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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Capitalismo e gordofobia

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MERCANTILIZAÇÃO. A indústria da magreza lucra bilhões todos os anos (Ilustração: Raquel Botelho/Reprodução)

Pessoas gordas, que outrora eram sinônimos de riqueza, beleza e fartura, hoje em dia são tidas como preguiçosas, sujas, doentes. É negada a elas a afetividade em nome da busca ilusória do “corpo perfeito” e da geração de lucro para os capitalistas.

Kaiky Gomes e Gabriela Pontes
Rio de Janeiro (RJ)


OPINIÃO – O capitalismo na sua busca incessante por lucro lança suas garras sobre diversas pessoas e, sempre de maneira autoritária, discriminatória e excludente, busca subjugá-las.

Homens e mulheres negras, pessoas LGBT, indígenas, mulheres, todos em diferentes recortes histórico-sociais passaram por essa opressão e continuam passando. A libertação dessa opressão só virá com o fim do sistema capitalista.  

As pessoas gordas também são vítimas de discriminação através de um aparato médico, midiático e farmacológico, com intuito de gerar cada vez mais lucro para a burguesia. 

Pessoas gordas, que outrora eram sinônimos de riqueza, beleza e fartura, hoje em dia são tidas como preguiçosas, sujas, doentes. É negada a elas a afetividade. Isso é reforçado pela busca ilusória do “corpo perfeito”, que é o corpo magro, e acaba gerando frustração nas pessoas, sentimento de culpa, exclusão social, relações afetivas e sexuais tóxicas e o constante julgamento por todos que se acreditam dignos de salvar aquela pessoa de sua “condição de inferioridade”. 

O pano de fundo de tudo isso é o sistema em que vivemos, que subjuga corpos para gerar lucro. A única maneira de acabar com isso é mudando radicalmente nossa sociedade e destruindo o sistema capitalista.

Novelas, filmes, comerciais, séries, sempre têm um padrão: pessoas brancas e não gordas. Aos personagens gordos é geralmente reservado o papel de pessoa suja e preguiçosa, que só fica deitada e comendo o dia todo, ou do cara engraçado e que serve de chacota ou diversão dos heróis. Isso gera nas pessoas uma percepção de que todo gordo é preguiçoso e sujo e que ele tem que ser engraçado para ter algum tipo de relação afetiva e/ou sexual. Além disso, diversos comerciais mostram o padrão de corpo perfeito que nunca será alcançado e produtos para emagrecimento. Tudo isso gera um sentimento de frustração para quem não consegue alcançar esse padrão de beleza, especialmente quando se está na pré-adolescência, pois o bullying com pessoas gordas nas escolas é frequente. 

Quando chegam ao consultório médico, as pessoas gordas não são avaliadas pela sua doença ou condição, mas por sua massa corpórea. Logo, são tratados como doentes sem nem sequer passar por um exame, ou se passam, já é esperado que tenham uma doença. Caso ele tenha uma doença, a culpa sempre será do seu peso. Na maioria dos casos, o médico manda a pessoa emagrecer mandando ela procurar uma academia, uma dieta ou um remédio. Esse mesmo processo não ocorre com uma pessoa magra. 

A indústria da magreza, que envolve não apenas as academias, mas também a venda de chás e pílulas que prometem a perda de peso de forma fácil, lucra bilhões todos os anos. Os capitalistas se aproveitam de um padrão estético inalcançável promovido sob o falso discurso do cuidado com a saúde e impõe a venda e o consumo de substâncias extremamente nocivas aos nossos corpos.

A busca incessante da magreza é apenas uma das muitas maneiras com as quais o sistema capitalista mata. Muitas pessoas, em sua maioria mulheres, foram a óbito em procedimentos cirúrgicos para emagrecer ou por conta de transtornos alimentares como anorexia e bulimia, que desencadeiam uma série de problemas de saúde. Nem mesmo as crianças escapam da obsessão capitalista pelo padrão estético e acabam sofrendo bullyings cada vez mais agressivos, muitas vezes levando ao suicídio.  

Nos últimos anos, campanhas publicitárias têm tomado cada vez mais força nas mídias trazendo modelos de corpos “fora do padrão” para suas ações comerciais, a fim de tentar trazer a ideia de que todas as pessoas são aceitas na sociedade independente do seu tipo físico. Mas não podemos nos enganar: o capitalismo coopta diversas pautas com o único intuito de gerar ainda mais lucro para a burguesia. 

A realidade das pessoas que não possuem o “corpo padrão” não é nada parecida aos comerciais que tentam promover uma falsa inclusão. A estrutura que oprime o corpo gordo continua existindo e se manifesta na indústria alimentícia, na indústria da moda, na indústria farmacêutica, nas mídias, enfim, na sociedade capitalista.

O verdadeiro respeito a todas as pessoas apenas será conquistado com a derrubada do sistema que nos impõe padrões a todo momento, seja um padrão de corpo, de vida, de relacionamento, etc. Precisamos construir uma sociedade que realmente coloque a saúde e o bem estar das pessoas em primeiro lugar e não mais utilize desse discurso como forma de controlar nossos corpos e nos manter dentro de um molde que serve apenas para enriquecer ainda mais aqueles que não têm compromisso algum com a classe trabalhadora.  

Com o fim da sociedade capitalista e dos padrões estéticos que oprimem nossos corpos, poderemos ser livres para nos expressar sem medo de julgamentos e agressões, nossa alimentação nos proporcionará saúde e prazer e nunca culpa. O exercício físico será um meio de promover apenas bem estar e lazer e nossas roupas deverão nos servir e não o contrário. A “beleza” deixará de corresponder apenas às características racistas, sexistas e capacitistas; ela se tornará plural e não reconhecerá padrões impostos por uns poucos. No socialismo todos os corpos serão livres.

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