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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Grandes empresas lucram 1.000% com inflação e redução de salários

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Foto Jorge Ferreira / Jornal A Verdade

Luiz Falcão


Os trabalhadores brasileiros, além de suportarem a maior alta do custo de vida dos últimos 20 anos, estão recebendo salários mais baixos. Essa realidade foi confirmada pelo boletim Salariômetro da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe): 70% das negociações salariais ocorridas até setembro deste ano terminaram com os salários tendo reajuste menor que a inflação; 23% tiveram reajustes iguais à inflação e apenas 9,5% conseguiram ganhos reais. Em consequência, o piso médio do salário ficou em R$ 1.396 no mês passado, abaixo dos R$ 1.411, dos últimos 12 meses.  

Os salários tiveram reajuste nominal, pois, na verdade, seu valor real foi reduzido, o que significa que compramos menos do que há um ano. Em outubro, uma cesta básica em São Paulo custava R$ 673,45; em Florianópolis, R$ 662,85; e em Salvador, R$ 478,86, informa o Dieese.

  Os patrões, os donos dos meios de produção e dos supermercados, sabem que os preços da carne, do café, da gasolina, do botijão de gás, do pão e do leite, do aluguel, subiram e muito, afinal são eles que decidem esses aumentos. Mas, como 13,7 milhões de trabalhadores estão desempregados e 31,1 milhões de pessoas estão subutilizadas, subocupadas ou trabalham um número insuficiente de horas, embora queiram (e precisem) trabalhar mais horas, os  vampiros da sociedade (a burguesia) rebaixam os salários, convencidos de que terão milhões de homens e mulheres procurando uma vaga de trabalho. 

Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP) e responsável pelo boletim Salariômetro, explica o que está ocorrendo: “A perda salarial durante as negociações se deve a dois fatores: a desocupação, que tira o poder de barganha do trabalhador, e a inflação, que corrói os salários. É o pior dos mundos”.

Pior dos mundos para o trabalhador. Para o capitalista, a perda salarial imposta aos trabalhadores significa aumento dos lucros, pois terão o operário trabalhando com salário menor a mesma quantidade de horas, mas venderão as mercadorias com preços reajustados pela inflação. Além do mais, as novas máquinas e tecnologias aumentaram a produtividade dos trabalhadores, o que possibilita também maiores lucros para as empresas capitalistas. 

O operário constrói o prédio, mas não tem casa nem salário digno. Foto: Rafael Freire / JAV PB

De fato, levantamento da Economatica apontou que o lucro líquido das empresas não financeiras teve um crescimento de 1.012% no 2º trimestre de 2021. No ano passado, neste mesmo período, essas 277 empresas¹ tiveram lucro de R$ 6,67 bilhões. Este ano, alcançaram R$ 74,2 bilhões, graças à exploração que realizam dos trabalhadores e do povo brasileiro.

Não nos espantemos, é isso mesmo: em apenas três meses (abril, maio e junho), essas empresas cresceram seus lucros em mais de 1.000%, enquanto a maioria do povo brasileiro passa fome, vasculha lixos em busca de restos de comida, fica horas em filas para conseguir ossos ou pés e carcaças de frango e usa lenha ou carvão para cozinhar porque não tem dinheiro para comprar um botijão de gás ou pagar a conta de energia elétrica. E ainda: 27,4 milhões de brasileiros vivem com menos de R$ 261 ao mês.

Nada disso é vontade de algum deus. Esta injustiça é resultado da ganância insaciável dos capitalistas. Lembremos o que disse Jesus Cristo: “Pois mais fácil é passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus” (Lucas 18:24-25).

Com efeito, a alta dos preços e a redução dos salários são resultados da aprovação da reforma trabalhista pelos deputados e senadores do “Centrão” e da política do Governo dos generais e dos banqueiros, que tem como objetivo tornar a vida dos ricos um paraíso e a dos pobres um inferno. Exemplo disso é que, mesmo diante da carestia e da inflação, o governo mantém o salário mínimo em R$ 1.100,00, quando o valor real deveria ser R$ 5.637,66, calcula o Dieese. Para piorar, o Banco Central aumenta a taxa de juros a cada semana para beneficiar os bancos donos dos cartões de crédito.

Lamentavelmente, a imensa maioria dos sindicatos baixa a cabeça diante dessa situação. Os modernos pelegos dizem que nada podem fazer, pois os patrões ameaçam demitir ou fechar a fábrica se houver greve. Conversa fiada. É claro que numa sociedade capitalista, os meios de produção e de distribuição pertencem à burguesia, e, consequentemente, é para esta classe que o trabalhador vende sua força de trabalho. No entanto, se o trabalhador se recusar a trabalhar, o patrão será obrigado a ceder, pois algum patrão vai sair da sua mansão para recolher o lixo nas cidades? Irá fabricar o pão? Construirá os edifícios? Fará o metrô e os ônibus circularem nas cidades? Vai deixar de dar ordens para plantar e colher os alimentos? Será que os novos pelegos desconhecem que as lutas dos trabalhadores sempre cresceram durante as crises econômicas e que, enquanto não se criarem as condições para a batalha que porá fim ao sistema capitalista, é indispensável combater os abusos e lutar contra a exploração da classe dos patrões, da burguesia? 

 A verdade: o que ocorre hoje é que muitos dirigentes sindicais têm medo de impulsionar o movimento, pois sabem que uma das consequências naturais desse avanço será o aparecimento de novas lideranças e não querem ter nenhuma ameaça aos cargos que ocupam nos sindicatos. Outros imaginam que podem voltar ao Governo e é melhor acalmar a grande burguesia em vez de enfrentá-la. Acontece que a dialética da história é inevitável, e um dia, como escreveu o poeta, o operário reflete, adquire consciência da exploração que sofre, se levanta e diz “não”. É claro que se os trabalhadores tiverem o auxílio de uma vanguarda que denuncie essa exploração, esse dia chegará mais rápido. Pois bem, nesse dia, o patrão e o pelego nada poderão mais fazer para deter essa massa humana de desempregados, esfomeados e superexplorados. Lembremos então os versos de Vinicius de Morais:

 

“Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

– Loucura! – gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
– Mentira! – disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.”

(O Operário em Construção, Vinícius de Moraes)

 

¹As empresas que tiveram o gigantesco aumento do lucro líquido em três meses são dos setores de alimentos, bebida, petróleo e gás, mineração, energia elétrica, construção, entre outros. 

Lula Falcão, membro do Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário ( PCR)

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