Moradores de ocupação em São Carlos lutam contra violência policial e descaso do Estado

233
MOBILIZAÇÃO – Moradores se organizam para superar dificuldades causadas pela violência e o descaso do Estado (Foto: Reprodução)

Felipe Magdalena

SÃO PAULO – A Ocupação “Em busca de um sonho”, na cidade de São Carlos, interior de São Paulo, abriga 46 famílias que vivem com até um salário mínimo e sem acesso a água, energia elétrica ou saneamento básico, na mesma cidade do Prefeito mais rico do Brasil, o bolsonarista Airton Garcia (PSL), com um patrimônio de mais de R$220 milhões. O jornal A Verdade entrevistou o morador Lukinhas sobre a situação da ocupação, em especial sobre os constantes conflitos com a polícia vividos no último período.

Lukinhas (apelido) mudou-se para a ocupação há quase dois anos em busca de um lugar melhor para viver e compartilha diversas experiências de abandono completo do Governo: “No começo da ocupação teve guerra das pessoas da ocupação com a polícia. A maioria bateu o pé e ficou lutando, pedindo ajuda… Depois de luta atrás de luta, já não tinha mais como tirar a gente daqui. Já tinha muita gente ocupando o terreno: muitas famílias e crianças. Algumas famílias depois dos primeiros confrontos com a polícia, ganharam casas no Planalto Verde… É isso que a gente quer, daí pra melhor!”.

NA LUTA – Lukinhas tem se organizado para lutar por sua moradia e por seus direitos na cidade (Foto: A Verdade)

Ele conta também sobre outras atitudes violentas e comuns das forças do Estado na ocupação: “A polícia justifica o combate ao tráfico pra invadir nosso barraco. Entra sem pedir licença nem nada… As vezes nós estamos comendo, dormindo, escutamos um barulhão da polícia arrombando nosso barraco, seguido de correria de PM pra cá e pra lá. É disso que nós temos medo, nós somos ser humano, temos família, não queremos ser humilhados e tratados com arrogância e violência. Eles deveriam ter um pouco mais de humanidade e consciência, afinal quem mora aqui são famílias trabalhadoras e nós queremos respeito.”

A polícia utiliza o discurso de guerra as drogas para cometer abusos contra a comunidade, mas quando os moradores realmente precisam de auxílio, são ignorados pelo Estado: a violência é constante contra moradores, mas os policiais não ajudam em casos de incêndios, soterramentos, deslizamentos e outras situação vividas na região.

Militantes da luta por moradia relatam já ter presenciados casos de ameaça contra moradores, inclusive com armas apontadas para os trabalhadores de maneira arbitrária. Viaturas constantemente rondam a comunidade, ás vezes por dias inteiros, causando medo e apreensão.

Lukinhas fala sobre essa experiência de ser oprimido por quem, em tese, deveria auxiliar os moradores: “Aqui nós já estávamos com medo de umas árvores caírem no nosso barraco, porque quando começa a ventar é só reza brava que segura nossa casa. Eu juntei com um amigo meu para cortar umas árvores menores, e já ajudou um pouco, mas as maiores nós pedimos ajuda dos bombeiros… Não adiantou de nada, eles ainda responderam tirando com a nossa cara, perguntando quem tinha chegado primeiro, se nós ou a árvore.” E continua: “Algumas semanas depois, a árvore caiu e por sorte não machucou ninguém, mas acabou com o meu barraco. Na hora meu amigo e a esposa já acolheram eu e minha mulher, ajudando a sair da casa destruída. Chamamos mais uma vez o bombeiro, mas eles só chegaram na manhã seguinte… Nós fomos obrigados a dormir na chuva, no meio dos galhos da árvore. Não satisfeitos em demorar, quando chegaram, terminaram de quebrar a minha casa tirando árvore: destruíram o meu fogão, e entortaram ainda mais o meu barraco. Não tô mentindo pra vocês, pela estrela que brilha no céu, nós tremia de frio enquanto os bombeiro davam desculpa que tinha muita árvore pra atender. Do jeito que essa caiu, eu pedi pra ele cortar outra que tava aqui do lado. Ele não cortou e não deu outra, caiu também. São Carlos chove, enquanto não derem um jeito a gente vive no perigo de morrer.”

As ocupações são um grande exemplo de como o povo unido é capaz de enfrentar as dificuldades e superar problemas, por isso, o Estado usa todas as formas disponíveis para tentar acabar com esses exemplos de resistência, seja pela violência direta, como nas reintegrações, seja pelo abandono, mantendo as famílias sem acesso à serviços básicos.