o uso de máscaras e chegou a “jogar praga”, afirmando que “todo mundo iria pegar o vírus, não tem jeito”. De lá para cá, ficou torcendo para que sua maldição se realizasse, mesmo que isso significasse abrir milhares de covas e levar à morte país e mães, idosos, jovens e crianças. Por isso, e por sua aversão à ciência, sabotou todas as tentativas para que o Brasil tivesse uma vacina e imunizasse a população.
Do alto de sua idiotia, declarou que o imunizante da CoronaVac, produzido pela China e pelo Instituto Butantan, transformaria as pessoas em jacaré, e ordenou ao general que usurpou o Ministério da Saúde que não comprasse nenhuma dose da vacina chinesa. Entretanto, este mesmo governo pagou ao Instituto Serum, da Índia, um valor duas vezes superior ao que os países da União Europeia (UE) compraram a vacina da AstraZeneca. Vejamos: o Brasil pagou US$ 5,25 (R$ 27,00), enquanto a UE, US$ 2,10 (R$ 10,20). Pergunta: para o bolso de quem foi essa diferença?
A consequência dessa irresponsabilidade é que o Brasil não tem vacina para os trabalhadores que diariamente andam em ônibus e metrô superlotados. Aliás, falta vacina para os pobres, mas também médicos, respiradores, leitos de UTI e oxigênio nos hospitais públicos. O chefe do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, afirmou no dia 28 de janeiro, na Câmara dos Deputados, que “há 600 pacientes em Manaus na fila e que podem morrer na rua”. 600 pessoas vão morrer na rua, sem nem entrar no hospital por falta de oxigênio. Um governo que deixa faltar cilindros de oxigênio no Sistema Público de Saúde (SUS) e gasta R$ 15 milhões comprando leite condensado, R$ 45 mil numa esteira ergométrica e abandona sete milhões de testes num depósito, merece algum respeito do povo?
Genocida e corrupto
Além de genocida, o presidente Bolsonaro foi escolhido a pessoa mais corrupta do mundo pela Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), um consórcio internacional que reúne jornalistas investigativos e centros de mídia independente. Na decisão, o consórcio destacou o envolvimento do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, no escândalo das “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj); o dinheiro depositado por Fabrício Queiroz e sua esposa, Márcia de Aguiar, na conta bancária da primeira-dama Michelle Bolsonaro, além das acusações contra o próprio presidente. Para a OCCRP, “Bolsonaro se cercou de figuras corruptas, usou propaganda para promover sua agenda populista, minou o sistema de justiça e travou uma guerra destrutiva contra a região da Amazônia para enriquecer grandes proprietários de terras do país”.
Mas por que um desqualificado e despreparado como Bolsonaro chegou à Presidência da República? Como se sabe, o ex-capitão Bolsonaro (em 1988, ele foi para reserva após ser julgado pelo Tribunal Superior Militar por ter elaborado plano para explodir bombas em quartéis do Exército), contou na campanha eleitoral com generosa proteção dos monopólios de comunicação e recebeu financiamento da classe rica para montar uma rede de robôs e espalhar mentiras (fake news) pelo WhatsApp e YouTube. Teve ainda a sustentação do Alto Comando das Forças Armadas que fez inúmeras ameaças de golpes para intimidar setores da sociedade e deixar o terreno livre para este aventureiro.
Assim, mesmo com 89 milhões de eleitores não tendo votado nele, o falastrão tomou posse como presidente. A grande burguesia comemorou mais um governo da classe dos exploradores. Grandes proprietários de terras, banqueiros ou seus representantes foram nomeados ministros e passaram a fazer leis e adotar medidas contrárias aos trabalhadores e voltadas para enriquecer uma minoria. Logo no primeiro ano, o governo realizou uma Reforma da Previdência que praticamente acabou com o direito de aposentadoria dos trabalhadores. Em seguida, eliminou vários direitos trabalhistas e reduziu os salários dos operários para permitir que os patrões aumentassem seus lucros.
Com efeito, apesar da pandemia, estudo da Oxfam revelou que, em apenas cinco meses de 2020, o patrimônio dos 42 bilionários do Brasil passou de US$ 123,1 bilhões para US$ 157,1 bilhões, um extraordinário crescimento de US$ 34 bilhões. Por isso, apesar de todos os crimes cometidos contra a nossa nação e seu povo, os grandes empresários seguem apoiando este governo genocida.
Para onde vai o dinheiro do país?
O ministro da Economia Paulo Guedes, ele próprio um banqueiro bilionário, pôs à venda várias empresas da Petrobras e realizou a maior desvalorização da moeda brasileira dos últimos dez anos. Resultado, o preço dos alimentos disparou, o povo passou a pagar mais caro pela comida, energia elétrica, água e transporte. O gás de cozinha, por exemplo, sofreu 11 reajustes nos últimos nove meses.
Para elevar a transferência de renda para os ricos, após reduzir pela metade o valor do auxilio emergencial, extinguiu o programa aprovado pelo Congresso Nacional, embora a pandemia continue matando mais de 1.000 brasileiros por dia. Essa decisão autoritária e desumana jogou 27 milhões de pessoas na pobreza extrema, isto é, vivem com menos de R$ 246 por mês, quando apenas a cesta básica mensal custa mais de R$ 450,00.
Sem piedade, este governo, de um dia para outro, deixou dezenas de milhões de brasileiros e brasileiras sem condições para comprar o básico para o sustento; muitos, para passaram a pedir esmola nas ruas e calçadas para ter o que comer e a contar com a solidariedade de vizinhos. O governo militar de Bolsonaro se nega até mesmo a pagar R$ 89 por mês a 3,7 milhões de pessoas que estão na fila do Bolsa Família.
Mas o dinheiro “economizado”, ou melhor, retirado dos pobres, não é usado para gerar empregos, como mostra o fato de o Brasil ter 14 milhões de desempregados e 35% dos jovens brasileiros nem trabalham nem estudam. Tampouco vai para a saúde pública, educação ou moradia. É tudo transferido para os bolsos de uma minoria de ricaços. De fato, em 2020, o orçamento federal destinou ao pagamento de juros e amortizações da dívida pública R$ 1,381 trilhão, privilegiando principalmente grandes bancos e investidores nacionais e estrangeiros, informa a Auditoria Cidadã da Dívida.
Trocando em miúdos: o governo Bolsonaro é o retrato de corpo e alma da grande burguesia brasileira, a classe que, há mais de um século, rouba as riquezas do nosso país (ouro, madeira, petróleo, açúcar, soja, carne), promove uma gigantesca remessa de lucros para o exterior e explora sem piedade o trabalhador e a trabalhadora. Esta classe é proprietária das fábricas, dos shoppings, das redes de supermercados, dos frigoríficos, dos rebanhos e, por isso, se locupletam com ou sem pandemia.
Hoje, em nosso país, todos os dias ocorrem injustiças, os patrões demitem milhares de operários, e sequer pagam seus direitos; crianças são injustamente mortas nas favelas. Quem é rico ou tem amigos no governo pode roubar à vontade, estão aí os escândalos da “rachadinha’, dos laranjas do PSL e dos bilhões em isenção fiscal para as empresas amigas do bufão.
Verdade seja dita: um verdadeiro genocídio está sendo realizado no Brasil, mas os responsáveis, em particular Jair Bolsonaro, Pazuello e Paulo Guedes têm a mão amiga do Exército. O braço forte é usado somente contra os pobres, particularmente quando estes se levantam e decidem lutar por seus direitos, quando os trabalhadores fazem greve ou os camponeses ocupam a terra. Com efeito, as Forças Armadas dizem que defendem a pátria, mas em troca de sinecuras e negócios escusos, são cumplices da devastação da Amazônia, das “rachadinhas”, do assalto aos cofres públicos realizado pelos banqueiros, da submissão do país aos Estados Unidos e demais potências capitalistas e da miséria crescente da população brasileira.
Por isso, a luta para derrubar o governo militar de Bolsonaro é uma luta para democratizar os meios de produção, é uma luta para acabar com a falta de respeito à vontade do povo e com a opressão e a exploração de uma minoria de bilionários sobre o povo brasileiro.
Página 03 – JAV Edição 235