Taissa Santos Reis, João Gabriel e Jean Torres
BOITUVA – Nas últimas semanas um dos assuntos mais debatidos pela população de Boituva tem sido a água que chega às casas. Desde o início de setembro moradores têm denunciado que a água tem tido aspecto duvidoso: cor mais escura do que o normal, gosto de barro e mau cheiro.
Apesar das inúmeras reclamações feitas por moradores sobre a qualidade da água, tanto a prefeitura de Boituva como a Sabesp se posicionam de maneira superficial, colocando a responsabilidade no manancial onde a água é captada. A situação é tão crítica, que enquanto isso, várias famílias estão comprando água mineral para um consumo seguro, uma vez que as características da água da torneira têm gerado medo dos riscos que pode causar à saúde. Isso se dá devido a quantidade de moradores que relatam passarem mal após tomarem a água encanada, os sintomas envolvem diarréia e vômito.
“Aqui em casa foram 7 pessoas que passaram mal com a água. Tivemos diarreia e dor no estômago. Com início dos sintomas no dia 4, porém só conseguimos entender o que era no dia 6. Os pais das crianças tiveram que comprar água para mandar, já que a de casa estava muito ruim. Ficamos nessa situação há duas semanas, tendo uma das crianças passado mal três vezes.” – Afirma Gabriela Cisotto, moradora do centro de Boituva junto com sua mãe que trabalha cuidando de crianças.
Já dona Daniela, moradora do bairro Santo Antônio, afirma que apesar de comprar água mineral para a família tomar, tem banhado seu filho recém nascido Felipe com a água barrenta: “Nós conseguimos comprar, mas e aqueles que não conseguiram?! Compramos apenas para beber, mas mesmo o banho do meu filho mais novo Felipe foi dado com essa água.”
Uma alternativa para quem não pode comprar água mineral é buscar água numa bica, localizada no bairro Santa Adélia, na zona rural da cidade, porém com a distância e sendo boa parte dos moradores da cidade dependentes do transporte público, a bica fica reservado aos que têm carro e paciência para esperar até mais de duas horas na enorme fila de carros que se formam no local.
“Nós usavamos água da bica antes, porém está sendo ainda mais procurada pelas condições da água da torneira. A nossa água não ficou com gosto ruim, porém ficou uma aparência meio barrenta. Costumamos demorar de 30 a 40 min na fila para encher o galão, hoje, estamos buscando água às 5h da manhã para não ter que enfrentar a fila.” – Afirma Rafaela Proença, moradora do bairro Recanto Primavera I.
A crise da água se dá em um momento difícil para as famílias do município, apesar de vários comércios e estabelecimentos passarem a utilizar água mineral de galão, as escolas da cidade estão em plena retomada das aulas com 100% da capacidade na rede municipal de ensino e os alunos continuam consumindo essa mesma água escura e com mau cheiro. Como se não bastasse a carestia dos itens da cesta básica, do gás de cozinha, da energia elétrica e do próprio serviço de água, o valor do galão de água que custava em média R$16,00 hoje é encontrado por até R$30,00, ou seja, se não tem dinheiro precisa tomar a água suja.
Isso é fruto da política de desmonte dos serviços públicos gerenciados pelo governo do estado. João Dória (PSDB) e sua trupe de engomadinhos sonham com a privatização da Sabesp e sabem que para isso precisam piorar ao máximo o serviço prestado para justificar jogar nas mãos do mercado a “joia da coroa”, como afirmou ao Estadão o vice governador Rodrigo Garcia (PSDB).
A estatal hoje tem capital ativo em cerca de 50,92 bilhões, e a ganância dos capitalistas representados pelo governo do PSDB está muito bem alinhada com as políticas neoliberais de privatização que Paulo Guedes e Bolsonaro têm colocado para outras estatais, como é o caso dos Correios.
Nenhuma privatização interessa ao povo! Enquanto os ricos controlarem o estado, os pobres vão seguir bebendo água suja, se endividando para manter suas famílias e cada vez mais ameaçados pelo desemprego e pela fome.
Não podemos deixar que as políticas neoliberais joguem lama em nossas torneiras, é preciso fazer forte pressão popular para que a possamos ter nossos direitos mais básicos garantidos pelo estado, acesso à água é um direito de todos os trabalhadores! Essa situação precisa mudar, devemos nos organizar e construir a luta popular em defesa do que é nosso! Essa luta é de todos nós!