Dados da pesquisa VIGITEL demonstram que a capital dos gaúchos lidera os índices de depressão e suicídio no país. Fruto do avanço do capitalismo e aumento das desigualdades sociais sob o bolsonaro, os problemas de saúde mental estão sendo enfrentados por iniciativas como a Rede Nise da Silveira, do Movimento de Mulheres Olga Benario. Números menores em outras capitais podem estar relacionados com a falta de diagnóstico efetivo.
Carla Castro*
Porto Alegre/RS
OPINIÃO – Desde que a pandemia do novo coronavírus começou, para quem milita nos bairros, vilas e favelas, o dado recentemente divulgado pelo Ministério da Saúde não é novidade. Conforme estudo da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, Porto Alegre tem o maior índice de pessoas com depressão e a maior taxa de suicídio do país. A pesquisa foi realizada com cerca de 27 mil brasileiros que responderam à seguinte pergunta: algum médico já lhe disse que o (a) senhor (a) tem depressão?
Os números podem ser analisados a partir de dois pontos: primeiro, a falta de políticas públicas e o aumento das desigualdades sociais ocasionadas pelo desgoverno de Jair Bolsonaro, que deixou o povo desassistido em meio a uma pandemia. O segundo ponto é o próprio avanço do capitalismo, esse sistema que tem como finalidade a exploração de cada homem e mulher até seu último suspiro.
Nesse sentido, vimos desempregados perdendo suas casas e não tendo como sustentar suas famílias, estudantes sem nenhum indicativo de futuro e de emprego, abrindo mão de estudar para ir em busca de trabalho e trabalhando na informalidade ou subemprego, como é o caso dos entregadores de aplicativos.
Entre as capitais que participaram da pesquisa, Porto Alegre lidera a lista quando o assunto é depressão, 17,5% dos entrevistados apontaram que sofrem com a doença. Com uma pequena diferença vem em 2º e 3º lugar Belo Horizonte com 17,2% e Florianópolis com 17,1%. Infelizmente, os porto-alegrenses também estão no topo entre os municípios com maior índice de suicídio, com 9,65%, na sequência vem Campo Grande com 9,61% e Teresina com 8,04%.
Os pesquisadores indicam que a depressão é uma doença genética, porém que os fatores sociais como a pobreza, a desigualdade, o desemprego, a violência urbana, assim como traumas e até mesmo as questões climáticas afetam os indivíduos e o seu psicológico. Logo, percebemos o quanto é importante ter um sistema de saúde universal, onde qualquer cidadão pode buscar apoio na rede pública.
Marcelo Fleck, coordenador do ambulatório de Depressão do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e professor de Psiquiatria na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) analisa a situação afirmando que apesar de Porto Alegre ter altos índices de depressão, o número de deprimidos pode não ser tão maior do que em outras capitais por duas razões: “A cidade tem um dos Sistemas Únicos de Saúde (SUS) mais fortes do país e é reconhecida nacionalmente por treinar profissionais em saúde mental com excelência – fatores que facilitam o diagnóstico da população”.
Ele salienta que os dados também revelam a qualidade do serviço médico: “Pode ser que, em outra capital, a pessoa esteja deprimida, mas ninguém detectou. Os médicos daqui podem detectar melhor do que em outros Estados porque o sistema de saúde está mais organizado”.
Nesse sentido, a tese de Fleck conversa com a pesquisa que afirma que as capitais com mais pessoas relatando depressão são mais ricas e com sistemas de saúde robustos: Porto Alegre, Belo Horizonte e Florianópolis. Do outro lado, temos as capitais com menos diagnósticos, onde estão Salvador, São Luís e Belém.
Não podemos falar em atendimentos psicológicos sem destacar o grande trabalho feito pela Rede de Apoio Psicológico Nise da Silveira, através do Movimento de Mulheres Olga Benario. As companheiras detectaram que com a obrigatoriedade do distanciamento social no período mais forte da pandemia, as mulheres se viram praticamente presas em casa. Como alternativa, foi criada uma grande rede de psicólogas pelo Brasil para atendê-las. Em mais de um ano, a iniciativa já atendeu centenas de mulheres.
Percebemos que a organização popular e o fortalecimento do serviço público, dois grandes vilões para os ricos, são aliados do povo pobre. A Rede Nise e o SUS mostram que há alternativa para os trabalhadores. Não podemos permitir que mais pessoas percam suas vidas para que outras ganhem ainda mais dinheiro.
* Jornalista e coordenadora estadual do MLB/RS
Porto não Alegre