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domingo, 22 de dezembro de 2024

O agro é “Pop”, além de muito rico, mas quem coloca comida na mesa dos mato-grossenses é a agricultura familiar

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AGRO É POP? Milhões de hectares de mata virgem são devastados pelo agronegócio todos os anos (Foto: FP)

Mais de 90% dos alimentos não industrializados que chegam às mesas dos consumidores mato-grossenses são produzidos pela agricultura familiar, ao contrário da propaganda global.

Por Mário Marques de Almeida*
Cuiabá (MT)


BRASIL – Levantamento ao qual o Página Única teve acesso, aponta que mais de 90% dos alimentos não industrializados que chegam às mesas dos consumidores mato-grossenses têm origem nos micros e pequenos produtores, a grande maioria integrantes da chamada “Agricultura Familiar”.

A informação bate de frente e desfaz a ideia formatada pela forte campanha global o “Agro é Pop”. A propaganda massiva, com peças publicitárias produzidas com esmero e a custos bilionários, veiculadas em rede nacional pela TV Globo, já incutiu na cabeça e no imaginário de milhões e milhões de pessoas que esse segmento, o agronegócio, é o grande responsável pela produção de alimentos.

Ledo engano, ao menos em Mato Grosso, cantado em prosa e verso como maior produtor brasileiro de grãos e carnes.

Isso porque a grande agricultura praticada no Estado é voltada basicamente para o mercado externo e é exportada in natura – o que deixa de agregar renda trazida pela industrialização. Além disso, é isenta de pagar o principal tributo estadual, o ICMS, em função de ser desonerada pela Lei Kandir. Isto sem falar em outros impactos negativos, trazidos, por exemplo, pela destruição intensa da flora e da fauna do Cerrado, de grandes parcelas da Amazônia e a contaminação do meio ambiente pelos agrotóxicos.

Nesse contexto, a “salvação da lavoura” (sem trocadilho) fica por conta dos chacareiros e pequenos sitiantes, trabalhadores rurais que se aglomeram no entorno das cidades e se dedicam, sem os estímulos fiscais e financeiros que os grandes produtores e empresas do agro desfrutam, a produzir a maioria da alimentação que o povo consome.

Nesse sentido, reportagem do Página Única, apontou no começo desta semana, uma distorção econômica que levou, em Mato Grosso, ao encalhe de grandes estoques de arroz. Como consequência, houve leve queda nos preços praticados hoje com relação ao último trimestre do ano recém-passado.

No entanto, essa pequena baixa nos preços do cereal pode ser interpretada erroneamente como um movimento de queda da inflação, mas está mais associada à perda do poder aquisitivo de camadas cada vez maiores da população.

Trata-se de um fenômeno que não é tipicamente mato-grossense, porque se estende pelo restante do país. A menção a Mato Grosso se justifica pelo fato que é um Estado considerado rico – e é –, porém com a grande maioria de sua população empobrecida – fato ressaltado pela vergonhosa “fila de ossos” que se forma em um estabelecimento comercial da capital, onde centenas de pessoas se aglomeram para disputar a doação de um pedaço de osso.

Resumo: a fila emblemática, que se replica por outros locais, aponta que esse modelo econômico, concentrador de riquezas e excludente em alta escala de pessoas, serve para a fortuna de poucos e a miserabilização de muitos – e precisa ser reformulado. Quando nada, ser obrigado a pagar impostos.

*Publicado originalmente em www.paginaunica.com.br

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