O número de brasileiros vivendo em uma condição de miséria extrema quase dobrou desde 2020. Atualmente, 33,1 milhões de pessoas passam fome no Brasil. Os índices apontam que, com o governo Bolsonaro, o país retrocedeu três décadas e a fome voltou a patamares da década de 1990.
Reinilson Filho
SÃO PAULO. A fome avança cada vez mais rápido sobre a população brasileira. Segundo o estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) divulgado nesta terça-feira (08), atualmente mais de 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil. Segundo o estudo, 15,5% da população brasileira não tem o que comer.
A quantidade de pessoas passando fome praticamente dobrou em dois anos. Em 2020, quando foi realizada a primeira pesquisa deste tipo, eram 19 milhões de pessoas com fome no Brasil. São 14 milhões de novos brasileiros/as em situação de fome em pouco mais de um ano.
Além dos 33 milhões de brasileiros que não têm o que comer, 32 milhões têm acesso a quantidade insuficiente de alimentos e quase 60 milhões não sabem se conseguirão se alimentar nos próximos dias. Ao todo, 125 milhões de pessoas, mais da metade da população brasileira (58,7%) da população brasileira, convive com a fome em algum grau de insegurança alimentar. Este número também cresceu em relação a dezembro de 2020, quando o valor era de 55,2%.
A contradição entre recordes no agronegócio e fome no Brasil
No Brasil governado por Jair Bolsonaro, apenas quatro em cada dez casas brasileiras têm acesso à alimentação adequada, ou seja, estão em condição de segurança alimentar.
O problema da fome é mais grave para a população que vive no campo, onde 60% das famílias relataram algum tipo de dificuldade para comer e 18,6% estão com insegurança alimentar grave.
Esses números demonstram uma grande contradição do sistema capitalista, pois, como um país como o Brasil, um dos maiores produtores de alimentos do mundo, não consegue assegurar a mais básica alimentação de seu povo?
A resposta pode ser encontrada no fato de, apesar do nosso país ser o maior produtor de soja, gado e da grande maioria dos alimentos, a maioria dessa produção ser voltada para a exportação a preços baixos, enquanto o preço dos alimentos no país não para de subir.
O Brasil alimenta a parte mais rica do mundo enquanto sua própria população passa fome. Estamos inseridos em uma lógica que resulta na manutenção do país como produtor de soja, grãos e carne para a exportação.
Em 2020, 89% de todos os grãos produzidos no país foram de milho e soja. Ao mesmo tempo em que a produção dessas commodities de exportação cresce, em área e em toneladas no território nacional, a área destinada ao plantio de produtos-base da dieta como feijão, arroz e mandioca, decresce ano após ano.
Esse fenômeno de substituição de área produtiva por latifúndios de cultivo de grãos para exportação não é novo, mas tem se intensificado nos últimos anos devido a políticas ultraliberais no setor agropecuário brasileiro. O desmonte dos programas de soberania alimentar, iniciado ainda no final do governo Dilma e expandido no governo Temer, chegou ao ápice no governo de militares e banqueiros de Bolsonaro, que praticamente acabou com os estoques sociais de alimentos que o governo mantinha para alimentar a população mais pobre.
Mulheres e negros são os mais afetados pela fome
Além de conviver com o racismo e machismo, com o número cada vez maior de feminicídios, com as chacinas (só no Rio de Janeiro, em 10 anos, ocorreram mais de 400 chacinas com 1,3 mil mortes), a população preta e as mulheres são as camadas mais afetadas pela fome.
Os números da pesquisa mencionada indicam que 65% dos domicílios comandados por pessoas pretas e pardas e 63% dos lares chefiados por mulheres convivem com a fome. Vale destacar que a preocupação com o acesso a alimentos atinge maiores parcelas da população no Norte (71,6%) e no Nordeste (68%).
Entre os que têm fome, 15,9 milhões citaram que tiveram de adotar estratégias consideradas inaceitáveis ou vergonhosas para adquirir comida, chegando a buscar comida no lixo.
Pátria para Bolsonaro é povo passando fome e sem direitos
O governo Bolsonaro agravou muito as contradições já existentes no Brasil. E tenta repetidamente dar um golpe de Estado para estabelecer uma ditadura e intervir ainda mais fortemente nas liberdades democráticas tão limitadas.
Faz isso porque governa para os bilionários e não para os milhões de brasileiros que estudam e trabalham, para os pequenos e médios produtores e, muito menos, para as 33,1 milhões de pessoas que hoje têm a fome como uma realidade diária.
Não só no Brasil a fome atinge grande parte da população. No mundo, duas em cada três pessoas passam fome e 1,3 bilhão de pessoas vivem com menos de um dólar por dia. Ao mesmo tempo, enquanto a imensa maioria da humanidade é jogada na miséria, uma minoria de bilionários passeia em naves espaciais em volta da terra e as dez pessoas mais ricas são donas de mais de 50% da riqueza mundial.
A solução da crise alimentar não se encontra, apenas, no desenvolvimento de mais técnicas e tecnologias, mas sim na luta pela derrubada do modo de produção capitalista e no estabelecimento de uma nova racionalidade produtiva. Uma racionalidade voltada para atender as necessidades do povo assegurando um de seus direitos mais fundamentais: a alimentação.
O modelo capitalista já produziu diversas mentiras como a Revolução Verde e tem a cara de pau de afirmar que “produz para alimentar o mundo”. Mas, na verdade, produz morte, desmatamento e fome. O capitalismo não tem suprido e nunca suprirá as necessidades do povo. Por isso, deve ser substituído por um sistema que tenha o direito à vida digna acima do acesso ao lucro.
Margarida Maria Alves afirmava enquanto enfrentava os barões do agronegócio: “É melhor morrer na luta do que morrer de fome”. Usemos essas palavras e seu exemplo para irmos às ruas contra a fome, a miséria e o desemprego, para derrubarmos o governo Bolsonaro e para lutar em defesa do poder popular e do socialismo.