Banhado Resiste!

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Nikolas Bruni, São José dos Campos

O Jornal A Verdade foi até o Bairro do Banhado no município de São José dos Campos – SP para falar com Renato do Banhado, militante pelo Coletivo Luta Socialista do PSOL e candidato a vereador pelo município em 2020, nos conta um pouco sobre seu trabalho de militância e liderança política do bairro além do que a prefeitura atual do PSDB comandada por Felício Ramuth que demanda as saídas imediatas do moradores na manhã do dia 16 de novembro.

A Verdade – Nos conte um pouco de sua trajetória pelo bairro e quando decidiu pela militância política.

Renato: Me interessei por política em 2007 para 2008. Em 2007 eu fui preso como traficante, saí na primeira capa do Vale Paraibano (jornal burguês do Vale do Paraíba, agora conhecido como OVALE), nunca mexi com nada, óbvio, fui preso e dado como tal, no mesmo dia eu saí, me soltaram porque eu sou Renato e me prenderam como Jean. E depois desse dia eu decidi que deveria fazer alguma militância, alguma luta política. Aí descobri que o bairro já estava em situação de ameaça de retirada naquele momento. Então conheci o seu Davi (outra liderança) e outros companheiros da época e aí decidi que tinha que lutar mesmo pelo bairro e desde então eu não parei mais.

A Verdade – Qual é a situação atual do bairro com relação a prefeitura?
Renato: A situação do bairro hoje é estável, juridicamente, a prefeitura não ganhou nenhum ponto, nenhuma liminar, inclusive já entrou várias vezes com liminares onde eles queriam que houvesse remoção imediata do bairro, depois entram com outra que tinha área de parque e que seriam removidas 70 famílias. A justiça negou que deveria ter uma liminar para remoção e apenas reconheceu 5 moradias que estariam nessa área de proteção ambiental, lembrando que o bairro é mais antigo do que a lei. Então teoricamente, a lei não deveria retroagir já que o bairro existe muito antes, é um bairro centenário. Existe sim a possibilidade de uma área de proteção ambiental haver as moradias, desde que a moradia anteceda a lei. Hoje a situação é estável, os moradores não têm intenção de aceitar a proposta da prefeitura, justamente porque não atende a necessidade mínima, 110mil você não compra uma casa em São José dos Campos em um raio de 20km e os moradores sabem disso. Todo esse terror psicológico que a prefeitura fez com mídia, de mentira, de dizer que foi agredida uma assistente social, é um jogo muito baixo pois eles não podem provar isso. No dia que a assistente foi agredida, a maioria estava no enterro de uma pessoa querida no bairro, até para isso foi ruim para eles. Perderam todos os pedidos pela justiça. Temos o plano popular de regulamentação fundiária, foi concedido de maneira coletiva, tem uma cartilha com diversos apoiadores e entidades que ajudaram a construir o plano, inclusive quem for ler a matéria pode entrar na página do BANHADO RESISTE, tem as fotos das prévias, assembleias democráticas de como montar o plano com termos técnico e com contemplação ambiental.

A Verdade – Houveram outros problemas com as prefeituras em governos anteriores?

Renato: Todos os governos que passaram pela cidade, a intenção deles era nos tirar. Sem exceção! PSDB, PT, novamente o PSDB, foi no governo do PT que quebraram a costela do nosso companheiro Davi Moraes, inclusive tem um vídeo no Youtube que mostram os guardas rendendo ele no chão e propositalmente bate na costela dele até quebrar, sendo um companheiro que sofre principalmente no frio. No governo PSDB, alguns moradores aceitaram as propostas e se arrependeram, voltando para o banhado pois não conseguem pagar as contas lá fora. O prefeito hoje diz que leu a carte de uma criança que vive melhor fora do banhado, sendo que hoje ela retornou, pois, os pais não consegue se manter lá fora. Sabemos que nenhuma prefeitura que passou teve a intenção de regularizar o bairro, inclusive o plano popular foi construído quando era governo do PT e na época chegou a oferecer que se fosse em outra localidade, haveria até um financiamento, mas no Banhado não poderia. Hoje essas pessoas defendem regulamentação fundiária, então não dá para entender.

A Verdade – Aqui em São José dos Campos, o bairro tem fama de ter uma alta criminalidade, além de ser ponto de drogas, o que você tem a nos dizer sobre isso sob uma ótica anticapitalista.

Renato: O primeiro passo quando eles querem atacar uma comunidade é criminaliza-la. Dizer que tem droga e tráfico. Sabemos hoje que o problema das drogas e a forma com que conduzem essa política de proibicionismo não resolve o problema, pois muita gente usa, sendo um problema mundial, se houvesse outra abordagem, não teríamos pessoas nessa situação. A questão de mencionarem que a gente tem fama na questão de tráfico, é somente o que eles podem falar, pois sequer tem coragem de ver o plano popular, que contempla tudo o que eles questionam. Esse é um problema na cidade inteira. Não importa quanto tempo passe, enquanto a abordagem sobre drogas permanecer a mesma e não ter uma discussão ampla de fazer de uma forma diferente, prevenção de danos, o acesso à educação e a saúde, uma escola de qualidade para as crianças e melhores salários para os professores. Tudo isso é um fator muito amplo para achar que apenas dessa forma direta e saindo, irá acabar o problemas, sendo que não funciona dessa forma.