Bento Xavier
SÃO PAULO – Nos últimos dias 3 e 5 de maio, professores, estudantes e moradores do bairro Jardim Arco-íris, junto com a Associação de Moradores do bairro, a APEOESP, a ARES ABC, o MLC e a Unidade Popular, se manifestaram nas ruas de Diadema contra a a aplicação do Projeto de Ensino Integral (PEI) que, se aplicado, será responsável pelo fechamento das turmas do período noturno e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) nas E. E. Soldado José Iamamoto e E. E. Prof. Sylvia Ramos Esquivel.
O PEI é um projeto do Governo do Estado, comando por João Dória (PSDB), que têm promovido a adoção de ensino integral por parte de algumas escolas, prometendo a realização de diversas atividades durante o período letivo para melhorar o sistema de educação. No entanto o projeto tem sido questionado pela comunidade escolar, pois não há qualquer detalhamento que explique como escolas que hoje sofrem com falta de estrutura, não conseguindo nem mesmo fornecer o básico, como papel higiênico, poderão garantir as condições para turmas em período integral.
Assim como nas escolas do Jardim Arco-íris, em muitas outras a direção da escola é a favor do projeto e tenta executá-lo passando por cima da comunidade escolar, que não é envolvida nas discussões, mas que gostaria de questionar: de que forma a escola, que não tem condição de ter uma biblioteca, irá manter o ensino integral? Como ficará o ensino noturno e o EJA que atendem trabalhadores e jovens que não tem condições de frequentar outro período e que seriam realocados para escolas mais distantes? Como a realocação dos estudantes para a aplicação do Ensino Integral nessas escolas afetará o ensino das outras escolas, que irão receber mais alunos e se sobrecarregar com mais estudantes?
Esses são alguns dos questionamentos de quem participa da vida escolar e sabe do sucateamento que o governo estadual do PSDB tem implantado no ensino público durante os seus mais de 20 anos de gestão. Um governante como João Dória, que sugere que a merenda escolar seja composta por ração alimentar, não está ao lado do povo; seus projetos golpeiam o ensino público e dificultam que o povo pobre e trabalhador tenha acesso à educação, dessa forma, contribuindo para a manutenção do analfabetismo total e funcional e dificultando o acesso ao ensino superior, que é disputado injustamente entre jovens pobres e ricos através dos vestibulares.
Nas manifestações os participantes deixaram claro que têm interesse na gestão escolar pública, que esta deve ser transparente e possibilitar o real acesso à educação. Não aceitaremos promessas infundadas de um ensino que, na realidade, poderá excluir os trabalhadores e que não terá nem mesmo o orçamento necessário para cumprir o que promete.
Nesse momento de pandemia, em que o governo estadual tratou com descaso a situação de estudantes que não tinham condições de manter o ensino à distância, tentam passar uma mudança no ensino público na surdina, sem explicar o novo funcionamento nem as consequências das mudanças. Por isso é necessária a participação dos trabalhadores, estudantes e toda a comunidade envolvida com o sistema escolar para defender melhorias e transparência na educação.