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sábado, 2 de novembro de 2024

A produção da ciência e tecnologia no capitalismo

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Dentro da lógica de acumulação capitalista, a ciência e tecnologia, que poderiam proporcionar mais tempo livre aos trabalhadores para se dedicarem a si mesmos e suas famílias, ao descanso, lazer, estudo, enfim, na verdade se configuram como ferramentas cada vez mais elaboradas de exploração.

Tiago Lourenço | Professor e educador popular


SÃO PAULO – Grande parte do desenvolvimento e da formalização matemática dessas teorias se deram na Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, na Inglaterra. As máquinas a vapor precisavam que se explicasse seu funcionamento com o objetivo de potencializar seu rendimento, tendo em vista a maximização do lucro dos donos das fábricas. Foi nessa página da história que se deu origem a uma área da física chamada termodinâmica.

Essa área trabalha com o conceito de energia que sempre foi um mistério – de Aristóteles até Stephen Hawking – e o que se observou é que essa ideia está associada à transformação, se manifestando de várias formas, como movimento, configuração espacial, calor, entre outras. A todo momento estamos cercados por fenômenos que estão em constante mudança, de posição, de estado, de características físicas etc.

Com o tempo, algumas pessoas como Galileu, Descartes e Leibniz perceberam que a melhor maneira de compreender essa dinâmica era lançando um olhar mais atento sobre o que permanece constante, tal como Einstein fez ao estudar o que é relativo para entender o que é absoluto.

Do amadurecimento dessas reflexões, em conjunto com a melhor compreensão de outros fenômenos, como as reações químicas, por exemplo, chegamos ao que hoje se entende por leis de conservação que estão nas bases das ciências naturais.

Ciência como instrumento de exploração

Paralelamente ao início da utilização das máquinas nas fábricas e ao desenvolvimento da indústria inglesa, ocorria o processo de expansão do capitalismo europeu através da colonização de outros povos.

Olhando particularmente para a América Latina, lembramos da exploração sem precedentes da sua riqueza, a destruição das suas terras e o trabalho compulsório de seus povos originários. É didático citar um trecho de As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano: “O capital acumulado no comércio triangular — manufaturas, escravos, açúcar — tornou possível a invenção da máquina a vapor”, se referindo às relações comerciais entre a Europa, África e suas colônias na América, e cujo principal elemento era o tráfico negreiro.

Isto é, o desenvolvimento de certos países, os que estão no centro do capitalismo global, depende do subdesenvolvimento de outros países, os que estão na periferia, como disse o próprio Galeano.

Foram as riquezas extraídas das colônias a fogo e sangue e a escravização de milhões de seres humanos que permitiram investimentos nas fábricas da Inglaterra e, em grande medida, incentivaram os estudos e o desenvolvimento teórico dos conceitos físicos de trabalho, energia e conservação.

A produção científica não é neutra, não paira sobre os antagonismos da sociedade como se nada tivesse a ver com ela. As pesquisas são facilitadas, ou não, graças aos interesses das classes dominantes. Se há investimento e incentivo para a evolução e consolidação de uma certa área do conhecimento é porque beneficiará aqueles que estão no poder.

O desenvolvimento da indústria tem como principal objetivo diminuir o uso da força de trabalho nas fábricas, já que poucas pessoas com algum conhecimento técnico são suficientes para dominar os aparatos, de modo a produzir a mesma quantidade de mercadorias com menor uso de operários, aumentando a taxa de lucro dos capitalistas.

Por outro lado, para a classe trabalhadora isso representa o desaparecimento de milhares de empregos e, portanto, a miséria.

Utilizar a ciência a favor da libertação da classe trabalhadora

Pode até haver um debate sobre a independência da ciência, mas ao menos seu desenvolvimento caminha em direções condicionadas, principalmente, pelos interesses das classes dominantes. Da mesma forma, ela influencia a nossa forma de compreender e agir no mundo. Não devemos ter a ingenuidade de dar à produção científica uma posição neutra e muito menos sustentar a ideia de uma sociedade tecnocrata.

Por isso, é fundamental que a produção, em todas as suas dimensões, esteja sob a direção da classe trabalhadora, para que os nossos interesses estejam à frente dos lucros dos patrões e para que os avanços tecnológicos e científicos representem, de fato, melhorias nas condições de vida de todo o povo.

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