João Gabriel | São Paulo
Nesta segunda-feira (14), uma assembleia estudantil do campus da capital paulista do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) reuniu cerca de oitenta estudantes para deliberar sobre a luta pela volta às aulas presenciais. Organizada pelo Conselho Estudantil, fórum que reúne diretores das 17 entidades estudantis do campus, a assembleia foi convocada após a direção recuar no plano de retorno presencial do campus, inicialmente previsto para o dia 10 de março. No dia 9 do mesmo mês, o comunicado oficial determinando a manutenção do ensino remoto para todos os cursos de graduação, médio e técnico, divulgado menos de 10 horas antes do início das aulas, gerou ampla revolta entre os estudantes e, prontamente, o conjunto dos Centro Acadêmicos (CAs) e Grêmio Estudantil souberam responder.
Segundo Rafael Lima, diretor do Diretório Acadêmico (DA) das licenciaturas do campus, a medida autoritária não correspondia ao que a ampla maioria dos estudantes esperava: “Do dia para noite decidiram não voltar presencial, e colocaram a culpa nas obras. A questão é que queremos voltar e todos nós nos preparamos para isso, teve gente que chegou a ir ao campus achando que teria aula, não dá pra ficar mais nenhum dia com essas aulas remotas. Ninguém tem condições”.
Durante a assembleia, inúmeras denúncias foram feitas. No geral, as falas pontuaram o descaso da gestão em lidar com a volta às aulas e o quanto isso impactou a vida dos estudantes, principalmente os mais pobres. Roberta Pereira, diretora do Grêmio Estudantil e da Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (FENET), pontuou: “A gente tem que ir lá e fazer as aulas voltarem presencialmente na marra! É isso que precisamos. Tem muito estudante evadindo, não conseguindo acompanhar as aulas e para gente que não tem estrutura em casa, o IF é um ponto de apoio. Não podemos seguir abandonando esses estudantes, isso é parte do projeto do fascista Bolsonaro – de acabar com o IF -, só a gente aqui dentro pode impedir que esse projeto de desmonte avance.”
Os encaminhamentos acompanharam a intensidade das denúncias, por unanimidade os estudantes deliberaram ocupar a diretoria exigindo posicionamento imediato do diretor geral do campus Alberto Shiga, garantindo o retorno presencial dia 21 de março, mesmo que com realocação de salas de aulas, e como medida de não prejudicar os estudantes o abono das faltas nesta semana em que o plano foi alterado em cima da hora. Palavras de ordem puderam sintetizar o clima entre os estudantes: “Sou estudante da federal, dia 21 retorno presencial!”
Cercado pelo conjunto dos estudantes, o diretor prestou contas das atividades da gestão mediante as adaptações do prédio para o retorno presencial, solicitou desculpas por todos os imprevistos e prejuízos causados aos estudantes e se comprometeu com o retorno presencial no dia 21 deste mês, assim como a realização de atividades para repor as faltas desse período. Uma comissão foi eleita para acompanhar as obras e integrar reuniões da direção para tomada de decisão que envolva a volta às aulas.
A assembleia vitoriosa demarca a ruptura da organização estudantil com o período remoto. Foram dois anos de intensa luta política com as entidades para que o movimento estudantil se mantivesse vivo e presente apoiando os estudantes nesse período de grande dificuldade.
“Fruto da compreensão que não podemos moscar um dia sequer enquanto Bolsonaro quer fechar o IF, devemos estar em luta todos os dias, esse é o dever central dos estudantes: derrotar Bolsonaro com muita mobilização” afirma Karla Albuquerque, do Movimento Correnteza.
A próxima assembleia já foi marcada para o mesmo dia do retorno das aulas (21), com a intenção de se reorganizar previamente diante de uma novo recuo por parte da direção, mas podendo contar com a palavra do diretor a assembleia irá determinar as lutas centrais dos estudantes do campus envolvendo a luta pela permanência estudantil e pagamento das bolsas e o enfrentamento contra os cortes criminosos do governo Bolsonaro nos IFs. Apenas uma organização estudantil, democrática e combativa pode oferecer a resistência que precisamos para barrar o avanço do desmonte da educação pública, os estudantes do IFSP e demais universidades têm demonstrado que sabem como fazer.