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sábado, 2 de novembro de 2024

A violência revolucionária e o vandalismo fascista

Tentativa fascista de instaurar uma nova ditadura militar da burguesia no dia 8 de janeiro de 2023 não foi bem-sucedida.

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Caio Mago | Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) – Bahia


BRASIL | Por volta das 15h do dia 08 de janeiro, o Brasil foi surpreendido com uma invasão à Praça dos Três Poderes por um grupo de mais de mil pessoas que reivindicavam o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF), o cancelamento das eleições e a intervenção do Exército Brasileiro no comando do país, aos moldes do que foi a Ditadura Militar de 1964.

Ao entrar no Congresso Nacional, destruíram salas inteiras, danificaram obras de arte, roubaram armas e documentos e algumas pessoas inclusive defecaram no local. Acobertados pelas forças de segurança, entraram com facilidade no terreno que foi palco de uma intensa e violenta repressão policial aos movimentos populares em 2016, durante manifestações contra o golpe que enfiou o neoliberalismo goela abaixo do povo, e, em 2017, durante protestos contra a Reforma da Previdência.

Assim como durante as jornadas de Junho de 2013, a mídia e o Estado burguês souberam aproveitar da situação para manipular a opinião pública e impor restrições contra os movimentos sociais.

Enquanto os grandes canais de comunicação criticavam apenas o método, e não o conteúdo, e buscavam estabelecer uma separação entre o bolsonarismo “radical” e o “moderado” para esconder a conveniência do projeto liberal-fascista orquestrado pelo Partido Fardado, o STF prontamente decretou ilegal qualquer manifestação em prédios públicos, reduzindo o poder de impacto e justificando ações violentas contra a luta do povo – que sempre aconteceu.

Entre o pacifismo liberal e os “inimigos do vidro”, é fato que a violência é um meio inevitável para romper com a dominação da burguesia e impor a vontade do povo, mas essa deve ser feita de forma organizada, tática e/ou como defesa à ofensiva das forças repressivas.

Entretanto, nos perguntamos: qual é a diferença entre o “vandalismo” – falaremos desse termo mais adiante – cometido pelos fascistas e a tática Black Bloc ou a pixação, comuns entre anarquistas e comunistas?

Para responder a essa pergunta, precisaremos listar mais algumas particularidades dos atos antidemocráticos bolsonaristas.

Financiamento

Para nós, militantes de movimentos populares, sempre foi claro que por trás da farra golpista havia um grande esquema de financiamento. Já para nossas atividades políticas, frequentemente alugamos ônibus, carros de som, compramos água e mantimentos e muitas vezes nos endividamos para que nossa luta aconteça.

No dia 08 de janeiro cerca de cem ônibus cheios de bolsonaristas entraram em Brasília em direção à Praça dos Três Poderes, todos devidamente uniformizados em verde e amarelo e com bandeiras do Brasil. Antes disso, durante o início da operação de desmonte dos acampamentos ordenada pelo presidente Lula, foi constatado que os golpistas recebiam valores em torno de 50 reais por dia, tinham churrasco, água, remédios e primeiros socorros, recebiam treinamentos de defesa pessoal em caso de confronto com a polícia e haviam pessoas armadas fazendo ronda durante a noite. Os próprios bolsonaristas declararam inúmeras vezes sua gratidão ao “pessoal do Agro” pelo apoio à intentona golpista.

Forças Armadas

Além do financiamento pesado, a jornada antidemocrática contou também com a participação direta de oficiais da ativa e da reserva das forças armadas. Quando a intervenção policial começou, tardiamente, um coronel do Exército devidamente identificado e uniformizado se colocou como mediador, tentando acalmar os agentes de segurança e decidir quem seria levado ou não, como mostram os vídeos divulgados. Nos quartéis, militares do Exército tentavam a todo custo proteger os fascistas, chegando a afrontar diretamente os ministros Flávio Dino, Ministro da Justiça, e Rui Costa, Ministro da Casa Civil.

Fora dos holofotes o Alto Comando do Exército, que moveu nos últimos anos um grande esquema de operação psicológica para radicalizar a tendência fascista que a burguesia tanto precisa, desafiava diretamente a autoridade do recém-iniciado governo. O agora senador e antigo vice-presidente general Hamilton Mourão (Republicanos/RS) defendeu publicamente o que parece ser a posição do comando das FFAA, acusando o Partido dos Trabalhadores (PT) de “honrar suas raízes marxistas-leninistas” – mesmo tendo plena consciência de que o marxismo-leninismo nunca passou de uma tendência interna com pouca expressão dentro do partido -, pela prisão de parte dos golpistas.

Mais que prejudicar a opinião pública sobre o PT, o chamado Partido Fardado evidentemente deseja se aproveitar da situação para fomentar o anticomunismo na classe trabalhadora, criando fantasmas sobre as bases teóricas revolucionárias do proletariado.

Vista grossa

É nítido que os acontecimentos e os desdobramentos da tarde do dia 08 são consequência de um projeto muito bem elaborado, que envolve a já citada operação psicológica, que possui, inclusive, um manual resumido que pode ser encontrado na internet e praticamente gabarita o comportamento de seita dos fascistas, mais de quatro anos de prevaricação sobre as ameaças de Bolsonaro à democracia e seu saudosismo à ditadura militar, os mais de cem pedidos de impeachment ignorados e a negligência com o alerta da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), organismo filho do Serviço Nacional de Informação da ditadura, sobre o risco de invasão à sede dos três poderes.

Diante de tudo isso, não há como negar que a maior diferença entre o que se chama de vandalismo fascista e a ação direta revolucionária está na relação da justiça burguesa e sua tolerância com cada projeto ideológico. Enquanto os comunistas e os anarquistas precisam andar à beira da clandestinidade para denunciar nos muros a dor do nosso povo, ocupar edifícios abandonados e irregulares perante à lei e lutar por direitos e qualidade de vida, os fascistas gozam da liberdade quase absoluta de atentar contra a vontade da maioria, divulgar mentiras, espalhar discursos de ódio, eleger parlamentares e até colocar um falso padre integralista nos debates presidenciais.

Se muito, perdem suas contas em redes sociais ou são levados amigavelmente à detenção após atirar granadas em policiais e fazem escândalo nos grupos bolsonaristas, acusando serem vítimas de uma ditadura. 

O projeto ideológico fascista, que pretende suprimir o máximo de direitos possíveis e instaurar a ditadura mais sanguinária e banditista dos muito ricos contra a classe trabalhadora, ressurge com o apoio massivo dos capitalistas sobre a asa do neoliberalismo proposto por Bolsonaro, Paulo Guedes e seus generais.

Assim, cabe a nós, comunistas, para além de criticar o método que os fascistas utilizaram, denunciar e educar nossos iguais sobre os perigos do fascismo, a quem serve a miséria da maioria da população e principalmente a quem serviria uma ditadura militar no Brasil.

Temos como tarefa primária fazer com que a nossa luta se encaminhe para a inversão da ordem política, colocando os trabalhadores no controle dos meios de produção e no centro das decisões que nortearão nosso país, transformando a atual ditadura da burguesia (democracia burguesa), na democracia do povo, com um Governo Revolucionário dos Trabalhadores.

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