As mulheres são o setor mais explorando dentro do sistema capitalista. Taxa de desemprego é ainda maior entre as mulheres negras. A organização das mulheres na luta por direitos trabalhistas é fundamental.
Movimento Luta de Classes-RN e Movimento de Mulheres Olga Benario, RN
NATAL – Segundo a socióloga marxista Heleiteh Saffioti, “A mulher das camadas sociais diretamente ocupadas na produção de bens e serviços nunca foi alheia ao trabalho. Em todas as épocas e lugares tem ela contribuído para a subsistência de sua família e para criar a riqueza social”. Isso é uma realidade que atinge todos os países do mundo, não sendo exceção, o Brasil.
Contudo, o trabalho da mulher é precarizado, uma vez que 70% delas não possuem carteira assinada, conforme o IPEA, e a situação agravada durante a pandemia. Ou seja, essas trabalhadoras não têm seus direitos na lei respaldados, levando a possibilidade de trabalhos precários, subemprego e da insalubridade.
No entanto, as mulheres trabalhadoras negras sofrem mais que as brancas, isso advém do processo histórico de racismo e escravidão. Por conta disso, são as primeiras a perderem seus empregos, a terem seus salários rebaixados, bem como a sofrerem assédios dentro do trabalho. De acordo com o Boletim Mulheres Negras no Mercado de Trabalho, as mulheres negras foram as que apresentaram uma desocupação de, aproximadamente 17,3% no 1º trimestre de 2020, 19,2% no 4º trimestre de 2020 e 21,4% no 1º trimestre de 2021.
No Rio Grande do Norte, as mulheres e as pessoas negras são a maioria em população, mas também são a maioria nos subempregos e em trabalhos desprotegidos, bem como nos rendimentos mensais, tendo as mulheres negras recebendo cerca de R$ 1334,00 enquanto as não negras – sem incluir indígenas e amarelas – pouco mais de R$ 2000,00, conforme o DIEESE.
Não bastasse, atualmente, segundo o IBGE, ter filhos pequenos está entre as muitas barreiras enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho. Em 2019, o nível de ocupação das mulheres com filhos de até 3 anos caía para 54,6%. Para mulheres pretas e pardas com filhos dessa mesma faixa etária, o nível de ocupação era ainda menor, de 49,7%.
Olhando para tais dificuldades no ingresso ao emprego, muitas vezes esse sendo precarizado, as famílias chefiadas pelas mulheres, que são a maioria mais vulneráveis, não têm condições de vida adequada, não possuem moradia, alimento, educação ou saúde de qualidade. Não é à toa, nesse sentido, que 63% das casas chefiadas por mulheres, a maioria negras, estão abaixo da linha da pobreza, segundo o IBGE em 2019.
Assim, a jornada de trabalho da mulher torna-se mais cansativa e estressante, sendo duplas ou até triplas jornadas, uma vez que mais de 90% das mulheres chefes de família se dedicam aos afazeres domésticos.
É importante discutirmos essas questões pois diz respeito a quem, verdadeiramente, compõem o povo brasileiro. Aquelas que acordam cedo em suas várias jornadas e que não tem seu nome, sua história e principalmente suas vidas reconhecidas como válidas. São as mulheres a maioria da população brasileira, mas também são as que mais sofrem das opressões muito bem estruturadas pelo capitalismo, a exemplo do machismo e da objetificação do corpo feminino.
Nesse sentido, o trabalho da mulher é subestimado e inferiorizado, posto que o próprio ser feminino é tratado dessa maneira no sistema capitalista. Não é coincidência, portanto, que os subempregos em fábricas e teleatendimentos, estão relegados à população negra, sobretudo às trabalhadoras negras. O medo de caminhar, pegar algum aplicativo (buscando a segurança) e o fato de existirem andam lado a lado. Mas, em nossa história, mostrou que as mulheres nunca se submeteram a esse sistema de opressão.
Pelo contrário, diversas foram as dirigentes e referências na luta pela emancipação da mulher e do povo. Dandara dos Palmares, Maria Felipa, Laudelina de Campos, Selma Bandeira, Olga Benario e diversas outras mulheres são exemplos de que a liderança feminina é necessária para as transformações sociais. Elas e diversas outras personagens históricas mostram que a organização e a luta pelos direitos são fundamentais para a revolução proletária. Afinal, sem a participação da metade da população no Brasil e no mundo, é impossível a emancipação da classe trabalhadora.
Por isso, como afirma a Alexandra Kollontai, “devemos dizer a nós mesmos: “Há força na unidade”; quanto mais trabalhadoras juntarem-se ao movimento da classe trabalhadora, maior será nossa força e mais rápido teremos o que queremos. Nossa felicidade e a vida e o futuro de nossos filhos estão em jogo”.