A cidade hoje em dia contém uma massa gigantesca de trabalhadores. Maior do que em qualquer outra época é a desigualdade social, não a pobreza, mas a diferença entre aqueles que trabalham e os que exploram os trabalhadores. E também maior do que nunca é a força da classe dos explorados, que tudo produzem e que podem facilmente esmagar os ricos se agirem em conjunto.
Thiago de Lima Ferreira
OPINIÃO – Na cidade todas as pessoas andam coordenadas e em conjunto. Os pedestres andam nas calçadas, os carros respeitam o cruzamento, as portas se abrem e se fecham dependendo de quem aparece diante delas. Quem não respeitar essa ordem logo sofre as consequências.
Algo da harmonia comunitária é a primeira aparência da cidade. Todos devem respeitar as leis para conviver em conjunto. No entanto, por mais que todas as pessoas circulem de forma coordenada, não há qualquer senso de coletividade na vida urbana. Ninguém anda pela cidade reconhecendo o outro passante ao lado na calçada, no ônibus, no elevador, cada um segue sua vida.
É proibido sentar aqui, passar por lá, dormir ai. Há limites de quem, como e onde se pode passar na cidade, não pelo bem social, mas pelo bem da ordem social. A ordem do capitalismo dita regras que excluem e delimitam aqueles que não se curvam à sua vontade. Não há espaço para quem não tem teto ou não tem emprego, não há espaço para os famintos e esquecidos – então esses vagam resistindo e se esgueirando pelo concreto hostil.
Dos negros, LGBTs e mulheres a cidade exige que se calem e se moldem com docilidade. A única violência que a polícia se preocupa em evitar é a contra a propriedade. Os bancos e as fábricas importam mais que as pessoas marginalizadas. O transporte é pior para quem mora nos bairros mais pobres, onde as calçadas são quebradas e não há parques, praças e teatros. Não é por acaso que as ruas e os prédios estão da forma que estão, tudo é pensado. E o grande coordenador do Capital, o grande coreógrafo da cidade é a polícia.
Por cima das leis a polícia corta e invade os espaços da cidade para impor a vontade do Estado sobre a população. Da mesma forma os seguranças dentro da propriedade das empresas, pois não existe contradição entre a força do Estado e das grandes empresas. Se impondo sobre as pessoas, o objetivo das forças de segurança (dos interesses burgueses) é impedir que essas pessoas que andam coordenadas se coordenem contra o capital. Os policiais sabem muito bem o limite de suas forças, e o maior medo dos burgueses é a ação articulada do povo.
Controle dos meios de produção garante cidades seguras para os trabalhadores
A polícia pode matar um preto na favela, mas não pode atacar milhares de trabalhadores em luta sem causar uma guerra civil na sociedade. Para se manter, com o avanço irrefreável das forças produtivas, os burgueses aprimoram as técnicas arquitetônicas e de controle social para refrear a indignação pulsante dos oprimidos. As táticas de controle de massa, o posicionamento dos batalhões e delegacias, a arquitetura dos prédios e das fábricas, tudo isso carrega um sentido e uma técnica para manter os trabalhadores de cabeça baixa, sem ver quem está ao seu lado.
Para resistir na cidade não há resposta individual, mas sim, na coletividade. O capital cada vez mais coletiviza os meios sociais para controlar a massa trabalhadora crescente, mas são esses próprios meios que, se passados para as mãos dos trabalhadores organizados, podem se tornar a maior arma anticapitalista.
A ação direta da classe trabalhadora, ação de resistência à exploração, deve ser uma ação de classe, uma ação que dá consciência aos trabalhadores que já estão coordenados, que dá sentido emancipado ao movimento cego das imensas massas. A ação direta precisa também estar informada das técnicas da arquitetura e da polícia, absorver esses conhecimentos e dirigir sua luta pelas falhas inevitáveis dessas tecnologias, que logo minguam quando se revela seu segredo.
O poder existe na mão da classe trabalhadora, é preciso agora levantar de consciência sua cabeça baixa e destrinchar diante dos seus olhos o labirinto de concreto em estrada para a revolução.