Fascismo ampliou violência eleitoral

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O decorrer do período eleitoral de 2022 teve como característica uma forte dualidade entre um conservadorismo enraizado pela ideologia do fascismo, que influencia e estimula a barbárie, contra a intensa busca pela democracia, simbolizada popularmente na imagem de Lula. Diante desse cenário o embrutecimento da violência política majoritariamente contra a esquerda se tornou evidente.

Diogo Leme


SANTO ANDRÉ (SP) – Pesquisa da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) aponta que entre julho e setembro deste ano foram registrados 212 casos de violência em contexto de campanha eleitoral, ocorrendo um aumento de 110% em relação ao trimestre anterior.

Desses casos, 111 ocorreram apenas no mês de setembro, sinalizando uma crescente nos números de violência com a aproximação do fim das campanhas e o início do 1° turno. Nas legendas, PT (17,5%) e PSOL(9%) estão à frente dos partidos que mais sofreram ataques.

O trágico assassinato de Marcelo Arruda, dirigente do PT na cidade de Foz do Iguaçu (PR), durante seu próprio aniversário de 50 anos, marca uma passagem importante para o início desse expoente crescimento no número de ataques políticos.

A partir daí, o número de denúncias por intimidação e assassinatos com motivações políticas só aumenta. Por 3 meses, cerca de um caso de violência política a cada dois dias foi contabilizado segundo aponta um levantamento feito pela Anistia Internacional.

É possível traçar um planejamento organizado do desenrolar do fascismo, grande ator no desenvolvimento dessa barbárie, no Brasil a partir desses dados.

Georgi Dimitrov, estadista búlgaro e secretário geral da Internacional Comunista entre 1934 e 1943, em sua obra “A luta pela unidade operária contra o fascismo” aponta: “O fascismo no poder, camaradas, é, como acertadamente o definiu o XIII Pleno do Comitê Executivo da Internacional Comunista, a ditadura terrorista descarada dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro”.

Em outras palavras, ao se ter no poder um representante dessa ideologia conservadora, obtém-se o exacerbado nacionalismo, o militarismo autoritário, o sexismo e a propagação e intensificação de preconceitos como o machismo, a homofobia, o racismo, a xenofobia, etc. Características essas que Bolsonaro não escapa de nenhuma.

Daí verifica-se que o fascismo não se apresenta como um modelo econômico ou político complexo, mas na verdade como um movimento de massas, o qual as ganha a partir de uma revolta fajuta, a partir da penetração do conservadorismo via o descontentamento da população com a sua atual precariedade, como foram incentivados os movimentos pró-golpe da ex-presidente Dilma em 2016, por exemplo.

Ou seja: engana o povo dando-lhes instrumentos para que se “radicalizem”, porém beneficiando apenas a classe que gesta esse processo, a burguesia.

Guilherme Gomes Ferreira, Mestre e Doutor em Serviço Social pela PUC-RS, em seu artigo “Conservadorismo, fortalecimento da extrema-direita e a agenda da diversidade sexual e de gênero no Brasil contemporâneo” discorre precisamente sobre essas características: “Esses projetos conservadores não teriam força se não refletissem o pensamento comum, aquele que é buscado para explicar, de forma mais imediata e rudimentar possível, as situações complexas que não são facilmente compreendidas.” […] “O conservadorismo se enraíza nesse espaço para se reproduzir largamente, porque o cotidiano possibilita que suas ideias se misturem às narrativas progressistas sem causar o constrangimento da necessidade de uma análise crítica e de uma coesão e unidade.”

Os discursos de ódio de Jair Bolsonaro como “Não sou coveiro”; ou “Vou fuzilar a petralhada!” não só evidenciam seu caráter fascista e anti povo, mas refletem em seu eleitorado a reprodução da violência tanto moral, quanto física contra um espantalho posto para que se circule estas ideias retrógradas.

“O Brasil vai virar uma Venezuela!”; o alvoroço que foi a fake news criada por Bolsonaro sobre o “kit gay”, dentre outras acusações que procuram atacar a moral da esquerda brasileira, não se preocupam na maioria das vezes a serem verdadeiras, mesmo assim não deixam de servir como instrumentos de mobilização contra as ideias progressistas, procurando difamá-las para em seguida poderem as atacar como quiserem, resultando em situações sanguinárias em prol da aniquilação de um “inimigo”.

Exemplos claros aconteceram nos últimos dias da eleição em que Carla Zambelli perseguiu com uma arma empunhada um militante; Roberto Jefferson atacou com fuzil e granadas a polícia federal que possuía um mandato para prendê-lo; Tarcísio de Freitas, eleito a governador, pediu a um cinegrafista que apagasse as gravações de um tiroteio em que um inocente foi morto. Todas essas pessoas são fortes aliadas de Bolsonaro.

Frente ao clima golpista instaurado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) no dia de votação do segundo turno (31) que tentaram impedir diversos eleitores de Lula a irem exercer seus votos, Leo Péricles escreveu em suas redes sociais qual deve ser o direcionamento do povo brasileiro: “Fiquemos atentos, agir sempre coletivamente e de forma organizada! Mas não abaixemos a cabeça! Estamos do lado certo da história! E venceremos!”. Deixando claro qual deve ser a posição do povo perante uma ameaça fascista – a organização revolucionária.

A verdadeira revolta do povo trabalhador deve ser feita via um partido que vise dizimar com o fascismo e não o propagar. Além de ressaltar a importância da reação imediata do povo, ou seja, ocupar os lugares que foram necessários para derrotar o fascismo, que apesar de ter sido vencido nas urnas, ainda continua forte nas ruas e deve ser combatido a pé de igualdade.