Alunas da UFSCar protestam contra violência à mulheres no alojamento da universidade

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Mulheres estudantes da UFSCAR marcharam entre o alojamento e restaurante universitário denunciando a violência na instituição. Foto: Reprodução

Laura Araújo, Thaís Sena e Juliana Gregório


SÃO CARLOS (SP) – Na última quarta-feira de março, 30, alunas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e moradoras do alojamento estudantil se reuniram em manifestação por moradia digna e segura. Numa luta por um espaço onde os corpos de mulheres e identidades femininas possam existir sem medo, com respeito e dignidade dentro da Universidade.

A manifestação se iniciou com a concentração das alunas no Centrinho da Moradia Estudantil do Campus São Carlos e se encaminhou para o Restaurante Universitário, onde palavras de ordem puderam ecoar e, de acordo com o objetivo, impactar quem as ouviam. 

“A luta contra o machismo tem que ser unificada!! Este ato é um chamamento geral para que todas rompam com o silêncio! (…) o silêncio não pode mais beneficiar agressores. Que rompamos hoje e amanhã com o silêncio! Não seremos agredidas dentro das nossas casas, não seremos agredidas dentro do nosso espaço de estudo e de trabalho!” foram as palavras de uma das militantes presentes no ato.

Há anos o espaço que deveria acolher os estudantes bolsistas se torna um espaço que amedronta, quando deveria representar segurança. Casos de agressão e abuso, especialmente para com as alunas mulheres e travestis acontecem com frequência. O que vem sendo motivo de exaustão e indignação das mesmas.

Alunas não se sentem seguras em suas próprias casas

A moradia universitária deveria ser um espaço seguro para as mulheres, no entanto essa não é a realidade. Como diz a moradora Íris: “O assédio se torna comum dentro da nossa própria casa. Não conseguimos ter confiança nos nossos colegas do sexo masculino. Evitamos andar desacompanhadas e à noite não saímos de dentro de casa por medo. E ainda assim, alguns conseguem invadir nossa casa e violentar nossos corpos. Toda vez que alguma colega consegue reunir coragem para denunciar esses casos, sempre temos as mesmas respostas: “Estamos trabalhando para solucionar o problema”. O que quase sempre acontece é uma nota no email da universidade descrevendo a violência sexual como “Violência entre estudantes”. Como se isso já não bastasse, a vítima tem que contar várias vezes o ocorrido e não acontecer nada com seu violentador e se sentir invalidada.” 

A situação fica ainda mais caótica quando o retorno das aulas presenciais se aproxima e vão entrar novas moradoras, que acabaram de entrar na universidade. Essa é mais uma das preocupações existentes.

Esse primeiro ato foi intitulado “Agressores, fora da Moradia!” numa mensagem clara de repúdio à permanência de agressores conhecidos no espaço que recebe algumas das mulheres mais vulneráveis que adentraram a universidade pública. E serviu para chamar a atenção dos departamentos de assistência estudantil, que chamaram por uma roda de conversa urgente entre as mulheres da instituição e as estudantes. Essa roda de conversa foi organizada entre as mulheres de modo a permitir um espaço em que todas se sentissem seguras para compartilhar seus medos e experiências. As estudantes foram chamadas a contar os casos e receios que levaram a criação do ato. As técnicas do departamento de assistência estiveram abertas a ouvir e tirar diversas dúvidas das presentes.  

“Saímos da roda de conversa mais preparadas para lidar com situações de agressão dentro e fora da universidade”, relata a representante de bloco Thaís. E elas devem repetir a roda de conversa uma vez por mês durante o resto do ano. Permitindo assim que mais alunas tenham a oportunidade de se aproximar de informações e pessoas que possam ajudar a mitigar a violência no espaço universitário.

Isso mostra que é muito importante a organização das mulheres, que vem transformando toda dor e revolta em ações concretas e diretas. Realizar mais atos pelo fim da violência, organizar plenárias e palestras  para as mulheres da moradia e da universidade é o caminho a se seguir para que as vítimas sejam acolhidas e medidas sejam tomadas para o fim da violência contra a mulher na Moradia da UFSCar.

As estudantes ainda pretendem ser parte atuante e representada no Grupo de Trabalho pela Prevenção, Redução e Mitigação de Danos da Violência na Instituição, iniciativa que reúne mulheres de toda a UFSCar. Além de acompanhar a implementação de novas diretrizes contratuais que permitam que novos trabalhadores sejam orientados sobre diversidade de gêneros e respeito entre as relações.

Ainda existem muitas burocracias a serem revisitadas para permitir que a universidade realmente cuide de suas mulheres e responsabilize devidamente os agressores. É por isso que não bastam ações de estudantes que permanecerão por 4, 5 ou 6 anos na instituição, é preciso chegar às trabalhadoras que ficam décadas expostas às mesmas situações revoltantes. As concursadas, terceirizadas, professoras, pesquisadoras também fazem parte do grupo de mulheres que não suporta mais ser questionado mesmo sendo a vítima. Portanto, é na busca do diálogo transparente e medidas efetivas que está depositada a esperança pela mudança gritada no Restaurante Universitário no dia 30.