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sábado, 20 de abril de 2024

950 dias sem RU marcam a UFPE

Hoje, dia 22 de novembro de 2022 completam 950 dias de Restaurante Universitário fechado na UFPE e milhares de estudantes largados à própria sorte para garantir as três refeições diárias com qualidade nutricional.

A promessa da reforma era de revitalizar as áreas degradadas e hoje, 22/11/2022 já são 950 dias sem o RU na UFPE. Foto: Reprodução

Hoje, dia 22 de novembro de 2022 completam 950 dias de Restaurante Universitário fechado na UFPE e milhares de estudantes largados à própria sorte para garantir as três refeições diárias com qualidade nutricional.

Por: Alysson Monteiro e Mariana Belfort – UJR Recife (PE)


Durante a primeira semana de mandato, em 24 de outubro de 2019, o reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Alfredo Gomes, visitou o Restaurante Universitário (RU) do Campus Recife e assegurou: “queremos oferecer um serviço de qualidade para os alunos, por isso é importante ouvi-los regularmente para saber se o RU está cumprindo seu papel satisfatoriamente”. Hoje, mais de três anos depois, fica escancarado que a fala do reitor não passa de palavras ao vento, porque sua gestão é marcada pelo descompromisso com as políticas de permanência estudantil – em especial com o Restaurante Universitário – e pelo desrespeito com as necessidades dos discentes da instituição.

Àquela época, os 550 lugares para refeições simultâneas no RU já não comportavam a grande demanda do campus Recife, fazendo com que o serviço fosse alvo de reclamações a respeito das longas filas formadas sob o sol e a chuva, além dos problemas aparentes no sistema hídrico e na infraestrutura do prédio. Apesar dos problemas, o restaurante funcionou até o dia 16 de abril de 2020, quando fechou devido à paralisação das atividades presenciais na Universidade em decorrência da pandemia da Covid-19. Tinha-se, então, o contexto mais propício para que as reformas fossem realizadas a fim de sanar os problemas vividos.

Entretanto, apenas em julho de 2020, após três meses sem resposta sobre o acesso ao restaurante e sem auxílio alimentação, a Universidade deu início ao processo de licitação para a obra que teve início em 03 de janeiro de 2022 e que tinha previsão de conclusão para o mês de junho do mesmo ano. A reforma deveria revitalizar as áreas degradadas e ampliar para que coubessem mais 350 lugares. Como esperado, as aulas voltaram ao formato presencial em março de 2022 sem que os estudantes tivessem acesso ao Restaurante e em junho, data prevista para o término, foi anunciado o primeiro atraso das obras, que se estendem até o momento. Hoje, dia 22 de novembro de 2022 completam 950 dias de Restaurante Universitário fechado e milhares de estudantes largados à própria sorte para garantir as três refeições diárias com qualidade nutricional.

Vale ressaltar que, quando foi fechado, o RU apenas atendia aos estudantes bolsistas da assistência estudantil, sendo vedado o uso para estudantes não contemplados pelos editais da PROAES (Pró-Reitoria para Assuntos Estudantis). Dessa forma, o máximo que a Universidade fez para tentar amenizar a situação de fome dos estudantes durante os últimos 950 foi fornecer um auxílio alimentação para bolsistas da assistência estudantil, que infelizmente é limitada por causa da grande burocracia para a seleção, resultando em muitos estudantes ficando sem acesso à alimentação, mesmo preenchendo todos os requisitos, sem contar o valor irreal da bolsa que não acompanha a taxa de inflação.

Para entender como os estudantes enxergam a situação, conversamos com Gilberto, estudante do 2º período da graduação em Geografia. Ele nos contou que o mais complicado de todo esse transtorno é a questão financeira, porque ele não é natural de Recife, paga aluguel, e, mesmo assim, a comida é o que mais pesa no orçamento. Ele também disse que, se pudesse, estava tomando desde o café da manhã até o jantar no Restaurante Universitário.

Já o relato de Sabrina, estudante de Enfermagem, destacou outras problemáticas envolvendo o restaurante: ela e as colegas de curso têm estágio obrigatório no turno da manhã e aula à tarde na Universidade, ou seja, o intervalo entre os dois turnos deve ser usado tanto para a locomoção do local de estágio à Universidade quanto para almoçar. Então, é impraticável que elas cheguem a tempo de assistir às aulas tendo que esperar em filas quilométricas para conseguir acesso ao almoço do Restaurante Universitário, além da localização inconveniente para todos os cursos da área da saúde, que fica no outro lado do campus.

Movimento Correnteza fazendo protesto com a distribuição de sopa solidária para exigir a aceleração da obra do RU na UFPE. Foto: UJR-PE

Por isso, para ela e suas colegas, vale mais a pena manter o auxílio financeiro para alimentação somado às suas bolsas de permanência estudantil, porque, dessa forma, elas podem preparar suas marmitas previamente e almoçar com mais tranquilidade. Além disso, ela relatou que foram feitas várias tentativas de contato pelo WhatsApp com a ouvidoria da PROAES para agendar reuniões a fim de explicar a situação que enfrentavam e viabilizar a manutenção do auxílio alimentação financeiro para os estudantes bolsistas da PROAES mesmo depois da reabertura do RU. Contudo, todas as tentativas foram frustradas e, inclusive, ficaram sem resposta.

Em um contexto em que 33 milhões de pessoas no Brasil e, destes, 4 milhões do estado de Pernambuco, encontram-se em situação de fome, é preciso fortalecer as redes de articulação para que nossas vozes sejam ouvidas e avançar nas mobilizações para garantir o direito fundamental de acesso a alimentação de qualidade. As ações devem ser pensadas e colocadas em prática imediatamente, como vem fazendo o Movimento Correnteza por meio de denúncias, protestos e distribuição de sopa solidária para exigir a aceleração da obra que já devia ter sido entregue, pela ampliação do acesso ao RU para todos os estudantes, professores e funcionários do campus e pela manutenção do auxílio alimentação financeiro aos estudantes bolsistas da assistência estudantil.

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