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segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Ordem de despejo da Casa Carolina e a luta por uma casa de passagem no ABC

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Casa de Passagem Carolina Marina de Jesus no ABC está com despejo marcado. Movimento atendia mulheres vítimas de violência doméstica na região. Foto: Movimento Olga Benario


A Casa Carolina foi construída a partir da ocupação de um imóvel abandonado, com dívida de quase 10 anos de IPTU, encontrada cheia de lixo, completamente revirada, sem fios elétricos e com a ligação de água cortada de fora para dentro da casa. Logo nos primeiros meses em que o imóvel esteve sob posse do Movimento Olga Benario, foram realizados mutirões para reformar a casa, campanhas de arrecadação que contaram com muito apoio e que permitiram a casa ser revitalizada para abrigar mulheres vítimas de violência. Apesar de apresentarem o estado da casa e a função cumprida pelo movimento neste espaço, juiz decretou a ordem de despejo para a Casa Carolina e oferece o prazo para desocuparem o imóvel até junho de 2022.

Movimento de Mulheres Olga Benario


SANTO ANDRÉ – No dia 25 de julho de 2021, dia da mulher negra latino americana e caribenha, o Movimento de Mulheres Olga Benario realizou 2 ocupações no mesmo dia na região do ABC Paulista: a Casa da Mulher Negra Helenira Preta II, em Mauá (SP), da onde fomos ilegalmente removidas e recentemente foi demolida a mando da prefeitura da cidade e a Casa de Passagem Carolina Maria de Jesus, em Santo André (SP). 

A Casa Carolina foi construída a partir da ocupação de um imóvel abandonado, com dívida de quase 10 anos de IPTU, encontrada cheia de lixo, completamente revirada, sem fios elétricos e com a ligação de água cortada de fora para dentro da casa. “Olha, eu trabalho aqui há muitos anos e, pelo menos desde que estou aqui este lugar está abandonado, sempre comentei com a minha colega que é um desperdício, inclusive já invadiram este local antes para morar e usar drogas”, conta uma trabalhadora de um dos comércios vizinho à casa que concordou ser testemunha no processo de reintegração de posse. 

Logo nos primeiros meses em que o imóvel esteve sob posse do Movimento Olga Benario, foram realizados mutirões para reformar a casa, campanhas de arrecadação que contaram com muito apoio e que permitiram a casa ser revitalizada para abrigar mulheres vítimas de violência. Apesar de apresentarem o estado da casa e a função cumprida pelo movimento neste espaço, juiz decretou a ordem de despejo para a Casa Carolina e oferece o prazo para desocuparem o imóvel até junho de 2022.

Diversos mutirões de limpeza foram organizados para revitalizar a casa que estava abandonada. Foto: Reprodução Olga Benario

A casa de passagem é uma luta histórica do movimento de mulheres da região e uma promessa do Consórcio Intermunicipal (União das 7 prefeituras do ABC), que aprovou há 3 anos atrás a construção de uma casa de passagem para atender às mulheres da região do ABC e que nunca saiu do papel. Apesar do presidente atual do Consórcio e prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), apontar que 60% dos atendimentos nos Centros de Referência no Atendimento à Mulher em Situação de Violência precisariam ser encaminhados para uma casa de passagem e ainda afirmar que “é um equipamento que faz falta na região”, após reunião do Consórcio que aprovou a construção da casa de passagem.

Além disso, a região do ABC apresentou quase 3 registros de violência contra as mulheres por dia no último ano e um aumento de 11% de estupros, sendo Santo André a cidade com maior número de registros deste crime, de acordo com Instituto Sou da Paz.

Assim, a 5a ocupação do Movimento de Mulheres Olga Benario nasceu para denunciar o aumento da violência e a falta de investimento em políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres, reivindicando a criação de uma casa de passagem que atendesse toda a região do ABC. “É muito importante que essas políticas sejam regionais, mantida pelas 7 prefeituras porque vimos muitas políticas municipais serem extintas com as trocas de gestões” afirma integrante da Frente Regional de Mulheres da Região do ABC de Enfrentamento da violência contra as Mulheres, união de mulheres de movimentos e partidos progressistas da região.

Mas além do acolhimento às mulheres, fortalecendo da rede de serviços de atendimento às vítimas,  organizando profissionais voluntárias e militantes, realizando capacitações e cursos, estudos sobre violência e rodas de conversas, as casas do Movimento são espaços de luta! “Não queremos cumprir o papel do Estado, queremos fazer muito mais pelas mulheres” diz Indira Xavier, coordenadora da Casa Tina Martins em Belo Horizonte – MG, 1ª ocupação do Movimento.

As casas também promovem atividades de capacitações e geração de renda para as mulheres, servem de espaços para reuniões e assembleias para organização de luta em defesa dos direitos das mulheres, juventude, trabalhadoras, além da realização de formação política, cinedebates, promoção de eventos culturais e roda de leitura. Atividades que são essenciais para avançar nas lutas de enfrentamento à violência e em defesa dos direitos das mulheres e para oferecer às mulheres uma nova perspectiva, conforme relata uma das abrigadas da Casa Carolina: “Eu sofri com um marido ordinário por 9 anos. Por 9 anos, eu passei por vários tipos de sofrimento na mão dele, porque nunca tive amparo, nunca tive uma saída, nunca tive uma opção. Depois de tantas lutas, de tantas fugas frustradas, eu consegui essa que foi a minha última, porque eu consegui o amparo de um povo bom, de um povo forte. Agora eu faço parte do Movimento Olga Benario, eu sou filha de Olga Benario. Porque conheci uma legião de companheiras e companheiros que me ampararam, que me deram força e que disseram pra mim que vale a pena lutar!”.

Movimento organizou uma série de atividades culturais no local.

Assim, o Movimento hoje luta por uma casa de passagem para as mulheres do ABC: “nossa casa tem sido bastante procurada, muitas mulheres buscam abrigamento temporário porque não tem para onde ir, e não necessariamente querem ir para uma casa abrigo, serviço oferecido às mulheres que estão correndo risco de vida, local sigiloso e que não permite que elas saiam para trabalhar ou estudar. A experiência da nossa casa reafirma a necessidade de uma casa de passagem para a região, não descansaremos até conquistarmos essa política essencial para salvar a vida das mulheres!”, afirma coordenadora da Casa Carolina. Ainda, afirmou que tentou o contato com o Consórcio Intermunicipal e com a prefeitura de Santo André, sendo que o prefeito prometeu apoiar a Casa em reunião com coordenadoras do Movimento, mas até fechamento desta matéria não respondeu às tentativas de contato.

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