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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

PM-SC executa jovem à luz do dia, pelas costas, em meio a crianças e moradores.

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Florianópolis(SC) – No último dia 15/02, a redação do Jornal A Verdade em Santa Catarina, foi chamada para cobrir um ato de protesto em frente ao Morro do Mocotó em Florianópolis, capital do Estado. Mais uma vez, a Polícia Militar do estado de Santa Catarina( PMSC) tirava a vida de um jovem da comunidade. Bruno Adriano de Barcelos, o “Caju”, foi morto com um tiro nas costas na manhã do último sábado, às 08 horas da manhã. O jovem havia completado 26 anos na sexta-feira, um dia antes de ser assassinado.

Por: Redação de Santa Catarina

Segundo conta sua esposa, Jennifer, Caju descia o morro pela manhã, quando foi alvejado com dois tiros, sendo um deles pelas costas. Os moradores que estavam pela região e até mesmo a ambulância do SAMU foi impedida de acessar o local para prestar os devidos socorros, o que acarretou na morte do Jovem. Caju deixou esposa e um filho de seis anos. “O que eu fiquei sabendo foi isso, mataram ele pelas costas, e ele estava desarmado, não tinha arma, não tinha nada, ele estava no morro, ele era tatuado, e falaram que ele era traficante”, conta Jennifer sobre o marido que não era envolvido com tráfico de drogas.

A moradora Elainebeth, de 54 anos, testemunhou a ação e contou sobre as cenas de terror produzidas pela PMSC na morte de Caju: “(A Polícia) já chegou atirando, atirou pelas costas do menino, o policial engatilhou a arma três vezes e eu me meti na frente, com medo dele atirar nos meus netinhos que estavam brincando. Aí eles desceram a escadaria, entraram na casa de um moço, o guri caiu duas casas abaixo da minha, eles pegavam o guri pelos cabelos, levantavam o guri de um lado pro outro dizendo ‘tá morto!’”

À acusação de agressão e execução sumária de Caju se somam as denúncias de omissão de socorro por parte dos policiais. Sobre isso, Elainebeth continua: “Nós ligamos pro SAMU, mas eles disseram que só viriam se a polícia autorizasse, um descaso com a nossa comunidade, pra mim isso é omissão de socorro. Aí nós ligamos para os bombeiros, quando eles chegaram, já fazia mais de uma hora que o guri estava no chão, nos disseram que ele estava morto.”

Florianópolis, cada vez mais se mostra como terra de contradições gigantescas, sendo a famosa “Ilha da magia” para os ricos, e estado de exceção para os pobres, pretos e favelados, onde subindo morro acima, parte da constituição não vale, e as violações não são exceção, mas a regra.

É o que encontramos nos relatos de outras mulheres presentes no ato, como Priscila, de 19 anos, que perdeu o marido também para a Polícia em 26 de Abril de 2020, atingido por um tiro na perna e outro no pescoço. Seu marido foi alvejado enquanto esperava um lanche, foi agredido mesmo após ser baleado, como indicavam marcas em seu rosto durante o velório, e também teve o atendimento médico negado pelos policiais ao impedirem o acesso do SAMU ao local.

Na segunda-feira, durante o ato de protesto, muitos policiais acompanhavam o movimento, ostensivamente armados e não poucas vezes intimidando as mulheres e demais moradores presentes. Se não bastassem todos os abusos relatados, fontes afirmam que sempre após as mobilizações da comunidade, a violência aumenta no morro. “Pode ter certeza que amanhã ou depois eles vão entrar na nossa casa e quebrar tudo!”. São diversos relatos de intimidação, ameaça e perseguição, sobretudo às mulheres, vítimas da violência direta e indireta de quem deveria proteger a comunidade, garantir o direito constitucional à ampla defesa, julgamento justo e presunção da inocência. Preceitos jurídicos fundamentais que parecem não valer nada

As consequências da violência de Estado são diferentes de pessoa para pessoa. Enquanto Jennifer não quis dizer mais nada além de relatar o caso, Dona Elainebeth afirma “Esse ato é para avisar para o povo o que está acontecendo na nossa comunidade, e não vou dizer que são todos os policiais, porque não é! É uma equipe só que entra no morro e barbariza, que já chegam atirando na gente.” E continua, “Eu queria que as pessoas entendessem que nós temos filhos, nós sofremos, eu perdi meu filho a dois anos e sete meses, executado pela polícia, e hoje passando pelos policiais, um deles mexeu comigo – ah, o Wallace não existe mais – ele falou pra mim, mas por que mexe comigo, deixa minha dor! Porque eu não superei ainda”.

Mesmo em meio a todos esse cenário de crimes de guerra, não se vê em Florianópolis manifestação das instituições catarinenses a favor das famílias, da comunidade, não se vê rastro nem cheiro de uma postura mais ativa em defesa dos direitos humanos e contra as absurdas e constantes violações. De tudo isso,  ficam afirmações e questionamentos sobre o lema da Polícia Militar do estado: “Preservar a ordem”, e aqui vemos o quanto injusta, violenta e estruturada ela é, e  “Proteger a vida”, mas a vida de quem?

Enquanto mais um caso explode em Florianópolis, as famílias lidam com o luto ao mesmo tempo em que se agarram à luta. “Pelos nossos direitos” como diz Priscila, e “não vamos parar” como gritavam as mulheres, é a luta de classes que se impõe na cidade. Enquanto as forças de segurança do Estado buscam a manutenção da ordem da violência, do abuso e da execução contra favelados, pretos e pobres, e as políticas de genocídio avançam nas periferias do país, do outro lado mulheres, mães e jovens se organizam para resistir em meio à sangue e lágrimas, até que se faça a justiça e se garanta o direito de viver com dignidade. “Por todos os meios necessários”, como dizia Malcolm X, um novo dia chegará!

Segue link dos vídeos do ato em Florianópolis-SC.

https://drive.google.com/file/d/1KNxLy_KVLjiAv8j4a1BUc356h-L4f383/view?usp=drive_web

https://drive.google.com/file/d/1UpD1NsFzlNQMCCeoZSdIHbvTRAu7OO5S/view?usp=drive_web

 

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