Em 10 anos, passagens aumentaram mais de 100%. Prefeitura de BH também segue agindo a serviço das empresas de ônibus.
Por Luan Soares e Marcelo Queiroz
MINAS GERAIS – No final de janeiro, começou a valer o reajuste no valor das passagens de ônibus da região metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A tarifa preponderante foi de R$5,85 para R$6,80. Em alguns municípios este valor supera os R$20,00, chegando a ter tarifas de até R$27,30. A título de comparação, em 2012 este valor era de R$ 3,25.
Dessa vez, o constante aumento do óleo diesel e da inflação é a justificativa usada pelos empresários do ramo de transporte para aumentar seus lucros e manter suas vidas de mordomias e seus carros luxuosos. Lembremos que hoje o presidente da Petrobrás – empresa estatal brasileira que deveria estar cumprindo seu papel de garantir preços populares do diesel – foi indicado por Bolsonaro e é um militar que recebe cerca de R$250 mil mensais para entregar nosso patrimônio para o exterior.
Ainda no fim do ano de 2021, as empresas e concessionárias que operam no sistema metropolitano chegaram a pedir um reajuste de 53,36%. Caso o percentual fosse autorizado, a tarifa preponderante do sistema, que era de R$5,85, passaria a ser R$8,95. Dentre estas empresas está a Viação Saritur que teve como fato destaque recente o envolvimento no escândalo das vacinas falsas aplicadas em sua garagem. A empresa é uma das campeãs em reclamações dos passageiros de ônibus da RMBH pelas péssimas condições dos veículos, descumprimento de horários, além de registrar frequentes greves dos trabalhadores por falta de salários e benefícios.
A região metropolitana de Belo Horizonte tem hoje em operação 606 linhas, contando com uma frota de 2.557 veículos que atendem aos seus 34 municípios, chegando a ter em torno de 20 milhões de usuários mensalmente. Apesar deste grande volume, o sistema metropolitano é caracterizado pela precariedade, apresentando longo histórico de acidentes e transtornos para os passageiros. Onze dias antes do aumento da tarifa, um ônibus que liga o município de Ribeirão das Neves ao centro de BH, que transportava 93 passageiros (a capacidade máxima indicada é de 41), perdeu o eixo traseiro em uma das principais vias de BH, deixando dezenas de feridos. Cinco dias depois do aumento, um ônibus da linha 5882, que liga Lagoa Santa à capital, derrapou na pista por problemas mecânicos e bateu no acostamento, mas o motorista conseguiu evitar o pior. Os passageiros relatam que o motorista já havia avisado a empresa sobre possíveis falhas, mas ela nada fez.
Também em janeiro, um “vermelhinho”, como são conhecidos os ônibus metropolitanos, pegou fogo na Rua Rio Grande do Norte, após o cruzamento com a Avenida Afonso Pena. “O fogo estava jorrando do motor do ônibus e os passageiros saíram correndo com medo de uma explosão”, relatou um militante da União da Juventude Rebelião que viu o incidente ao chegar no trabalho no bairro Funcionários.
O fato é que grandes grupos empresariais do transporte rodoviário detêm o monopólio do sistema e lucram em cima da necessidade da classe trabalhadora de se transportar até os locais de trabalho e de lazer – de onde foi históricamente excluída, principalmente a partir do fim da escravidão e do desenvolvimento do capitalismo. O atual contrato, firmado em 2007 no governo Aécio Neves (PSDB), possui fortes indícios de formação de cartel, segundo o Ministério Público. É o caso da família Lessa, que além de administrar a gigante Saritur, também dirige a S&M Transportes, a Viação Jardins e a Turilessa, e está na presidência do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram), através de Rubens Lessa.
É preciso ainda se atentar para a tática eleitoreira do atual prefeito Alexandre Kalil (PSD): após acordo com essas mesmas empresas de uma família só, Kalil propõe que a passagem de ônibus da cidade diminua em R$ 0,20 e que a prefeitura faça repasses para cobrir esse reajuste, mas sem explicar a fonte do dinheiro. O presidente do diretório do PSD em Minas, Alexandre Silveira, afirmou que o Kalil é o “caminho natural” para as eleições deste ano.
O histórico de descaso com os ônibus na RMBH é longo e se aprofundou ainda mais nos últimos anos de governo do liberal Romeu Zema (Novo). Porém, a alternativa do governador para melhorar o transporte é a construção do Rodoanel, mais conhecido como “Rodominério”, pois na prática servirá para escoar a produção de minério, desalojar milhares de famílias, destruir e explorar ainda mais o meio ambiente e não o bastante, “premia” a Vale pelo crime ambiental cometido em 2019.
É fundamental que se organize a população que sofre dia a dia com este estado de calamidade, com uma luta que paute a estatização do sistema de transporte, as tarifas sociais e até mesmo a gratuidade ao serviço. Devemos também construir uma rede que atenda as necessidades de locomoção do povo e valorize os trabalhadores do transporte, que tanto sofrem com as péssimas condições de trabalho. Por fim, é fundamental fortalecer a luta por uma reforma urbana que passe também pelo direito ao acesso à cidade.