Reflexões sobre o rumo da luta pela derrubada do Governo Bolsonaro

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Leonardo Pericles, presidente da UP


Leo Pericles em ato pelo Fora Bolsonaro. Foto: Sthefany Paula

Li nesta manhã o artigo de avaliação do ato nacional deste 24 de julho do sociólogo Rudá Ricci denominado “O atual ciclo de manifestações bateu no teto” e gostaria de fazer alguns comentários a partir de um trecho que considerei extremamente pertinente.

Rudá afirma no final de seu artigo: “Talvez, nesse mundo tão acelerado, as manifestações tenham que, a partir de agora, ser reformatadas. Adotar algo mais espetacular. Superar a plástica das procissões. Avançar politicamente. Ser temidas para serem respeitadas”.

Apesar de ter algumas divergências de avaliação, como, por exemplo, não considero que as manifestações bateram no teto, mas esse trecho que destaco aqui, considero extremamente pertinente.

Neste sentido, quero apresentar exemplos práticos: o presidente genocida tem feito várias motociatas país afora. Aqui em Belo Horizonte, fará mais um de seus passeios de comemoração da morte no próximo domingo (01/08).

O que deveriam fazer o conjunto das organizações de esquerda, na minha humilde avaliação?

Marcar um novo ato, sendo convocado em plena unidade pelo conjunto das forças de esquerda, para o mesmo dia, para enfrentar a motociata. Isso mesmo, ir pra cima, marcar uma manifestação que afronte os fascistas e o atual presidente. Isso que se espera de uma esquerda que mereça ser chamada como tal. E um ato, se convocado conjuntamente por todas as organizações de esquerda, tende a ser grande em todas as grandes cidades do Brasil, e, neste caso, falo com propriedade sobre a realidade de nossa capital mineira, que é uma das cidades que, nos últimos anos, desde o golpe institucional (2015/2016), mais mobiliza gente, proporcionalmente, nas manifestações. E nessa cidade praticamente todas essas manifestações da esquerda foram maiores, muito maiores, que as da direita.

Neste sentido, temos em nossa frente uma oportunidade ímpar. Convocar um ato muito maior que o das forças de direita, termos a oportunidade de desmoralizar o inimigo, criar um fato político marcante e de repercussão nacional. Lembremos que, como nos ensina a arte milenar da guerra, no processo de enfrentamento com o inimigo, é determinante impor derrotas ao inimigo, das pequenas às grandes derrotas, impor sua desmoralização moral e política, e elevar o moral de suas próprias tropas.

E acrescentamos que aqui não estamos propondo ações sem povo. Olhemos para nossa própria história, que os avanços que a esquerda teve não foram com esta sendo dócil, mas sendo rebelde, partindo para o enfrentamento político e prático, mobilizando efetivamente o povo. E olhemos também para os países da América Latina. No Chile, na Colômbia, no Equador, no Peru, na Bolívia, etc., foi assim que a esquerda obteve avanços consideráveis.

Aí entra a questão: a maioria das organizações políticas no Brasil elogia as manifestações neste referidos países da América Latina, mas, quando é para fazermos “Chiles”, “Colômbias”, “Bolivias” por aqui, a situação é outra, o discurso é “radical demais”. Neste sentido, a queima da estátua que homenageia o assassino de indígenas Borba Gato, em São Paulo, foi uma ação simbólica que fortalece esse imaginário popular de que o caminho é o enfrentamento.

Acrescento sobre isso, outra reflexão. Lembremos que, para que a luta efetivamente avance, no sentido da derrubada do Governo Bolsonaro, o passo à frente é a preparação de uma grande Greve Geral, que pare a produção e a circulação de mercadorias, que ataque, portanto, os interesses das grandes empresas, dos bancos, do agronegócio, dos bancos, que são base central de sustentação do governo, pois ganham e muito com a política econômica promovida pelo mesmo. A sua realização não pode ser construída de um dia para o outro e depende de grande esforço e unidade do conjunto da esquerda.

Temos que, portanto, romper com o neoliberalismo, com as estruturas do capital financeiro, das reformas contra a classe trabalhadora e o povo. A luta de classes está aberta, não existe um teto pré-estabelecido, o que existe são os interesses da classe trabalhadora e os interesses dos que exploram e oprimem, da burguesia e seus aliados. Acumulamos quantitativamente em mortes por Covid, em desempregados, em retirada de direitos. Só avançamos a consciência da classe trabalhadora enfrentando efetivamente esse estado de coisas. Se não houver essa unidade de interesses com a classe trabalhadora, que é o que move as pessoas, as lutas realmente voltam pra trás.

Sem dar esse passo à frente, predominando este estado de ânimo na esquerda, mais baseado nas eleições de 2022 do que no enfrentamento com o fascismo em 2021, realmente podemos “bater no teto” dos atos e da luta pela derrubada deste governo. E, caso isso aconteça, estaremos brincando com fogo, pois o fascismo é um inimigo para não ser cozinhado a banho-maria, é para ser derrotado, esmagado. Caso não façamos isso, ele se reorganiza, ganha força e nos esmaga. Reafirmar a unidade para luta, e não para a conciliação, é o caminho para vencermos. Sigamos!