Poesia | Cotidiano?

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Acauã Pozino

Todo dia eles fazem tudo sempre igual:
Acordam o povo as 6 horas da manhã
Com o riso do capeta e o som da ParaFal
Pra no jornal ter outro João Pedro ou outro Cauan.

Todo dia eles dizem pra trabalhar
E essas coisas que o capital repete,
Mas o trabalhador nem chega em casa pro jantar,
Pois no meio do caminho tinha uma AK47.

Todo dia eles metem esse caô
De que quem não serve pra ser explorado
É perigoso (alá, tá elogiando o matador)
E que além de inútil tem que ser eliminado.

Todo dia eles tentam nos tirar do caminho
Fazem até cossplay de nazi
Mas a gente, tá ligado, tem que falar baixinho:
É só votar bem e falar mansinho que logo passa essa fase.

Irmão, que fase é essa que já passou os 200 anos?
Acabou o amor, aliás pra nós nunca foi dado!
Falar mansinho? Como, se não somos nem humanos?
A gente meramente existe e do nada plaw,
Assassinado?

Se você não tá sabendo, eu te informo como foi:
Uma câmara de gás, sim, em 2022!
Na folha sai bandeira da SS, lá na Ucrânia,
E nas palmeiras de minha terra os corpos, trabalho da nossa tropical Okrana.

Por isso levantamos de Amílton a Bandeira,
Railan se faz presente em cada verso que eu escrevo,
Monstrinho e Michael Hickson, salve Nilde da Silveira
Tá na hora dessa besta conhecer o que é o medo!

Loucura é 1% ter a dignidade de 50,
Perigoso é os defiça conhecendo o marxismo,
Aprendendo que oprimido e explorado têm ciência,
Ao chamado de Baku eu faço voz e reafirmo.

Revolta me bate quando eu penso
Que esses versos, do meu peito só,
Vão voar pela cidade e são só vento,
Vento que perde a bala, vento que levanta o pó.

Mas como meu amigo falcão do norte ancestral,
Não temo o vento e nem as cobras na folhagem.
Porque as cobras quando ele canta se escondem no matagal
Então aí vem o meu povo,
Abram passagem!