Reproduzimos artigo originalmente publicado pelo jornal La Forge, do Partido Comunista dos Operários da Franca (PCOF), sobre a situação de Burkina Faso após o golpe militar ocorrido no dia 24 de janeiro.
Via La Forge
França
INTERNACIONAL – Após chegar ao poder com o golpe de Estado de 24 de janeiro deste ano, o tenente-coronel Damiba assinou uma “Carta de Transição” no início de março para um período de 36 meses. Em 5 de março, ele nomeou um governo de transição com Albert Ouédraogo como primeiro-ministro, um tecnocrata sem base política. O general Simporé, que foi ministro da Defesa de Kaboré, permanece no cargo, enquanto Yero Boly, várias vezes ministro do ex-presidente Blaise Compaoré, foi nomeado ministro de Estado, responsável pela Coesão Social e Reconciliação Nacional.
Para aperfeiçoar esta “reconciliação nacional”, o novo governo conseguiu recrutar várias personalidades da sociedade civil, em particular o ex-líder da CGT-B, Bassolma Bazié. Foi nomeada uma “Assembleia Legislativa de Transição” presidida por Aboubacar Toguyeni, um acadêmico muçulmano que parece ter sido escolhido pela sua dureza e porque “o chefe de Estado quer que os principais grupos religiosos participem ativamente no ‘trabalho de reconstrução de Burkina Faso’, segundo as palavras de um deputado relatado pela RFI.
Apesar de todos os esforços que a Organização da Juventude Democrática (ODJ) descreveu como “verniz para dar ao golpe uma aparência e legalidade inteiramente constitucional”, essa união sagrada para a defesa da ordem neocolonial já começa a rachar. A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que fez da prorrogação da transição no Mali um motivo de ruptura e sanções, está envergonhada com a duração de três anos da transição em Burkina Faso.
Contestada por alguns de seus ex-apoiadores, a prorrogação da detenção do ex-presidente Kaboré e seu sigilo são um sinal de que a situação não está tão estabilizada como os novos líderes do país querem que acreditemos.
Demandas populares
Os pretensiosos comunicados de imprensa do governo, que se congratulam por terem multiplicado com sucesso as operações que levaram à eliminação de numerosos jihadistas, têm dificuldade em convencer a população. Como afirmado em um comunicado da União para a Ação Sindical (UAS), em 29 de março, os fatos contradizem: os ataques se multiplicaram contra muitas aldeias (Nindangou, Bourgou, Bouloulou, Barsalogho, Gnagna, etc.), um grande número de soldados e Voluntários para a Defesa da Pátria (VDF) foram mortos e as promessas de “reconquista do território” estão longe de serem cumpridas.
No dia 17 de março, Namsiguia, na província de Bam, caiu nas mãos de grupos terroristas, após anos de resistência e gritos de socorro. A cidade de Djibo está sitiada por grupos terroristas e as pessoas não têm comida. Desde 17 de fevereiro, a cidade está isolada do resto do país.
O que os burquinenses estão esperando não são explicações sobre estratégias militares ou ameaças contra cidadãos que expressam suas preocupações, principalmente nas redes sociais e desafiam as novas autoridades. O que os burquinenses esperam das autoridades notícias sobre a contenção dos grupos terroristas, a recuperarão das áreas sob controle de grupos armados, o alívio da fome e da sede de populações em localidades como Kelbo, Baraboulé, Koutougou, Arbinda, Pama, etc., o retorno e a segurança de milhões de deslocados internos em suas aldeias e localidades.
É por isso que o UAS pede ao presidente Paul-Henri Sandaogo Damiba que faça todo o possível para conter o avanço dos grupos armados e aliviar as populações. Esta é uma forte expectativa das populações e que justifica que simplesmente tenham tolerado o golpe de Estado de 24 de janeiro de 2022.
Perspectivas da luta em Burkina Faso
Apesar das ameaças de Damiba, que disse em janeiro que seria “intratável” contra aqueles que não o seguissem em seu projeto de “salvar e restaurar”, o golpe não silenciou a oposição popular. A conferência regional que a Organização da Juventude Democrática (ODJ) realizou nos dias 25, 26 e 27 de março, em Tenkodogo, é uma ilustração disso.
As lutas sociais se intensificaram nos últimos anos com a entrada massiva das camadas fundamentais que até então estavam em segundo plano. Assim, a escalada dos ataques terroristas tem suscitado forte indignação nas populações e provocado movimentos de protesto em várias localidades (marchas em Dori, Fada N’gourma, Ouagadougou, Ouahigouya, Titao, etc.).
Essas lutas às vezes assumem formas quase insurrecionais, o que assusta a classe política podre e o imperialismo francês em completo declínio. É por isso que o governo golpeado do Movimento Popular para o Progresso (MPP) e o poder golpista se comprometem hoje a matar o espírito crítico e combativo do nosso povo e sobretudo liquidar o Movimento Democrático e Revolucionário.
“Perante esta crise revolucionária e o novo acordo de regime excepcional disfarçado, os ativistas e simpatizantes da ODJ devem armar-se de coragem e determinação, cultivar o espírito de sacrifício para defender e proteger a sua organização”, declarou a direção da Organização da Juventude Democrática, que está participando ativamente nas lutas populares no quadro do vasto Movimento de Unidade Popular pela Mudança Revolucionária e pela revolução.