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segunda-feira, 4 de novembro de 2024

A farsa da meritocracia

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ABISMO SOCIAL. Meritocracia é uma farsa dentro do capitalismo. Foto: Reprodução

Por muito tempo, os trabalhadores e trabalhadoras vêm sendo convencidos de que a receita para o sucesso é o trabalho. Só enriquece quem trabalha muito, trabalha duro. Essa visão meritocrática da sociedade cria uma ilusão de que se existem ricos e pobres é porque um trabalhou mais que o outro. 

João Casares 

RIO DE JANEIRO (RJ) Basta observarmos as pessoas que nos cercam e nos perguntamos: será que estamos trabalhando pouco?

A ideia de que a ascensão social e o crescimento econômico é proporcional ao quanto uma pessoa trabalha serve apenas para esconder a origem da riqueza das elites: a superexploração, o roubo, o genocídio e diversos crimes cometidos aos nossos antepassados. 

Todos esses crimes, opressões e exclusões do passado acumularam uma dívida histórica, que hoje em dia é cobrada  pelos grupos marginalizados. O resultado dessa cobrança foram algumas poucas políticas de reparação como as políticas de cotas, auxílios, programas sociais etc. Contudo, se tornam apenas ferramentas de redução de danos dentro de uma lógica social que exclui e oprime cada vez mais essas pessoas marginalizadas. Para que haja uma mudança significativa, é preciso que essa dívida seja cobrada por completo e não apenas uma parte. 

Para tentar se eximir da culpa, as elites econômicas vendem a ideia de que não há uma dívida histórica, já que os crimes foram cometidos no passado por pessoas que já não estão mais vivas. Pois bem, se pararmos para pensar sob essa lógica, a possibilidade de herdar um patrimônio também não deveria existir, já que também é resultado da ação de alguém que não está mais vivo. 

Na lógica da meritocracia, apenas os privilégios podem ser passados para suas próximas gerações. Enquanto isso, os crimes que muitas vezes são os que garantem os privilégios devem ser perdoados, esquecidos. 

O Brasil, por exemplo, foi construído através da invasão e loteamento das terras e extermínio dos povos nativos, escravidão indígena e africana e superexploração de imigrantes. Para onde foram as riquezas, patrimônios e privilégios resultantes dessa barbárie? Quem pagou por esses crimes? 

A lógica real, por trás do papo meritocrático da burguesia é de uma sociedade dividida entre os que herdam os frutos dos crimes passados (as elites econômicas) e os que herdam as consequências desses crimes (o povo trabalhador). Crimes esses que nunca pararam de acontecer e tendem a se perpetuar, caso os herdeiros dos que foram roubados e mortos não tomem de volta o que lhes foi tirado.

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