Leonardo de Carvalho e Lucas Neumann
PORTO ALEGRE – O futebol é o esporte mais popular do mundo, move milhões de torcedores e torcedoras, capazes dos maiores sacrifícios para acompanhar seus clubes e seleções do coração. Contudo, infelizmente, no sistema capitalista os ricos transformam tudo em mercadoria, e com o futebol não é diferente.
Prova disso é que em meio a pandemia da covid-19, que já matou milhões de pessoas em todo o mundo, as competições oficiais de futebol seguem normalmente após breves paralisações no início da crise sanitária. Não bastasse isso, a Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL), com anuência do Governo de Militares de Bolsonaro, realizará a Copa América 2021 no Brasil, após as recusas de Colômbia e Argentina e em meio a pior fase da pandemia no país.
Esporte do povo?
A verdade é que a continuidade dos torneios de futebol no Brasil e no mundo ocorrem porque o mercado capitalista não pode parar: são vários contratos de transmissão para as grandes redes de TV aberta e a cabo, patrocinadores, bilhões de reais envolvendo transações, transferências, compra e venda de direitos de jogadores. A burguesia brasileira e estrangeira não pode parar de extrair seus lucros mesmo que isso cause dezenas de surtos de covid entre jogadores e funcionários, familiares de jogadores mortos e contaminados, aglomerações nos arredores de estádios e bares ou que se negue vacina ao povo do maior país da américa latina enquanto o “espetáculo” continua.
A CONMEBOL há muito tempo não é uma instituição democrática, tão pouco o é a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que poderia ter uma postura digna do povo brasileiro e recusar-se a sediar a Copa América, como em 1918, em meio à gripe espanhola, o Brasil se recusou a sediar o Campeonato Sul-Americano. A verdade é que as empresas que hoje comandam o futebol profissional, a FIFA dos corruptos João Havelange e Joseph Blatter, a CONMEBOL do falecido Nicolás Leóz e a CBF, dos condenados Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, são instituições afundadas em escândalos de corrupção e se preocupam apenas com seus altos lucros, ganhos através da exploração da paixão de milhões de torcedores, que são desrespeitados o tempo todo.
Futebol e alienação
Recentemente, durante a disputa de uma partida da Copa Libertadores da América, principal torneio de clubes de futebol da América do Sul, a CONMEBOL manteve o jogo América de Cáli x Atlético-MG, em Barranquilla, em meio ao protestos vividos na Colômbia, nos quais milhares de pessoas têm ido às ruas contra a reforma tributária e o governo de Iván Duque e sido reprimidas pela polícia e o exército, que já assassinaram dezenas de trabalhadores.
Enquanto os confrontos se acirravam do lado de fora do estádio Romelio Martínez, dentro de campo, o futebol seguia com seu processo de alienação, mostrando que para os dirigentes do futebol da América do Sul pouco importa se o povo está sendo massacrado do lado de fora, afinal “o show precisa continuar”. A decisão absurda de continuar o jogo seguiu mesmo a partida tendo que ser interrompida por ao menos 5 vezes, devido ao gás lacrimogêneo, utilizado pela polícia no lado de fora, adentrar o campo e dificultar a respiração dos jogadores.
Esse tipo de comportamento não é novidade na agremiação sulamericana, no início de 2020 foi mantida a partida entre Universidad de Chile x Internacional em meio aos grandes protestos que estavam ocorrendo no Chile. Na semana da partida um torcedor do Colo-Colo morreu atropelado pela polícia, levando as torcidas organizadas do país a se unirem pedindo a paralisação do futebol; durante a partida citada a torcida realizou um protesto, a ponto de ocorrer um incêndio nas arquibancadas em meio à repressão dos policiais aos torcedores, mas mesmo assim a bola seguiu rolando dentro de campo.
Em meio a falta generalizada de vacinas nos países da América do Sul, em especial as regiões mais empobrecidas, a CONMEBOL tratou de garantir para si a doação de um lote de 50 mil vacinas do laboratório chinês Sinovac. O presidente da entidade fez questão de fazer um agradecimento público ao Presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, e ao Embaixador do Uruguai na China, Fernando Lugris, que seriam os principais responsáveis pela parceria com a Sinovac.
Entretanto, algumas semanas depois, se tornou nítido que o apoio do governo uruguaio era uma clara troca de favores, para garantir Montevidéo como sede das finais da Libertadores e da Copa Sul-Americana em 2021. Essa articulação garantiu que a Conmebol se tornasse a primeira organização privada no mundo a garantir doses da vacina.
A Conmebol procurou o Brasil para ser sede da Copa América, porque sabe que no Brasil existe um governo fascista que não se importará de receber a competição para garantir os vultosos lucros dos burgueses que dominam a Confederação, mesmo que isso custe a vida de milhares de pessoas. No entanto mobilizações têm sido feitas no país para denunciar o absurdo da realização do torneio e defender um futebol popular e democrático, sem o domínio das grandes corporações sobre o esporte mais popular do mundo.
Baita matéria, e concordo que infelizmente o futebol que foi criado por gente humilde e pobre, está literalmente sendo transformada e infelizmente tomada pelos ricos, onde o que importa mais são o dinheiro entrando nos bolsos dos poderosos.