Por Rafael Freire, da Redação
INTERNACIONAL – Cuba iniciou hoje (25) o estudo de intervenção populacional da vacina Soberana 02, produzida a partir de tecnologia própria. As pré-seleções cubanas de boxe e luta olímpica, que se preparam para as Olimpíadas de Tóquio, compuseram o primeiro grupo de cidadãos cubanos vacinados na última fase de testes do imunizante. Em mais de um ano de pandemia, Cuba registrou menos de 20 mil pessoas infectadas e cerca de 400 mortes.
“Esta é uma conquista da medicina cubana, dos cientistas, que só é possível em um país como o nosso. O povo cubano sempre será agradecido e o melhor presente que nós, atletas, podemos dar ao pessoal da saúde é seguir os treinos com muita disciplina, chegar a Tóquio e, no meu caso, ser bicampeão olímpico”, declarou Julio César La Cruz, boxeador.
Quatro vacinas cubanas estão em desenvolvimento: Soberana 01 e 02, Abdala e Mambisa. Se um desses projetos receber a autorização final, será a primeira vacina contra a Covid-19 totalmente concebida e produzida na América Latina.
O país caribenho possui 11,4 milhões de habitantes e já anunciou, desde o início do ano, que produzirá 100 milhões de doses de vacinas contra o novo coronavírus. Ou seja, muito além do total de sua população, o que proporcionará o acesso do imunizante a outras nações que já demonstraram interesse, como Vietnã, Irã, Venezuela, Paquistão e Índia. Segundo o plano nacional de vacinação, o objetivo é imunizar todos os cubanos até o início do segundo semestre.
“A estratégia de Cuba para comercializar a vacina tem uma combinação de humanidade e impacto na saúde mundial. Não somos uma multinacional, cujo objetivo financeiro é a razão número um. Nosso objetivo é criar mais saúde”, afirmou Vicente Vérez Bencomo, diretor geral do Instituto Finlay de Vacinas.
Sob embargo dos Estados Unidos desde 1962, a ilha teve que criar seus próprios medicamentos e vacinas. Atualmente, o programa nacional de vacinação infantil prevê 11 imunizantes, dos quais oito são fabricados no país, para o combate a 13 doenças. Desde a década de 1980, Cuba que dedica um quarto de seu orçamento à saúde.
Inovação com o Naselferon
Outra inovação cubana no combate ao novo coronavírus é o Nasalferon, uma formulação de IFN-alfa-2b humano, que possui propriedades imunomoduladoras e antivirais do IFN-alfa. Ele impede que o vírus passe das vias respiratórias superiores para demais partes do corpo, modifica o número de colônias presentes no organismo e fortalece o sistema imunológico do paciente, evitando, assim, quadros graves da infecção.
A diretora de Ciência e Inovação Tecnológica do Ministério da Saúde Pública Ileana Morales explicou que o uso do medicamento se dá por meio da aplicação de uma gota, via nasal, pela manhã e outra à noite, durante um período de cinco a dez dias. Dados da Academia de Ciências de Cuba indicam que, até agosto 17.241 profissionais da saúde e 1.010 pessoas vulneráveis haviam sido tratados com este medicamento.
Sistema de saúde e brigadas médicas
Para Fabrizio Chiodo, professor de Química da Universidade de Havana, natural da Itália e um dos colaboradores estrangeiros que participam do desenvolvimento das vacinas Soberana, “a chave [do sistema cubano] está na saúde totalmente pública, na biotecnologia totalmente pública e na grande confiança existente neste sistema. Isso tem permitido, por exemplo, o confinamento com medidas de acompanhamento de casa a casa a partir do médico da família”.
“Em Cuba, a ciência está a serviço do povo. Existem programas de divulgação de alto nível na televisão. Se em todas as nações as pessoas pudessem entender a linguagem científica com facilidade, se o cientista aparecesse na televisão, como acontece em Cuba, explicando como funcionam as vacinas de forma popular, não haveria ceticismo nem desconfiança”, afirma Fabrizio.
Outro aspecto muito importante da política de saúde promovida pela Governo Cubano são as Brigadas Médicas Internacionais Henry Reeve, criadas em 2005 por iniciativa do então presidente Fidel Castro. Desde então, segundo o Consulado de Cuba em São Paulo, as brigadas cubanas trataram mais de 300 mil pessoas e salvaram mais de nove mil vidas, em mais de 160 nações. Dos quase quatro mil profissionais que integraram a iniciativa, 61,2% eram mulheres.
No enfrentamento à pandemia da Covid-19, a medicina humanizada e solidária de Cuba mobilizou quase quatro mil profissionais, especialmente médicos(as) e enfermeiros(as), e chegou a cerca de 40 países, ainda presentes, neste momento, em 26 nações, entre elas Angola, Qatar, Haiti, Honduras, México e Peru. Em reconhecimento à atuação dos profissionais cubanos da saúde, as Brigadas foram formalmente indicadas ao Prêmio Nobel da Paz 2021.
Texto originalmente publicado na edição nº 235 de A Verdade. Com informações atualizadas de Cubadebate.