Esteban Crescente
Rio de Janeiro
RIO DE JANEIRO – No dia 12 de maio de 2020, o trabalhador terceirizado e estudante de Educação Física Wilton Oliveira Costa, conhecido como Sinha, foi preso no seu local de trabalho, o Hospital Federal do Andaraí, na Zona Norte do Rio de Janeiro, acusado injustamente de ter roubado uma moto em fevereiro. Mesmo o crime tendo sido cometido no mesmo dia e horário em que Sinha estava trabalhando, ele foi indiciado em sete processos e levado para o presídio Ary Franco, um dos piores do Rio de Janeiro.
A partir daí, a família de Sinha, liderada por sua esposa Marcele Oliveira, moradores do Morro do Encontro (onde morava), amigos da faculdade e militantes de movimentos sociais e da UP passaram a denunciar publicamente essa injustiça e pedir a liberdade do jovem.
Ainda em junho de 2020, a 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça negou habeas corpus para Sinha, apesar de todas as evidências do engano. Assim que soube da notícia, a comunidade organizou uma manifestação na entrada do morro. “É muito ruim se sentir impotente, conhecer alguém a vida inteira e saber que essa pessoa está sendo acusada de um crime que jamais cometeria. Sei que isso é por conta da cor de pele do Wilton. Somos sempre mal vistos. Sou preta, moradora de favela, mas não sou bandida. Minha família não merecia passar por isso, ninguém merece passar por isso”, disse Marcele à época.
Liberdade conquistada na luta
A manifestação ganhou força nas mídias e pressionou o Judiciário a decretar o habeas corpus de Sinha em 4 de julho de 2020, depois de 54 dias preso.
A luta agora era para garantir sua inocência, que veio no último dia 20 de abril. Após a quarta audiência da quarta acusação, Wilton obteve a quarta e definitiva absolvição. Este julgamento foi o mais importante, pois tratava da acusação do roubo da moto. A investigação policial escancarou o absurdo da situação, uma vez que o dono da moto nunca havia reconhecido Wilton como o assaltante.
Racismo do sistema penal
Sem dúvidas, o racismo se fez presente em mais essa acusação injusta contra um jovem negro morador da periferia. Essa, aliás, é uma marca do sistema penal brasileiro. Segundo dados do Ministério da Justiça, o Brasil conta com uma população encarcerada de mais de 770 mil pessoas, em sua maioria homens negros. Desses, cerca de um terço sequer foram julgados pelos crimes pelos quais são acusados, ou seja, mais de 250 mil pessoas.
O caso de Wilton foi mais um nessa cruel estatística. Sua liberdade e inocência foram conquistadas graças à mobilização e organização da família e da comunidade, que contaram com o apoio e solidariedade de parlamentares de esquerda, como o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), de movimentos sociais e da Unidade Popular (UP).
“Não imaginava que poderiam existir pessoas que tomariam para si esta luta. No dia do protesto não pensei que haveria tanta gente. De repente, quando cheguei no local, várias pessoas com camisas da UP estavam lá e se colocaram para ajudar na passeata. Foi muito importante a presença de vocês”, disse Marcele, esposa de Sinha. Hoje, os dois estão filiados à UP e ajudam a construir a luta para que nenhuma pessoa seja mais vítima de injustiça em nosso país.