Marcada por uma profunda sensibilidade, Irmã Dorothy foi uma grande lutadora, mantinha sua combatividade e firmeza e não se intimidava com as ameaças de morte que recebia.
Fernando Alves
O ano é 2005, o dia é 12 de Fevereiro. Estamos em pleno Século XXI, embora os avanços tecnológicos sejam grandes, os conflitos e violência são ainda maiores, seja nas grandes cidades ou em longe rincões. A luta de classes não cessa. E assim a luta pela terra segue seu curso implacável. Nesse cenário de contradições é que a Irmã Dorothy Stang foi assassinada, na localidade de Anapu-PA, alvejada com seis tiros em uma tocaia.
Irmã Dorothy iniciou sua atividade pastoral e social quando chegou ao Brasil em 1966, sempre ligada a atuação junto às comunidades pobres de camponeses e pequenos agricultores. Dedicou grande parte de sua atividade em apoio e solidariedades na região do Xingu, Pará, no trabalho de geração de emprego e renda, intermediando conflitos fundiários entre trabalhadores rurais e madeireiros, latifundiários e garimpeiros. Também no trabalho de reflorestamento e no chamado desenvolvimento sustentável, em defesa da floresta e seus povos. Sua atuação em movimentos sociais da região foi muito forte e significativo, em especial, na Comissão Pastoral da Terra (CPT), tendo grande reconhecimento internacional na defesa dos direitos humanos.
Marcada por uma profunda sensibilidade, Irmã Dorothy foi uma grande lutadora, mantinha sua combatividade e firmeza e não se intimidava com as ameaças de morte que recebia. “Nao vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade e sem devastação.”, disse num desses momentos de ameaças.
Na manhã em que foi emboscada, enfrentou seus assassinos lendo versos da Bíblia: ”Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”. Perguntada se estava armada, respondeu “essa é minha arma” mostrando a Bíblia. Em seguida foi morta pelos pistoleiros Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, contratado por Amair Feijoli da Cunha (Tato) a mando dos latifundiários Vitalmiro Bastos de Moura (Bida) e Reginaldo Pereira Galvão (Taradão).
Justiça para Irmã Dorothy Stang. Seu exemplo de luta contínua viva na luta dos trabalhadores rurais e camponeses pelo direito à terra, pela reforma agrária e na defesa da floresta amazônica.