Recebemos constantes propagandas de produtos e serviços que devemos consumir como se fosse um paralelo a consumir a felicidade. O controle financeiro de forma consciente não é para possibilitar o enriquecimento individual, mas para que possamos usar o nosso dinheiro para que retorne para a sociedade de forma a contribuir com a nossa classe, fortalecendo trabalhadores locais, movimentos sociais e o partido, de acordo com o que é possível para cada um.
Bento Xavier e Giovanna Dias
DIADEMA (SP) – São poucos os trabalhadores que recebem uma renda suficiente para cobrir os gastos mais básicos para uma vida digna, com uma boa alimentação, moradia, saúde, educação e acesso a cidade. A maioria de nós vive tentando sobreviver, convivendo com a insuficiência alimentar, andando a pé por não ter dinheiro para o transporte e morando em periferias. Mesmo assim, somos bombardeados diariamente com propagandas de diversos produtos a serem consumidos, pretensamente capazes de nos dar felicidade. Se torna, então, um grande desânimo controlar os valores que entram e saem quando sabemos que não terá o suficiente para as nossas necessidades e, portanto, também para as nossas vontades, mesmo trabalhando muitas horas e dias do mês.
O Dieese calcula que é necessário um salário mínimo de R$ 6.394,76, para que se possa sustentar uma família de até 4 pessoas. Nesse cálculo entram gastos com moradia, transporte, alimentação, saúde, educação, vestuário, higiene, lazer e previdência. Porém, atualmente o salário mínimo oficial é de R$ 1.212,00, e de acordo com o IBGE, quase 12 milhões de brasileiros estão fora do mercado de trabalho por não conseguir um emprego, além de 40% da população ativa viver na informalidade e assim não ter estabilidade na renda. Isso faz com que a grande maioria do nosso povo, nesse riquíssimo país, mesmo que planeje seus gastos, não tenha acesso a tudo que tem direito, de coisas que são essenciais ao seu bem-estar e de sua família.
Dentro desse contexto, seja andando pela cidade, nos filmes, séries e canais de TV que assistimos ou nas redes sociais, recebemos constantes propagandas de produtos e serviços que devemos consumir como se fosse um paralelo a consumir a felicidade. Qual marca é a usada por pessoas admiráveis, quais os produtos de beleza para termos a aparência certa e até quais os lanches que devemos comprar, afinal, quem está disposto a cozinhar depois de enfrentar a jornada de trabalho de pelo menos 8 horas diárias, sem contar as 4 horas de transporte? Merecemos, não merecemos? Mas qual conta deixará de ser paga? Qual item continuará com aquela “gambiarra”? Que lazer e cultura não teremos acesso? Isso já nos é retirado a cada dia quando nos cobram valores absurdos pela moradia, transporte, água, energia, nos pagam um salário miserável pois aquele valor acumulado pelas empresas como resultado do nosso trabalho está sendo saqueado para os bolsos burgueses.
Mas não podemos nos conformar a ter de abrir mão do pouco que conseguimos. Ao nos deixar levar pelo consumismo que o capitalismo incentiva, em que é propagandeado que nossas tristezas e frustrações serão suprimidas comprando algum produto, estaremos deixando em segundo plano aquilo que realmente é essencial para investirmos em nossas vidas. A principal reflexão que devemos ter ao analisar nossos gastos é se aquilo onde estamos gastando realmente é uma vontade nossa ou se estamos sendo refém de uma ilusão da ideologia burguesa, que prega que seremos mais completos se consumirmos o que o capitalismo quer.
É possível pensar em formas de economizar e assim ter um controle maior das nossas finanças, como por exemplo: sair mais cedo de casa para aquela atividade que é possível ir a pé, preparar uma marmita antes de sair para evitar o gasto com refeições na rua, pensar se realmente há utilidade naquilo que compramos ou se só estamos agindo no impulso. Alguns pequenos sacrifícios a mais como os citados no nosso dia a dia são possíveis para avançar no controle e na arrecadação das finanças.
O controle financeiro de forma consciente não é para possibilitar o enriquecimento individual, a sua importância deve ser para que possamos combater a ideia de que o dinheiro deve ser apenas para o consumo privado e possamos usar o nosso dinheiro para que retorne para a sociedade de forma a contribuir com a nossa classe, fortalecendo trabalhadores locais, movimentos sociais e o partido, de acordo com o que é possível para cada um.
O capitalismo apenas tem a nos oferecer a miséria e a exploração, e como diz Lenin, os trabalhadores têm como única arma na luta pelo poder a sua organização. Somente alcançaremos uma vida plena e sem explorações, onde o acesso ao lazer, a uma jornada justa de trabalho e um salário digno deixarão de ser um sonho distante através da construção da revolução socialista, que por sua vez só será possível se a construirmos materialmente, se arrecadarmos os recursos necessários para sustentar o partido de vanguarda dessa revolução. A contribuição de cada pessoa é extremamente importante nesse processo, pois nossa libertação não vai ser construída senão pelas mãos e pelo financiamento da classe trabalhadora. Portanto, a contribuição com o partido e com os movimentos sociais, são formas de garantir que a luta coletiva tenha recursos para a vitória dos trabalhadores na construção do socialismo e a sua arrecadação precisa ser uma das tarefas essenciais a serem cumpridas e discutidas por cada militante.