Comuna
Salvador-BA
Em seu discurso “A arte deve temperar o povo com consciência de classe para a construção do socialismo”, o revolucionário albanês Enver Hoxha defende que os escritores precisam de amplo conhecimento cultural e domínio do marxismo-leninismo e que, em suas palavras, “isso não se faz estudando esse ou aquele livro, mas trabalhando com a população, vivendo no meio delas. Ficar inspirado com o movimento de massas e a partir daí, criar; esse é o processo mais decisivo para o artista revolucionário.”
É movido por essas ideias de que a arte deve servir ao povo e trabalhar ativamente para o despertar das massas para a revolução, que lancei o álbum “Procurado” nesse domingo (11). Abordando temas como o avanço do fascismo, a repressão policial, o genocídio do povo pobre e a política de guerra as drogas que mata e encarcera a juventude nas periferias, “Procurado” aponta que existe uma alternativa a tudo isso: a revolução socialista.
Em minhas letras, busco revelar quem são nossos reais inimigos: os grandes empresários, latifundiários, banqueiros e a polícia militar que oprime o povo e serve aos seus interesses. “Procurado” mantém viva a memória de heróis do povo como Manoel Lisboa, Carlos Marighella, Manoel Aleixo, Stalin e Che Guevara, que dedicaram suas vidas a lutar por um mundo novo. Batalhas históricas como Stalingrado e ações armadas realizadas durante a ditadura militar também são lembradas no álbum, como a invasão à rádio nacional e a expropriação de armas realizada em um quartel de Pernambuco sem efetuar um disparo sequer, o que desmoralizou a ditadura militar.
O fascista Jair Bolsonaro é um dos principais alvos do álbum “Procurado”. Em seu governo, os ricos ficaram cada vez mais ricos e o povo na miséria, passando fome e sem moradia digna. Enquanto isso, o preço dos alimentos está cada vez mais alto, o que tem deixado mais da metade do povo brasileiro em situação de insegurança alimentar. E diante de tudo isso, Bolsonaro ameaça implementar um golpe militar como o de 1964, que torturou e assassinou jovens, trabalhadores, camponeses, estudantes, mulheres e crianças. “Procurado” vem para combater o fascismo por meio da arte e dizer que o povo brasileiro não aceitará uma ditadura militar.
O álbum também busca evidenciar uma série de denúncias vivenciadas nas lutas do povo pobre em Salvador como em ocupações na luta por moradia, a exemplo da Ocupação Carlos Marighella. As famílias que moram nessa ocupação, quando ocuparam o prédio da Governadoria para exigir moradia digna, foram recebidos com socos, empurrões, pontapés, etc. por policiais militares, policiais civis e seguranças. Na ocasião, um companheiro do Movimento de Luta no Bairros Vilas e Favelas (MLB), foi sequestrado e ficou desaparecido por horas.
Nos versos, busco trazer uma ideia de que a América Latina é explorada pelo imperialismo norte-americano e os povos devem unir-se contra o inimigo. Importantes escritores e artistas revolucionários da América Latina foram lembrados no álbum, como Jorge Amado e o chileno Victor Jara que teve seus sons “Zamba del Che” e “Plegaria a Un Labrador” sampleados e transformados em rap. Em “Procurado”, homenageio Cuba, reivindico o legado da União Soviética e o sentimento internacionalista está presente. Em uma das músicas, peço liberdade a Pablo Hasel, rapper espanhol marxista-leninista que está preso há mais de um ano por escrever versos contra a família real da Espanha, defendendo uma revolução socialista.
O álbum denuncia a política de guerra as drogas e o narcotráfico, que encarcera e mata a juventude pobre enquanto movimenta 3 trilhões de dólares por ano em bancos privados, alimentando o próprio mercado financeiro internacional. “Procurado” também luta contra a criminalização das pichações, importante forma de se expressar da juventude, espalhando mensagens políticas, frases ou artes nos muros cinzas de nossa cidade.
A arte é uma grande arma contra a burguesia. Uma arma tão poderosa que, em toda a história buscaram calar os artistas revolucionários, seja com o cárcere, o exílio ou mesmo tirando as suas vidas. Os ricos, por outro lado, buscam propagar seu ideal de arte burguês, vazio de conteúdo e distante da realidade do povo. É por meio da arte, música, cinema, TVs, internet, etc. que a burguesia dissemina a sua ideologia individualista, meritocrática e aprisiona o povo aos seus valores atrasados.
O mesmo se repete com o rap, onde são vendidas ilusões de que para se ter sucesso é preciso cantar “aquilo que vende”. Por isso, a arte revolucionária é tão importante. Deve fazer uma disputa de ideias contra a ideologia burguesa, despertando a consciência das massas para a revolução. Precisamos construir novos valores de sociedade e a arte, a cultura são indispensáveis nesse sentido.
De fato, o cerco midiático da burguesia impede que a arte revolucionária consiga alcançar a todo o povo, devido aos algoritmos que dificultam o alcance dos conteúdos socialistas. Por isso, o apoio daqueles que simpatizam com os ideais revolucionários, divulgando a arte popular entre seus conhecidos, é determinante para que esse tipo de arte ganhe cada vez mais relevância na sociedade.
Me inspiro em artistas como Racionais Mcs, Facção Central, Tupac, Vandal, Don L, FBC, entre muitos outros que tem trazido ideias revolucionárias por meio do Hip-Hop. Não podemos ter medo de bater de frente com o sistema capitalista e pôr o dedo na ferida, expondo as suas contradições e defendendo a revolução socialista. Nesse sentido, espero que com este álbum possa também inspirar cada vez mais artistas revolucionários em nosso país a produzir arte e literatura compromissada com a revolução.