“O Governo do Estado ainda tem realizado uma série de remoções das famílias nas regiões da Suburbana e da Cidade Baixa, as quais, historicamente, ficam esquecidas pelos governos, que se preocupam apenas com as partes ricas da cidade.”
Vitória Louise e Victor Aicau
SALVADOR (BA) – O assunto do momento em Salvador é o VLT (Veículo Leve de Transporte). O povo soteropolitano tem falado bastante sobre a mudança do transporte público que atende a região do Subúrbio, com a destruição do trem, no valor de R$ 0,50, e sua substituição pelo VLT. A nova modalidade ligará esta região com a Cidade Baixa e a Cidade Alta, gerando a conexão em sua fase final com o metrô da Cidade, ao custo de R$ 3,90, segundo o secretário de Desenvolvimento Urbano do Estado, Nelson Pelegrino. O aumento é de oito vezes em relação ao preço atual.
O Governo do Estado ainda tem realizado uma série de remoções das famílias nas regiões da Suburbana e da Cidade Baixa, as quais, historicamente, ficam esquecidas pelos governos, que se preocupam apenas com as partes ricas da cidade.
No dia 12 de fevereiro, moradores do Bairro do Lobato realizaram um protesto, em frente ao Fórum Ruy Barbosa, contra a suspensão do transporte ferroviário no local. Eles denunciam ainda a falta de informações sobre as desapropriações. Nem o Governo do Estado nem a Prefeitura de Salvador estão dando o suporte necessário aos moradores da região.
Para Marivaldo Neves, coordenador de Pesquisa e Projetos da Sociedade Nacional Movimento Trem de Ferro, existe um projeto capitalista de ocupação do espaço que há anos serve de moradia para o povo. “O trem é hoje um empecilho para este projeto. Retirar o trem é apontar o primeiro passo de um horizonte de exclusão dos mais pobres da área”, explica o pesquisador.
Ele relata ainda que participou da construção do plano de desenvolvimento urbano de Salvador e que lá está prevista a modernização do sistema de transporte sobre trilhos a partir do fortalecimento da estrutura ferroviária. “O que mudou é que o governo começou a executar um projeto de destruição do sistema existente, e todo abandono do trem, nos últimos anos, é fruto desta mudança criminosa feita de maneira bem pensada para afetar a vida e a economia das pessoas. O valor da passagem subindo de 50 centavos para cerca de quatro reais forçará as famílias a se mudarem para regiões mais distantes, porque, no final do mês, o custo do transporte será o do preço de um aluguel. Este impacto econômico será direcionado aos mais pobres. Este projeto do governo não tem nenhuma relação com o real VLT que estava previsto”, denuncia.
Mas Marivaldo aponta que existe uma saída para a situação: “é a organização dos pescadores, das marisqueiras, das associações de moradores para que o Governo execute o projeto original, reduzindo o custo de vida, ajudando na locomoção e dando oportunidade para o povo se mover na cidade”.
Parceria Público-Privada
E tem mais. Além do aumento absurdo no preço das passagens, das remoções das famílias de seus locais de moradia, o Governo do Estado esconde que o projeto se trata, na verdade, de mais uma parceria público-privada (PPP) para enriquecer os capitalistas.
As parcerias público-privadas, na teoria, funcionam quando há cooperação do Estado com as empresas privadas para construir uma obra para o desenvolvimento da sociedade. Mas a prática é completamente outra: na realidade, o setor público entra com os investimentos e a empresa privada aparece para apanhar todo o lucro, e os consumidores pagam passagens mais caras.