Jovens cariocas na luta pela democratização do acesso à cultura

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NA PERIFERIA. Projeto Sementes de Afeto distribui livros em troca de sorrisos (Foto: Viajante Lírico)

Projeto social promove ações de democratização da cultura na periferia do Rio de Janeiro.

Luiz Otávio Burity
Diretor de Políticas Institucionais da AERJ


JUVENTUDE – Em um momento de muitos ataques à classe trabalhadora e à juventude, aumento do custo de vida e alto índice de desemprego, a esperança do povo por dias melhores e a luta contra a injustiça e o descaso precisam ser intensificadas a cada momento. Nessa perspectiva, devemos fortalecer nosso partido e a organização da juventude, bem como projetos sociais que tenham foco na defesa da vida, no acesso à cultura, educação e lazer para o povo e os jovens.

O projeto Sementes de Afeto (SDA) é um exemplo. Importante projeto social criado no meio da pandemia, em meados de agosto do ano passado, é formado por jovens movidos pela sede de justiça social e pela vontade de lutar pelo povo trabalhador e a juventude. O projeto se fundamenta na inclusão e visibilidade de pessoas em situação de rua, vítimas do enorme déficit habitacional. também tem como pauta a defesa do acesso de crianças e jovens a espaços  e eventos artístico-culturais, sempre respaldando a cultura, lazer, esporte e atividades literárias e educacionais como fatores preponderantes para a efetiva conscientização popular e formação crítica do ser humano. 

O SDA vem promovendo campanhas de arrecadação e distribuição de quentinhas para moradores em situação de rua, organizando festividades em comunidades para o público infantil, com atividades lúdicas e distribuição de brinquedos, e ações de doação de roupas e produtos de higiene para mulheres em situação de cárcere, esquecidas por familiares e amigos.

“O Sementes de Afeto surgiu no final de agosto de 2020 numa conversa minha com uma amiga. Ela veio com a ideia e eu abracei 100%, corremos atrás de tudo e acabou florescendo”, explica Jatobá, co-fundador do projeto, poeta marginal e integrante dos coletivos Atako RJ e Mente Ativa. “O que nos impulsionou e nos faz continuar é essa necessidade de cuidado com o mais vulnerável, pessoas ignoradas pelo governo e pela sociedade como um todo. Acreditamos numa construção de sociedade onde cada um se preocupa com o outro e respeita sua visão de mundo. Florestas não surgem do nada, antes é preciso plantar sementes”, acredita.

“O Brasil precisa de uma maior difusão da literatura e do pensamento crítico” (Foto: Viajante Lírico)

Cultura liberta

Em um cenário em que a ignorância e o negacionismo emanam do governo de Bolsonaro e sua corja, cabe a nós, enquanto trabalhadores conscientes e juventude crítica, o combate à desinformação e às chamadas “fake news”. Nesse sentido, devemos levar em conta a importância da cultura não apenas como mais uma questão de pauta, mas sim como um elemento central na constituição da identidade do indivíduo e que se reflete logo após no corpo social. Esse é o ponto que queremos chegar: trazer a perspectiva de cultura como tudo aquilo que pode ser representado, vivenciado e consumido por determinado grupo social ou sociedade. É daí que nasce a cultura periférica. 

Essa escola artística, que é reproduzida, vivenciada e consumida pelos próprios moradores da periferia é prova de que, mesmo com tantos problemas sociais, o povo trabalhador e a juventude periférica não se deixam abalar e continuam a avançar e com muito orgulho de duas raízes.

Desde fevereiro, o Sementes de Afeto vem realizando a campanha “Pegue 1 Livro, Custa 1 Sorriso”, que consiste na “venda” de livros, cujo “pagamento” é apenas um sincero e gracioso sorriso. O principal objetivo da ideia é democratizar o acesso à leitura e a difusão de sua importância. A ação acontece no berço periférico da cidade do Rio de Janeiro, o Parque Madureira, área de lazer no subúrbio carioca onde circulam diariamente centenas de trabalhadores, jovens, crianças e idosos.

“Gostei muito de ter participado da ação. Acho muito importante esse tipo de iniciativa, levando em consideração que vivemos em um país em que cerca de 50% da população com mais de 25 anos não completou nem o ensino médio. É uma nação que precisa de uma maior difusão da literatura, do conhecimento e do pensamento crítico”, afirma Paulo Salvador, o “PS Raio Negro”, um dos integrantes do SDA.

Um sorriso que pode mudar o mundo (Foto: Viajante Lírico)

Ler é um ato revolucionário

Em um país onde o próprio Presidente da República boicota a cultura e a educação, corta verbas das escolas e universidades, fecha bibliotecas e taxa a compra de livros pela população, a democratização do conhecimento é fundamental. 

De fato, os livros são imprescindíveis para a difusão do conhecimento científico e o combate ao negacionismo. “Nosso papel é conscientizar a população e fazer as pessoas entenderem um pouco de como o sistema funciona e é exercido”, acredita Paulo. 

É preciso democratizar o acesso ao teatro, à dança, aos cinemas, bibliotecas, museus e centros e atividades culturais, hoje espaços elitizados, e reconhecer a periferia como um vasto e diverso centro cultural. 

A cultura precisa ser encarada por seu caráter conscientizador e classista, não se reduzindo a meros eventos festivos. Por isso, ações como o Sementes de Afeto precisam ser incentivadas, pois trazem esperança para as pessoas na luta por uma sociedade justa, crítica e livre.