Moradores lutam contra despejo de ocupação no interior de São Paulo

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DESPEJO ZERO – Moradores realizam ato contra despejo de ocupação de suas moradias. (Foto: Jornal A Verdade)

As famílias da ocupação Parque Loja da China, na cidade de Campo Limpo Paulista, na região de Jundiaí, estão apreensivas, lutando contra uma ordem de despejo dada pela juíza Gabriela da Conceição Rodrigues.

Marta Domingues


SÃO PAULO – O despejo faz parte do processo de reintegração de posse pedido pela incorporadora imobiliária DGL Imobiliários. Segundo os moradores, a documentação apresenta várias divergências em relação à área ocupada por eles. Além de ser um perímetro bem maior que consta nos autos, a topografia também é diferente do local, aparentemente, os documentos não são daquela área. Além disso, a rede de água passa pelo terreno, o que dá a entender que é uma área pública. 

Prefeitura pressiona para moradores saírem do local

Na tentativa de dificultar o acesso de veículos, a prefeitura municipal de Campo Limpo Paulista enviou seus próprios funcionários, acompanhados da guarda civil, para colocar manilhas e fechar a rua que dá acesso às casas. Além disso, proibiram os motoristas das ambulâncias de entrarem na rua para atender emergências dos moradores, alguns com sérios problemas de saúde. A guarda faz rondas no local, intimidando os moradores, que resistem em ficar, por não terem para onde ir.

Os vereadores, ao serem procurados, não quiseram se envolver com o problema. Parecem ter esquecido que foram eleitos pelos cidadãos.

Famílias lutam por seu direito de morar dignamente

DIREITO À MORADIA – Famílias lutam por ter direito à moradia digna. (Foto: Jornal A Verdade)

Os moradores da ocupação se mobilizaram e realizaram uma grande manifestação em frente a prefeitura municipal, para exigir o seu direito de morar.

A ocupação abriga hoje 180 famílias. São trabalhadores e trabalhadoras, mães, pais, filhos e filhas que precisam de amparo dos órgãos públicos, pois a maioria está em situação de desemprego, dependendo de doações para sobreviver. Alguns ganham auxílio, mas o valor é insuficiente para as necessidades básicas, alguns estão empregados, mas o salário é muito baixo para pagar o aluguel e alimentar a família. 

Érica, uma das moradoras da ocupação, relatou que não pode trabalhar por conta de um problema no pé esquerdo, que incha e dói. Ela conta que após sofrer um acidente, passou por cirurgia, mas teve que voltar a trabalhar antes do tempo, por ter sido mal avaliada pelo médico do trabalho. Ela trabalhava em pé o dia todo, e sentia dor, a recuperação da cirurgia foi prejudicada. Devido a isso, o parafuso ficou preso no osso. Ela acionou a justiça, mas ainda não obteve resultado.

Já Luciano e a esposa, um casal de idosos, ela tem problemas decorrentes da hidrocefalia, às vezes precisa de atendimentos de urgência, o pouco dinheiro que ganham é para se alimentar e comprar remédios.

Os moradores dizem que antes deles se mudarem para lá, o local era abandonado, cheio de mato e lixo, funcionando como um desmanche de carros. A ocupação deu uma função social ao lugar, e agora a justiça quer tirá-los de lá.

Onde estava a justiça e as autoridades públicas, quando funcionava ali um desmanche de carros?

Não é justo essas pessoas serem despejadas, sem ter para onde ir. O aluguel de um imóvel de 2 cômodos e banheiro em um bairro distante na cidade, custa no mínimo 600 reais, um botijão de gás custa 110, água e energia para uma família de 4 pessoas custa em média 250, o salário mínimo é 1100 reais, e quase não cobre estes custos, não sobra dinheiro para comprar alimentos e nem remédios. 

A crise do desemprego e da moradia se alastra por todo o Brasil, e as famílias pobres estão cada dia mais, passando fome, e morando nas ruas, por falta de políticas públicas. O governo Bolsonaro é o “governo da morte” e não se importa com o povo. Na nossa cidade não é diferente, o PSDB segue a mesma linha de pensamento, abandonando os munícipes que estão passando por dificuldade financeira e problema de moradia.

Moradores contam que foram ao departamento de habitação da prefeitura municipal, mas não obtiveram ajuda, pois o programa do CDHU está paralisado. Além disso, a lista de pessoas que se inscreveram no programa de moradia está desatualizada, que provavelmente muitas delas já devem ter se mudado ou desistido. Portanto, se faz necessário uma atualização da lista de espera e retomada urgente do programa de habitação para as famílias mais necessitadas, com prestações baixas, para que elas tenham condições de pagar.

DESPEJO ZERO – Os despejos na pandemia estão proibidos pela Lei do Despejo Zero. (Foto: Jornal A Verdade)

As famílias não sairão de suas casas para morar na rua. Despejo na pandemia é crime! 

No Brasil, a especulação imobiliária, empurra cada dia mais as famílias para a periferia, em 2018 foi feito um levantamento que identificou que existem 6,9 milhões de famílias sem casa e 6 milhões de imóveis desocupados a décadas, muitos estão abandonados, enquanto isso as pessoas estão dormindo nas ruas.