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sábado, 21 de dezembro de 2024

O amor pela vida é revolucionário

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LIBERDADE – A luta coletiva por uma vida livre é o caminho para transformar a realidade (Foto: Reprodução)

Yago Amador

SÃO PAULO – Meu coração sangra de forma incessante, sem saber quando vai acabar tanto sofrimento. Mas parece que a única cura vive na destruição desse sistema podre que assola não só a minha vida, como a de todo o nosso povo.

A vida é uma das coisas mais belas que podem existir, não existem palavras o suficiente para descrever o quão maravilhoso é sentir-se vivo nesse mundo tão fascinante. Uma multidão de sentimentos, experiências e sensações que nos fazem entender o que é amar, sofrer, sorrir e apreciar os aspectos mais simples que poderiam existir. Não existe melhor sensação do que deitar-se ao Sol de um dia bem quente e com muito vento e aproveitar para prestar atenção ao som de aves, cigarras e de tudo mais que possa surgir. Assim como, mesmo na noite mais escura, podemos apreciar a beleza das estrelas que sinalizam que há um universo inteiro a explorar.

Pegarei um exemplo: sentar-se de frente à uma flor e observar o trabalho ininterrupto das abelhas em recolher o pólen. Parece algo simples, mas que fascina e aquece o peito de uma forma difícil de explicar. Entretanto, vou tentar me ater aos diversos detalhes que tornam essa cena um momento sem par na minha vida.

Primeiramente, o fato das plantas, ao longo de seus milhões de anos de evolução e adaptações terem desenvolvido um sistema reprodutor que permitisse que pudessem atrair a atenção de outros seres vivos, para que os mesmos possam de alguma forma se interessar por sua existência e assim utilizar disso para gerar descendentes. Pensar que a complexidade desse processo levou às mais diversas formas, cores e fragrâncias, me encanta. Mas não é só isso.

Em segundo lugar, é incrível imaginar que pequenos insetos utilizam desse mesmo pólen para manter uma complexa relação social e de dependência com sua colônia, onde modificam esse material de forma que gere outras utilidades, incluindo o delicioso mel. Esses insetos vivem de forma que garantem toda uma harmonia dentro de sua colônia, trabalhando não só para sustentar a si mesmos, mas todos que compartilham da sua colmeia.

Ambos esses seres vivos estão ligados invariavelmente não só por um fator de relação mútua entre ambos, mas por um processo evolutivo que ultrapassa a existência dos indivíduos observados e que vai de encontro com a própria existência da vida, da forma como ela se adapta sobre o ambiente e como em meio ao caos de milhões de anos de sucessivos eventos nesse planeta, foi capaz de gerar a mais bela cena de uma abelha colhendo o pólen. Mas não para por aí.

Tanto a flor quanto a abelha não necessitam só uma da outra para viver, mas também de fatores que permitem a minha existência. Como Sol, água, nutrientes presentes no solo e todas as condições climáticas e geográficas que permitiram nossa existência nesse momento e situação.

Esses são alguns dos fatores que me fazem sentir extremamente feliz. Sou feliz em saber que vivo em um mundo maior do que eu e maior do que a abelha e a flor, mas que gerou todas as condições necessárias para que eu pudesse em um dia qualquer observar essa cena e sentir amor por estar vivo.

Entretanto, não são apenas esses fatores que permitem que eu esteja nessas condições, outros fatores garantem com que eu também sinta muitos outros sentimentos, em especial o ódio e a tristeza profundos.

Nesse mundo não podemos aproveitar a beleza da vida da forma que merecemos. Porque nele existe um sistema econômico que garante a existência mais do que luxuosa de uma ínfima minoria enquanto a maioria do nosso povo sofre com a fome, doença e morte. Poucos ricos são capazes de destruir a longos passos o nosso planeta, em nome de lucros que nem em mil vidas poderiam gastar, enquanto bilhões de pessoas trabalham incessantemente na tentativa de sobreviver.

Aquelas que mais merecem ver a luz do Sol de manhã e sonhar os sonhos mais lindos são obrigadas a trabalhar do momento que nascem até o momento que o corpo já não aguenta e cessa tristemente o seu trabalho de viver. Possuímos capacidades tecnológicas para diminuir as cargas horárias de todos os trabalhadores em todos os setores, poderíamos aumentar os momentos de lazer, permitir que todos pudessem aprender sobre a arte, esporte e aproveitar a vida da melhor forma possível. Porém, essa tecnologia é usada para demitir pessoas e acelerar o lucro dos vermes que estão no poder.

O espaço poderia não ser mais uma fronteira, as doenças poderiam ser mais tratadas, a saúde e ciência poderiam chegar em grandes quantidades para as mais diversas pessoas, não só do nosso país, mas como do mundo inteiro. Mas cálculos imaginários sobre a valorização de dinheiro imaginário é responsável por pessoas morarem jogadas nas ruas, crianças expostas às mais diversas violências, nossa juventude entregue às drogas para fugir da realidade.

Em um mundo cheio das mais incríveis belezas e mais distintas experiências nossa juventude precisa fugir para o consumo de entorpecentes que apenas aceleram a sua morte. Quantos jovens foram mortos ou encarcerados por conta da necessidade de fugir desse mundo terrível que o capitalismo criou? Quantas mães já não choraram por um sorriso que viram crescer, mas que nunca mais irão ver?

Hoje uma pandemia consome a vida do meu povo, interrompe aos montes vidas que poderiam estar aproveitando a singela cena da abelha e da flor. Poderiam estar aproveitando para ver seus filhos e netos amados crescerem, poderiam estar aproveitando o mais sincero sentimento de amor, são tantos finais abruptos de histórias que deveriam ser de aquecer o coração, mas que por conta desse sistema, rasgam o peito em dor.

Não posso permitir-me citar tantos exemplos sem deixar explicitamente claro que tudo isso só me direciona à um lugar, o ódio.

Eu sinto ódio de tudo o que esse sistema trouxe ao nosso povo, ódio pela forma como a vida, tão linda e complexa, vira um nada para esses crápulas que não sabem nada dela. O mundo viveu momentos terríveis, destrutivos e horríveis por conta do capitalismo e cada célula do meu corpo deseja a mais profunda vingança contra aqueles que causaram todo o martírio que a humanidade passou e passa.

Esse ódio não serve de nada se guardado dentro do peito, ou liberado de forma aleatória. O papel que ele serve é de ser combustível para a revolta que direciona todas as minhas forças para mudar essa realidade, e para isso, tornei-me comunista. Apenas com uma organização forte, centralizada e decidida em destruir esse sistema é que poderemos ter alguma perspectiva de melhora. Uma organização de milhões e milhões de pessoas que tomam para si a tarefa de construir um futuro onde a vida possa ser genuinamente vivida e aproveitada.

Por isso, mesmo quando estou me sentido o pior dos seres humanos, o mais fraco entre todos e o mais incapaz, tenho dentro de mim a certeza de que ao meu lado andam aqueles que me fortalecem e tomam para si a mesma tarefa e fardo do que eu, de mudar o mundo.

Todos têm seus motivos pessoais, que se unem para formar um grande sonho coletivo, capaz de romper com os medos, tristezas e revoltas que nos levaram a nos tornarmos comunistas. Um comunista nasce da mistura entre o amor extremo e a revolta sem fim e por isso tenho certeza de que venceremos essa luta e iremos recuperar o que é nosso por direito.

Eu tenho certeza de que um dia eu voltarei a sorrir da maneira mais genuína possível e tenho tranquilidade em entregar cada segunda da minha vida para garantir que isso ocorra, porque quero ter a certeza de que o calor que sinto no meu peito ao apreciar as belezas que essa vida tem a oferecer também seja sentido por todos que virão futuramente. Eu quero que todos sintam o mesmo amor que sinto por aqueles que amo e pela vida que nos cerca, quero que a beleza seja vista do amanhecer até o anoitecer e que possamos viver vidas plenas, sem tristezas ou arrependimentos quando a hora de partir chegar.

Para isso, lutemos, lutemos incansavelmente por cada dia da nossa vida, por cada momento da nossa existência e para que nossos peitos possam queimar não de ódio pelas injustiças, mas arder de amor pela vida que nos aguarda.

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