por André Molinari
SÃO PAULO – Apesar da grave crise econômica pela qual passa o Brasil, com o crescimento do desemprego, da pobreza e da fome para a classe trabalhadora, os gastos com as Forças Armadas não param de crescer e alcançam valores absurdos, garantindo aos militares uma série de privilégios. Exemplo: em comparação com os países membros da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), o Brasil é o terceiro país que, proporcionalmente, tem mais gastos com pensões e salários para militares, ficando atrás apenas da Grécia e Croácia (em 2018), em 2019 o Ministério da Defesa gastou 76,7% de seu orçamento com pensões e salários e as últimas reformas econômicas realizadas no país que retiraram direitos históricos da classe trabalhadora mantiveram os privilégios dos militares.
Outro exemplo: O tenente-brigadeiro-do-ar Jeferson Domingues de Freitas recebe, de acordo com os dados de julho de 2020, uma ‘escassa’ quantia de R$ 71.641.84 por mês (cerca de 30 vezes mais que o salário médio no Brasil), metade desse valor é referente aos jetons (salário de um representante do Governo Brasileiro em empresas ou autarquias na qual este tem participação) por representar a União no Conselho de Administração da Embraer; tendo ingressado no exército como praça em 1975, durante a Ditadura Militar Fascista e sob o “governo” de Geisel, Jeferson Domingues chegou aos altos postos do Comando da Aeronáutica e na chefia do COMAE (Comando de Operações Especiais).
Em 2021 chamou muita atenção os gastos do Executivo Federal com alimentação, principalmente no Ministério da Defesa, R$668 milhões em 2020. Sendo R$496 milhões gastos pelo Comando do Exército, R$135 milhões pela Aeronáutica e R$32 milhões pela Marinha; o próprio Ministério gastou R$1,2 milhão (na imensa maioria das compras foi apresentado um grande sobre preço).
Não satisfeito com a ‘mixaria’ destinada aos militares, Bolsonaro vai além: depois de colocar mais de 6 mil militares em postos do governo e colocar mais de 92 militares em cargos de comando de estatais (10 vezes mais que em 2018), quer aumentar cada vez mais o valor destinado à Defesa, que será utilizado para mais pensões e salários gigantes, benefícios e refeições luxuosas para oficiais, etc.
Os capitalistas de todo o mundo, apesar de muitas vezes fingirem discordar de Bolsonaro, seguem no mesmo caminho: de acordo com matéria publicada na Folha de São paulo, o gasto militar no mundo por dia em 2020 foi o mesmo que o total de um ano de Bolsa Família (R$29,5 bilhões). Em menos de duas semanas os países capitalistas realizaram um gasto militar maior que todo o valor do auxílio emergencial do Governo Federal no ano passado. O aumento global de gastos militares em 2020 foi de 3,9%.
Tem dinheiro pra ‘milico’ mas não tem pra população
Após gastos milionários com pensões, alimentação, benefícios e compras de voto, o Governo Bolsonaro continua a afirmar que não há como garantir renda e baixos valores nos itens essenciais para a população “sem quebrar o país”. Mesmo com o número de pessoas em pobreza e extrema pobreza crescendo o Governo se recusa a congelar o preço dos alimentos, subsidiar o valor do combustível, etc. O mesmo se dá nos governos estaduais e municipais que se recusam a reduzir o valor das passagens e tomar medidas realmente eficientes na geração de emprego e controle da pandemia.
Por esses e muitos outros motivos 79,9% da população está insatisfeita com a democracia brasileira (conforme revelado pela pesquisa do Instituto da Democracia em 2020). De fato não é possível estar satisfeito quando se é largado à fome enquanto o General que ocupa a vice-presidência soma mais de R$70 mil por mês de salário, quando a democracia do país privilegia os ricos e massacra os pobres, paga quem não trabalha enquanto retira de quem trabalha; a cada dia que passa ficam mais definidos os lados na sociedade, a insatisfação com a “democracia” é nada mais do que a insatisfação com o regime capitalista, com o Estado dos capitalistas e com a exploração desenfreada que custa as vidas de milhões de trabalhadoras e trabalhadores.
É preciso empregar um trabalho de denúncia da fome, da desigualdade e do lucro capitalista, fazer com que caiam as cortinas da ideologia burguesa, retirando toda e qualquer ilusão de solução vinda sob o chicote do capitalismo. Empregar uma agitação revolucionária nas ruas, criar uma rede de propaganda extensa nos bairros, empresas e universidades. Através do trabalho de solidariedade e denúncia organizar a população, criar centros comunitários que promovam a solidariedade e a formação ideológica da população, tendo correspondentes nos bairros proletários do país e reivindicando, não sob o chicote do capitalismo, mas sim sob a bandeira da revolução, a confiança da classe trabalhadora brasileira.