Kivia Moreira, Natal
Segundo os dados da Ouvidoria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), nos
últimos 10 anos, entre 2011 até 2021, cerca de 187 denúncias de assédio foram registradas,
sendo destas 50 de assédio sexual e 137 de assédio moral.
Apesar de ser um número absurdo de casos na universidade, a maioria dos assédios não são
relatados pelas vítimas — majoritariamente mulheres — posto que diversas vezes as vítimas
são colocadas como culpadas dos abusos que sofreram. Entretanto, mesmo aquelas que
possuem coragem para denunciar são frequentemente intimidadas pela direção da
universidade e do setor de estudo, pois as denúncias formais não são encaminhadas e, por
conseguinte, também não são solucionadas.
No último semestre, uma servidora da área técnica e científica da Universidade, o Instituto
Metrópole Digital (IMD), pediu exoneração após casos constantes de assédio que sofria dentro
do Instituto. Apesar da servidora apresentar provas de conversas no Whatsapp, a UFRN se
omitiu sobre a denúncia, deixando a vítima desamparada e ampliou o perigo que já corria.
Infelizmente casos como esse na UFRN não são isolados, mas sim crimes sistemáticos que
ocorrem dentro da instituição.
Tathiane Silva, estagiária de Serviço Social do Centro de Referência em Direitos Humanos (CRDH) da UFRN, relatou que “[…] geralmente, um caso individual que chega ao Centro, quando analisado, é percebido que se trata na verdade de um caso coletivo. Ou seja, o que motivou a denúncia foi um caso que aconteceu com a pessoa que nos procurou, mas aquela mesmo agente violador já praticou ou pratica aquela violência com outras mulheres e/ou pessoas.” E, nesse sentido, o CRDH realizou um diagnóstico online de casos de assédio e violência de gênero na universidade, no qual obteve cerca de 3.031 correspondentes, mostrando que estes são sim casos recorrentes na universidade e que se deve haver um amparo às vítimas de violência por parte da Universidade.
Diante desses casos absurdos de assédio na universidade, o Movimento Olga Benário iniciou a campanha de combate aos assédios na UFRN. No último semestre, foi realizada uma ocupação na Reitoria da Universidade com cerca de 50 mulheres e apoiadores para exigir uma postura de combate aos assédios por parte da direção dessa instituição. Durante o ato, foram levadas queixas e denúncias de casos para a universidade, essas coletadas pelo movimento durante a mobilização para o ato, juntamente com uma carta de reivindicações em defesa das mulheres na UFRN, a exemplo da manutenção dos postes de luz, bem como criação de comissão de apuração de casos de assédio na universidade.
À vista dessa situação, fruto das denúncias das mulheres, foi instaurado um Grupo de Trabalho,
composto por psicólogas, estudantes e assistentes sociais, para debater orientações de
combate ao assédio na universidade.
Contudo, as ações de medida protetiva e preventiva aos assédios ainda são insuficientes para
deter essas violências. Por isso, o movimento, juntamente com outras organizações feministas
e o Diretório Central dos Estudantes José Silton Pinheiro organizaram um novo ato para exigir
medidas mais concretas de combate às violências de gênero. Esse ato ocorreu no setor de
exatas da universidade, tendo em vista que o caso de assédio ocorrido há alguns meses — em
que um homem não identificado foi flagrado dentro do banheiro feminino fazendo registros
das mulheres utilizando o espaço — ocorreu neste setor. Apesar do ocorrido ter tido grande
repercussão, a direção da universidade não investigou o caso.
Podemos perceber nitidamente a partir da conjuntura que é fundamental a organização das
mulheres para apurar os casos, mas, principalmente, atuar na perspectiva de cobrar
posicionamentos da reitoria da UFRN, bem como medidas efetivas e práticas de proteção às
estudantes, às servidoras e às trabalhadoras da universidade. Além disso, é um momento de
que mais mulheres se posicionem e se organizem diante das violências de gênero e do
machismo.