Após a invasão da Rússia, o presidente ucraniano, Volodomir Zelensky, criou a Liga de Defesa Territorial, organização paramilitar de recrutamento de “voluntários estrangeiros”, para lutar contra o exército russo. Aberta e ilegalmente, Zelensky transformou as embaixadas ucranianas em todo o planeta em centros de recrutamento. No Brasil, 500 pessoas já teriam se apresentado para ingressar nessa milícia fascista.
Beto Silva
Rio de Janeiro
OPINIÃO – O golpe de 2014 levou ao poder os grupos políticos mais reacionários da Ucrânia. Desde então, símbolos e organizações comunistas estão proibidos, colaboracionistas de Hitler são elevados à condição de herói, militantes de esquerda são assassinados, como no infame massacre de Odessa, e minorias étnicas do leste do país são perseguidas. Na base do governo, e até integrados oficialmente nas forças armadas ucranianas, vários grupos neonazistas passaram a atuar e cometer crimes impunemente.
Não é sem razão, portanto, que a Ucrânia passou a ser apontada como o modelo para os grupos neofascistas em todo o mundo. No Brasil, os bate-paus do bolsonarismo têm como lema “ucranizar” o país. Agora, esse lúmpen fascista vislumbra a possibilidade de receber financiamento, armas e treinamento em escala mundial.
Após a invasão da Rússia, o presidente ucraniano, Volodomir Zelensky, criou a Liga de Defesa Territorial, organização paramilitar de recrutamento de “voluntários estrangeiros”, para lutar contra o exército russo. Aberta e ilegalmente, Zelensky transformou as embaixadas ucranianas em todo o planeta em centros de recrutamento. No Brasil, segundo reportagem do UOL, 500 pessoas já teriam se apresentado para ingressar nessa milícia fascista.
Ex-militares, atiradores desequilibrados (ditos CACs) e fanáticos bolsonaristas: esse é o perfil dos alistados que se encontram nos famigerados grupos de Whatsapp e Telegram. Na impossibilidade de destilarem ainda mais abertamente o ódio fermentado na cultura da violência e das armas, eles querem ir à guerra.
Segundo a reportagem do UOL, a viagem de cada candidato a paramilitar até a Ucrânia custa R$ 7 mil. Ou seja, só com transporte, esses 500 brasileiros teriam que gastar R$ 3,5 milhões. De onde vem todo esse dinheiro?
Se, numa ponta, o lúmpen fascista está disposto a servir de carne de canhão, na outra, a elite reacionária bancará esse disparate. No próprio site de recrutamento da tal Liga, é possível fazer doações. MasterCard, Visa, Google Pay, todos os cartões e facilidades da pós-modernidade fintech estão disponíveis. Só o MBL, cujos membros ficaram conhecidos por assediar mulheres refugiadas da guerra, diz ter arrecadado R$ 180 mil em apenas uma live.
Além do financiamento privado, os governos imperialistas, diretamente ou através da Otan, colocarão nas mãos de extremistas o equipamento militar mais moderno. Oficialmente, já foram enviados mais de US$ 1 bilhão de dólares em armamento. São milhares de fuzis, pistolas, granadas, lança-foguetes, morteiros, etc.
Chegando na Ucrânia, os extremistas serão doutrinados militar e politicamente. Estabelecerão redes internacionais de coordenação. O que farão quando a guerra acabar? Devolverão as armas? Aceitarão pacificamente um resultado eleitoral favorável ao um candidato de esquerda?
Não é a primeira vez que esse mecanismo é posto em movimento. Na Guerra do Afeganistão (1979-1989), quando a URSS enviou tropas para defender o governo de Cabul, os Estados Unidos e a Arábia Saudita recrutaram, treinaram e armaram toda sorte de fundamentalistas do Oriente Médio para combater os soviéticos. O Talebã, a Al-Qaeda, o ISIS e muitos outros grupos extremistas tiveram sua origem nesse conflito e a partir do apoio norte-americano. À época, tal como Zelensky hoje, ninguém menos que Osama bin Laden era apresentado como “herói no caminho da paz”.
A guerra da Ucrânia é o imã que atraí os neofascistas de todo mundo. Esse é um assunto da maior gravidade que vem sendo suavemente tratado pela velha mídia como “pitoresco”. Estamos observando o nascimento de uma nova SS – tropa de choque de Hitler – global, cujos efeitos nefastos serão sentidos por anos a fio.
O financiamento internacional do terrorismo é crime. Transformar as embaixadas e consulados em centros de recrutamento para uma força paramilitar estrangeira é clara e absurdamente ilegal. O que resta de democrático no poder público brasileiro – se é que resta alguma coisa – tem que impedir essa barbaridade.