A contradição que Bolsonaro cria entre vidas e economia é falsa. A verdadeira contradição é entre Bolsonaro e todo o resto: vidas, economia, retomada das aulas, vacinação, dignidade, etc.
Por Victor Davidovich
Rio de Janeiro
BRASIL – Apesar do imenso crescimento do número de mortos pela Covid-19 nos últimas dias, o governo Bolsonaro continua insistindo na mentira de que o brasileiro precisa escolher entre o isolamento social – e suas vidas – ou a economia. Para poder defender essa mentira, Bolsonaro usa uma série de pressupostos falsos e conta com a rápida propagação dessas fake news através do disparo ilegal de mensagens em massa.
Na verdade, as medidas de isolamento mais duras se tornaram inevitáveis no Brasil por causa da completa incapacidade de Bolsonaro de gerir a crise. O genocida tirou nosso país da posição de referência em vacinação para nos tornar um dos países mais atrasados, além de agir contra as medidas básicas, como o uso de máscaras pela população. É, portanto, culpa de Bolsonaro que tenhamos que passar por mais períodos de fechamento do comércio, de crianças sem aulas presenciais, etc.
Outra mentira espalhada pelo ex-capitão é a ideia de que ele age para defender a economia. Diversas medidas do presidente contribuíram para que hoje seja impossível para os trabalhadores encher um carrinho de supermercado. O dólar alto, que o ministro da Economia Paulo Guedes disse que só ocorreria caso ele fizesse muita besteira, faz com que os alimentos sejam exportados, a oferta interna diminua e os preços disparem. Ainda, em conjunto com a desindustrialização, a alta do dólar faz subir o preço de todos insumos e produtos que o Brasil importa.
Com a política de destruir a Petrobras e aumentar cada vez mais o preço dos derivados do petróleo, Bolsonaro também faz o preço da comida subir, já que a maior parte do que consumimos é transportado em caminhões a diesel. Ao contrário, se tivéssemos um governo popular e comprometido com o povo, com nossas reservas de petróleo e investimento na Petrobras, poderíamos garantir baixíssimos preços de combustíveis. Mas com a venda de refinarias, do sistema de transporte e distribuição do óleo e de outros ativos da estatal, em especial para empresas estrangeiras, praticamente não vemos o dinheiro da exploração dessa riqueza.
A isso devemos somar também a destruição de direitos sociais e trabalhistas, as reformas aprovadas nos últimos anos (trabalhista e da previdência) com apoio de Bolsonaro, o corte do auxílio emergencial, o arrocho nos salários, as demissões em massa e a falta de política para criação de empregos. Assim, temos uma economia em que os lucros das grandes empresas disparam enquanto a população precisa diminuir em muito seu consumo. Para que isso aconteça, Bolsonaro reserva isenções fiscais, perdão de dívidas e incentivos financeiros a esses mega empresários.
Por fim, a terceira mentira – e talvez a que está mais em alta – é a de que o governo não tem condições de arcar com o auxílio emergencial. Mesmo com a destruição de nossa economia, aprofundada especialmente pelos governos Temer e Bolsonaro, o Brasil ainda é um país extremamente rico. Com prioridade nos gastos, é possível garantir o auxílio emergencial em um valor adequado às necessidades das pessoas, bem como vacina, crédito para micro e pequenos empresários, compra de insumos hospitalares e abertura de leitos. Para isso, bastaria que o governo estivesse disposto a parar de beneficiar especuladores e mega empresários e passasse a usar o dinheiro em benefício do povo.
Portanto, a contradição que Bolsonaro cria entre vidas e economia é falsa. A verdadeira contradição é entre Bolsonaro e todo o resto: vidas, economia, retomada das aulas, vacinação, dignidade, etc.
A saída da crise, portanto, é clara. Imediatamente, todos que defendem que o povo brasileiro tenha uma condição digna de vida devem lutar pela derrubada do governo Bolsonaro.
Mas a luta para derrubá-lo precisa também ser uma luta por uma transformação mais profunda de nossa sociedade. Devemos derrotar também o próprio sistema capitalista, abrindo caminho para uma sociedade justa, para o socialismo, em que toda economia estará voltada para a satisfação das necessidades daqueles que tanto trabalham para construir esse país.