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quarta-feira, 24 de abril de 2024

Ação criminosa da PM-BA às vésperas do Natal escancara o extermínio sistemático da população negra

“Eles já chegaram atirando. Tinha mais de 20 pessoas na rua fazendo a confraternização, crianças também. [Meu irmão] é pedreiro”, ressalta Daiane, irmã de Adeilton, uma das vítimas.

A PM-BA é a polícia mais letal para pessoas negras. Segundo a Rede Observatório de Segurança Pública em relatório publicado no ano passado 99,6% das vítimas da polícia militar baiana em operações policiais na capital do estado eram negras.

Caio Mago | Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) – Bahia


SALVADOR | Na véspera do Natal, durante uma confraternização entre moradores do Vale das Pedrinhas, no complexo do Nordeste de Amaralina, uma viatura da Polícia Militar chegou atirando sem motivo aparente. Os atingidos foram Marcelo Daniel Ferreira Santos, de 19 anos, que veio a falecer na madrugada do dia 28 e Adeilton Santana Pereira, de 34 anos, que segue internado no Hospital Geral do Estado (HGE).

Segundo as famílias das vítimas os policiais atiraram contra a multidão de forma covarde, se negaram a prestar socorro e só não assassinaram os jovens ali mesmo porque a população interveio e alertou que não eram criminosos.

“Ele estava jogado, perdendo muito sangue e os policiais se recusaram a dar socorro. Eu fiz uma agonia para que eles socorressem meu filho, mas só quando a mãe dele chegou, foi que eles pegaram Marcelinho e colocaram no carro. Eu fui com eles para o HGE”, conta Ademário, pai de Marcelo.

Jovens negros vítimas de mais uma ação criminosa da polícia militar baiana (Foto: Instagram/Reprodução)

Marcelo, à esquerda, era jogador de futebol, atuava nos times do bairro e havia voltado recentemente de uma viagem que fez para jogar. Como muitos outros jovens ele sonhava em viver do esporte e dar uma vida digna para sua família, correndo na contramão da política de estado da burguesia, que priva nosso povo do esporte e não investe no nosso bem-estar. Adeilton, à direita, é pedreiro e resiste à rotina exaustiva do trabalho quase sempre informal e subremunerado.

“Meu filho não tem o hábito de correr de polícia. Meu filho tem o hábito de pegar uma chuteira, um meião e ir para o treinamento dele, porque ele é esportista”, disse a mãe de Marcelo em entrevista à TV Bahia.

O Genocídio Negro na Bahia

Absurdos como esse não são exceção no estado. Em Setembro de 2021 a Alma Preta Jornalismo apresentou um levantamento que indicou que em 2020 100% das 381 vítimas da Polícia em Salvador (1,04 por dia) foram homens negros. Na Bahia foram 1.137 vítimas letais e 98% dessas eram negros. Na Roma Negra, nome dado à cidade de Salvador por conta da maior população preta fora de África, a juventude sangra deliberadamente nas periferias, entregues ao tráfico de drogas, à violência policial, ao desemprego, ao subemprego e à fome. 

Os motivos dos assassinatos são quase sempre alegações infundadas, como no exemplo da Chacina da Gamboa  cuja justificativa foi uma troca de tiros – que a investigação prova que não aconteceu -, desmentida ao vivo por uma das moradoras da Ocupação. 

Outro exemplo foi o assassinato do estudante Luiz Carlos Mendes, na Fazenda Grande do Retiro, que foi acusado de ser “amigo de traficantes”, como se isso justificasse a execução. 

O ex-governador do Estado, Rui Costa (PT), que assumiu o primeiro mandato declarando que “a família do bandido é quem tem que chorar”, quase sempre se manteve em silêncio diante dos absurdos cometidos pela Polícia que controlou durante oito anos. É uma estratégia de redução de danos, já que em 2015 após os doze assassinatos da Chacina do Cabula o então governador comparou os policiais com artilheiros em frente ao gol. Por trás do discurso da igualdade racial, democracia e “amor contra o ódio”, o Partido dos Trabalhadores (PT) não demonstra preocupação em relação ao comportamento fascista do ex-governador agora promovido a ministro da Casa Civil do governo Lula. Nenhuma das famílias das vítimas parece importar para a alta cúpula do partido, que ignora o massacre promovido pela gestão de Rui Costa e o mantém em posições e espaços de poder.

No Novembro Negro, campanha de celebração pelo mês da Consciência Negra, um evento realizado pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) premiou Jerônimo Rodrigues, ex-secretário de educação e governador eleito, sem que este possua qualquer contribuição significativa para o Movimento Negro na Bahia e no Brasil, usando o evento como palanque e fazendo da celebração um escárnio à luta do nosso povo pela justiça e reparação das crueldades cometidas durante o período da escravidão. Para além disso, nenhuma crítica ao genocídio cometido pelo antigo governador, à situação de desemprego que nosso povo enfrenta ou às dificuldades sentidas na pele da classe trabalhadora – em sua grande maioria negra.                              

Essa é a situação que a Bahia enfrenta em seus organismos institucionais, que ignoram nossas dores e instrumentalizam nossas lutas a favor da manutenção do poder político e dos cargos nos gabinetes.

A organização como ferramenta de luta

Lênin, grande liderança na revolução de Outubro de 1917 que levou os trabalhadores ao poder e deu origem à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), dizia que a organização é a única coisa que nós, trabalhadores, temos como arma para mudar a nossa realidade. Prova disso é que no mesmo dia em que Marcelo veio a óbito a comunidade do Nordeste de Amaralina, onde ele morava,foi às ruas queimando objetos e atravessou um ônibus para travar a cidade como protesto contra a ação criminosa da Polícia Militar. 

É preciso intensificar a reação popular aos crimes cometidos pelo Estado capitalista, em especial os assassinatos, e manter uma mobilização constante, atenta e forte contra as violações que a estrutura política que hoje é comandada pela burguesia promove contra as nossas vidas e a nossa dignidade. 

É necessário que nos organizemos em partidos políticos de luta, ou seja, independentes do dinheiro sujo do empresariado, em movimentos sociais combativos e que lutemos diariamente pela derrubada do sistema capitalista, que se ergueu na escravidão dos nossos ancestrais pela força física e que se mantém pela exploração da nossa força de trabalho baseada na privação das nossas necessidades básicas – como a alimentação, a moradia e a saúde – que nos obriga a trabalhar por salários miseráveis enquanto a burguesia põe no bolso o fruto do nosso suor. 

Se, como Malcolm X provou, o sistema capitalista não existe sem o racismo, seremos nós os responsáveis por cortar esse mal pela raiz, para que nossa poesia não seja mais escrita com sangue. Venceremos!

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